estou um pouco cansado

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Caminhamos pela areia, andamos de teleférico, achamos um bom restaurante para comer e — o mais importante — nos saímos muito bem em fazer tudo isso fingindo que nada havia acontecido. Mas é claro que passei a maior parte do tempo revivendo aquele beijo e até agora não estou conseguindo colocar meus pensamentos em ordem.

Nós nos beijamos. O sol da manhã foi testemunha desde o início. Ele assistiu tudo, desde quando começamos a correr pela areia, até o instante em que não houve mais volta. E ele sabe dos detalhes. Escutou nossas risadas, nossas provocações, os sons baixinhos e manhosos que deixou escapar durante o ósculo. Temos nossas roupas sujas de areia como evidência, mas a verdade é que eu não acreditaria no crime se não fosse pela lembrança vívida do seu gosto em minha boca, do toque quente da sua língua, da maciez dos seus lábios.

— Está ficando tarde — ele diz. — Quer voltar?

Não, não quero. Estou imensamente incomodado. Faltam respostas. Quero saber se gostou tanto quanto eu gostei. Se podemos repetir, ou se foi um acidente. Teremos que passar a nos proteger para que não ocorra novamente? Porque Wooyoung parece se recusar a falar alguma coisa e também notei que ele está distante fisicamente, como se tivesse receio de me tocar. Caso arquivado.

— Não podemos ficar mais?

— Eu tenho uma proposta pra fazer — lá vem.

Sempre fico alarmado quando ele inventa essas coisas, porque não dá para ter a mínima ideia do que está por vir. É como se — ao mesmo tempo — ele pudesse dizer tanto um "vamos achar uma loja de souvenirs" quanto um "vamos voar de asa delta".

— Podemos comprar roupas e passar mais uma noite no hotel — eu faço cara de quem não entendeu foi nada, mas ele continua. — Só para aproveitarmos a piscina aquecida.

— E se buscarmos nossas roupas em casa? — não quero que ele continue gastando dinheiro comigo.

— Ninguém nos seguiu até aqui — diz. — Se voltarmos, podem nos ver.

— Não sei — eu hesito, mesmo morrendo de vontade de passar mais tempo com ele. — Você fica pagando tudo e eu me sinto mal por isso.

Conforme andamos pela calçada, Wooyoung observa as lojas ao nosso redor e tenta me convencer de que não há nada demais em deixar que ele pague as coisas, mas que se eu fizer tanta questão assim, posso pagar o vinho que vamos beber mais tarde. Do vinho, ele já começa a falar sobre o que podemos comer no jantar, e é assim que ele me arrasta até uma loja de roupas e começa a separar algumas peças. Pegamos o necessário e seguimos de volta para o hotel.

Ele escolhe um quarto com apenas uma cama de casal dessa vez e eu quase o impeço, porque fico nervoso com a ideia de dormirmos abraçados. Certo, nós fizemos isso de ontem para hoje, mas ainda não tínhamos nos beijado. Agora é diferente, completamente diferente. Tenho certeza de que Seonghwa vai cismar que estamos aqui para transar e isso me faz questionar certas coisas. Se meu amigo tem tanto pavor que eu faça isso na casa dele, ele também não deve dormir em hotéis, certo? Porque, sério, a quantidade de gente que já deve ter feito sexo aqui deve ser bem alta. Melhor eu nem ficar pensando muito sobre isso, ou vou começar a ficar com nojo dessa cama.

Vestimos as bermudas e regatas que ele comprou, deixamos nossos pertences no quarto e descemos o elevador em busca da piscina aquecida carregando apenas toalhas. Quase não acredito no que vejo quando finalmente entramos no salão. São três paredes de madeira e a outra toda de vidro, com vista para um lindo jardim de inverno. O piso em volta da piscina quadrada é todo em pedra.

— O que achou? — ele pergunta e eu abro um enorme sorriso.

— Acho que foi uma ótima decisão — como não seria? — Não tem mais ninguém aqui e a água parece deliciosa.

morning sun • woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora