Depois da água, acabamos achando um mercado e eu peguei logo um pacote de biscoitos com desenhos de coalas que nunca provei, mas tem recheio de baunilha, então deve ser bom. Mas essa foi a desculpa perfeita para que Wooyoung enchesse o carrinho com diversas outras coisas que ele cismou que eu tinha que experimentar. Não é possível que ele esteja achando que vou mesmo aguentar comer tudo isso.
Já é noite e lamento por isso, porque eu realmente estava afim de assistir ao pôr do sol ao lado dele, enquanto apenas desfrutamos da companhia um do outro. Mas podemos fazer isso outro dia, certo? Se ele não sumir da minha vida tão rápido quanto apareceu... Essa possibilidade faz meu coração se encolher de pavor, diminuir, apertar. Recolho-me dentro de mim mesmo, pois sinto que pode machucar. E agora, enquanto estamos em um lindo gramado, sentados numa toalha de piquenique vermelha que ele comprou no mercado, sussurra próximo ao meu ouvido que já devem estar loucos atrás dele, depois me olha com ar de riso. E arrepia-me até a espinha ouvir essa frase, por isso acabo rindo junto, de tanto nervoso.
Meio que caiu a ficha de que ele pode estar fugindo não da máfia, de Jun ou do pai, mas sim da polícia. Descartei a hipótese de que ele seria um psicopata quando cuidou tão bem dos meus ferimentos, mas percebo que não fui tão a fundo nessa teoria. Quero dizer, talvez faça parte de todo o ritual de conquistar a presa, para depois se satisfazer ao vê-la tentar fugir e lutar pela própria vida. É o que os psicopatas fazem, não é? Começo a suar frio quando olho ao redor e não vejo ninguém. Estamos sozinhos no meio do nada. Meu coração acelera como um tambor se ajustando à batida de uma música perto de chegar ao seu auge. Há gramado e árvores para todos os lados e não sei voltar para onde está movimentado. Eu teria forças para tentar? Ele é tão bom no que faz, que nem percebi que estava sendo trazido para um lugar do qual sequer sei como fugir. E ele se aproxima, segurando-me pelos braços. Embaçado. Está tudo embaçado e distorcido. Tento empurrá-lo para longe, usar toda a minha força, mas falho. Meus pulmões gritam por ar. Tudo se apaga.
Mergulho na sensação de paz que o som das ondas me proporciona, trazendo calmaria pro meu coração antes atormentado. Estou sentado em frente ao mar, enquanto brinco com a areia fina sob os meus pés. Wooyoung está ao meu lado aqui nessa praia deserta, mas apesar de confuso, não sinto medo. Na verdade, estou começando a achar que morri, porque ele está todo de branco, com um pequeno ramo de flores em suas mãos. Flores lilás, assim como seus cabelos. Ele se vira para mim e sou capaz de enxergar uma imensidão de sofrimento em seu olhar.
— Eu sinto muito — seus olhos enchem-se de lágrimas. — Deixe-me tentar novamente.
Quero confortá-lo, mas não encontro uma forma de responder, uma vez que não sei do que ele está falando, tampouco o que estou fazendo aqui. Não estávamos no gramado? Como viemos parar aqui? O que foi que eu perdi?
Puxa-me para um abraço e eu simplesmente vou me aconchegando ali, agarrado ao seu corpo. A vontade de fugir se esvaiu completamente, como se tivesse sido levado pelo vento forte que agora bagunça nossos cabelos. Desejo que esse mesmo vento leve embora todo o seu sofrimento, pois machuca-me profundamente vê-lo assim. Sufoca. Apoio a cabeça em seu ombro só para que meu nariz fique colado em seu pescoço e assim eu possa entorpecer-me com seu cheiro, porque é o melhor que já senti.
— A culpa é toda minha — pela voz fraca e falha, sei que ele está chorando.
Distribuo beijos por sua pele quentinha como se já conhecesse o caminho tão bem quanto conheço a necessidade que sinto de fazer isso. E ele deve ter deixado as flores de lado, porque agora suas mãos estão em mim, bem firmes em minha cintura. Eu enxugo suas lágrimas. E daí que eu não sei o que diabos está acontecendo? Preciso aproveitar cada segundo desse momento.
— Wooyoung — sussurro, confuso com o fato de que agora seu corpo está por cima do meu. — Não foi culpa sua.
Ele, então, retribui meu gesto, enxugando as lágrimas que nem percebi que estavam escorrendo pelo meu rosto. Por mais inexplicável que seja, são lágrimas de felicidade... Eu. Estou. Feliz. E, enquanto tenho meu olhar fixo ao dele, percebo sua expressão mudar para algo que não sei como explicar, mas parece desespero. Toca as laterais do meu corpo como se quisesse verificar se estou mesmo aqui, se sou real. Quero fazer o mesmo, porque não creio que ele seja real, mas meu corpo não me obedece. Deveria tocá-lo com cuidado, com o propósito de averiguar se estou ou não delirando. Não assim. Não, eu não deveria estar deslizando as mãos pela sua cintura com tanto desejo, porque fica parecendo um gesto extremamente sexual, como se eu o instigasse a se mover aqui, rebolar bem aqui, em cima do que já está entrando em estado de rigidez para chamar atenção.
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morning sun • woosan
Fiksi Penggemaronde San Choi não passava de um universitário em sua primeira viagem ao exterior. onde Jung Wooyoung, cheio de mistérios, teve ajuda de um estrangeiro que nunca tinha visto em sua vida durante um momento em que não esperava. SPOILER ALERT: estou esc...