Capítulo 2

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O maldito chá da tarde havia começado.

Mulheres nobres de todo o país reunidas em um só lugar. Aquele só podia ser o inferno.

Bebi um longo gole da minha xícara de chá, eu precisaria de mais três para me acalmar.

— Dormiu bem, Lady Neva? A senhorita não está com uma cara boa.

Levantei o olhar para a pessoa que ousou conversar comigo, mesmo eu tentando me esconder embaixo do guarda-sol de uma mesa afastada do tumulto de saias coloridas.

Era Lady Isabela Santiago.

— Precisaria de mais algumas horas de sono para me recuperar cem por cento — respondi a contra gosto.

A morena sorriu, sentando ao meu lado.

Isabela vinha de Nova Paz, um estado que fazia fronteira com o meu. Ela era a mais baixinha das selecionadas, e tinha a pele dourada, que combinava com seus cabelos longos e ondulados tão escuros quanto a noite. A mulher era realmente linda, e sabia usar roupas que valorizavam seu corpo curvilíneo, pois naquele dia trajava um vestido vermelho justo nos lugares certos, mas elegante em um todo.

— Não seria nada mal. Minha cama não queria me largar hoje — brincou. Não consegui segurar a risada.

Comigo foi a mesma coisa.

Minha criada sofreu para me tirar debaixo das cobertas, e para pentear meus cabelos que pareciam um ninho de passarinho castanho claro, e para me convencer a entrar no vestido florido ridículo que eu estava usando naquele momento. Mas no fim, lá estava eu, toda arrumada para o maldito chá da tarde.

— A senhorita deveria ir conversar com as outras ladys. Ouvi dizer que a melhor amiga do príncipe veio para o chá — a encorajei a me deixar sozinha.

— A Duquesa de Cronx? Já conversei com ela, é uma mulher muito educada, uma pena que ficou viúva cedo.

E então ela finalmente começou com os assuntos chatos sobre a nobreza que realmente não me interessavam. Estava demorando para isso acontecer.

— Vou pegar um pouco de sol — falei me levantando.

— Tem certeza? Vai acabar ficando com ainda mais sardas no rosto, e talvez até se queimar.

— Eu não me importo.

Quase dei de ombros, mas acabei me segurando muito para não o fazer, e então me afastei.

Não fui parada por ninguém enquanto caminhava pelo jardim, o que se tornou um alívio. Isabela também não voltou a me importunar, embora eu tenha apreciado os primeiros segundos de nossa curta conversa.

Eu não estava lá para fazer amigas e nem mesmo casar, pretendia ir embora o quanto antes. Não me importava de ser a decepção de Crestel, como meu pai adorava me chamar. Se eu tivesse que ser solteira para sempre, que assim fosse.

Parei em um espaço silencioso do jardim, onde não havia nenhuma nobre tagarelando sobre bailes e vestidos caros.

Meus pés estavam sobre um círculo de pedra envolto por grama, arbustos e flores. Algumas árvores também compunham o ambiente, e a luz do sol que passava por entre suas folhas deixava uma aura mágica no ar. Parecia um jardim encantado.

Logo à frente, o imponente muro de pedra do palácio me privava de ter contato com o exterior. A sua altura fazia eu me sentir segura, como se nada pudesse passar por cima dele. Eu esperava mesmo que não.

Me sentei em um banco de pedra no limite do círculo. Aquele era mais um dos ambientes tranquilos do palácio que eu precisava lembrar de voltar.

Ela não é PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora