Capítulo 3

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Mattia não estava brincando quando disse que a rotina do castelo era cansativa. E, sendo uma selecionada, eu podia afirmar isso com mais certeza ainda.

Quando acordei no dia seguinte ao chá da tarde, fui direcionada para um café da manhã igualmente tumultuado, pois as visitas iriam embora logo após o almoço. É claro que as jovens nobres que não foram selecionadas não perderam a oportunidade de chamar a atenção do príncipe, mas não obtiveram sucesso.

Por algum motivo, naquela manhã Príncipe Jun estava focado em outra coisa, os cannolis em seu prato. E aquilo só poderia ser uma espécie de provocação, pois não havia tais doces em mais nenhum prato da mesa.

Ok, definitivamente era uma provocação, das mais baixas que existem.

Finquei o garfo em um pedaço de pudim no meu prato, e o levei com um pouco de força demais à boca. Do meu lado, Isabela me observava curiosa.

— Dormiu bem, Lady Neva?

Agora ela me perguntaria isso todos os dias?

— Como uma princesa — ironizei.

— Pensei que tal título não a agradasse, senhorita.

Minha mão congelou no ar, o pedaço de pudim escorregando de volta para o prato.

Eu, assim como todas as selecionadas, olhei para o príncipe surpresa com sua intromissão na conversa.

— De forma alguma eu depreciaria um título tão honroso, Alteza.

— Está me chamando de mentiroso?

Ouvi algumas risadas femininas, mulheres loucas para acabar com minha imagem na frente do príncipe.

Engoli em seco.

— Jamais o ofenderia dessa forma — falei cautelosa, demonstrando que aquilo não era uma brincadeira.

A expressão dele continuou impenetrável.

— Acredito na senhorita — disse por fim, levando um cannoli à boca e o mastigando enquanto me encarava.

Aquele maldito estava jogando esse tempo todo!

A raiva que me acometeu deve ter ficado transparente em meu rosto, pois um brilho de diversão passou pelos olhos do príncipe, o mesmo que presenciei no dia anterior.

Voltei a espetar meu pudim com ainda mais força, deixando Isabela tão confusa quanto no início de nossa conversa.


**


Na hora do almoço, consegui inventar uma desculpa de que não me sentia bem e não poderia comparecer à refeição. Como resposta, recebi em meu quarto uma bandeja do que foi servido, e um cannoli.

Franzi o cenho e afastei a bandeja para longe.

— A senhorita não está com fome? — Nadja, minha criada, questionou ao me ver afastar a comida.

— De repente a perdi — menti.

A verdade era que eu não queria cair na provocação de Jun, mesmo não sabendo se aquele cannoli era ou não obra dele.

— No que está pensando, senhorita?

— Hm? — perguntei distraída — O que disse?

Nadja riu.

— Tenho certeza de que estava a pensar no príncipe — falou com um sorriso malicioso no rosto. Eu nunca a vi sorrir daquele jeito, era assustador.

Ela não é PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora