não sou o que pensa

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— Não vou enfiar minha mão aí — protesto. — Vai arder.

— Não seja fresco — Wooyoung revira os olhos e tenta me puxar, mas eu resisto. — Precisamos limpar isso.

— Estou bem assim — afasto-me.

— Você está agindo feito uma criança, San — fala com irritação, conforme se aproxima.

Dessa vez, acabo me convencendo. Não pelas palavras, mas porque ele segura meus pulsos de maneira delicada e os acaricia com os polegares, enquanto me olha com preocupação. Deve estar se sentindo culpado, então talvez seja melhor eu deixar que ele lave logo meus machucados. Mas se doer muito, saio correndo desse banheiro e sumo, assistam-me.

— Quando eu terminar, vamos até a farmácia — ele passa sabão nas minhas mãos com bastante cuidado. Como eu já esperava, arde, mas não reclamo.

— Wooyoung, eu só ralei as mãos — Eu o observo através do espelho, enquanto ele seca as próprias mãos e depois vem secar as minhas, concentrado em não me machucar. — Vou sobreviver. A gente não ia conversar?

— Você saiu correndo — Cruza os braços e se apoia na bancada, de costas para o espelho. — Vai me dizer o motivo?

— Você — finalmente, o encaro. — sussurrou algo no ouvido da garçonete, depois perguntou o que eu achava dela e... Por acaso ela é acompanhante? Você é cafetão?

Ele leva uma das mãos à boca para abafar o riso. Sério, estou prestes a perder a paciência, porque não tem graça nenhuma. Nenhuma.

— De onde tirou isso? — percebo que ele está se esforçando pra não voltar a rir. — Ela dá em cima de mim sempre que venho aqui. Apenas fui educado ao pedir que ela nos respeitasse.

Wooyoung faz uma pausa e eu não sei ao certo o que dizer, então permaneço em silêncio. A verdade é que estou completamente envergonhado pelas coisas que pensei e fiz. E nem ao menos tenho coragem de me explicar, porque além de soar ridículo, creio que não serei compreendido.

— San, você achou que eu tinha pedido pra ela colocar alguma coisa na sua bebida — ele fala em tom de surpresa e isso faz parecer que é absurdo, mas como eu poderia confiar cegamente nele?

— Então, por que me perguntou o que eu achava dela?

— Curiosidade — dá de ombros. — Eu já disse que você deveria ter visto a sua cara, não disse? Foi engraçado. Mas aí você resolveu ir embora do nada e parecia estar morrendo de medo.

— Eu achei que você fosse cafetão — confesso. — e que estava me oferecendo uma acompanhante ou algo parecido com isso.

Ele volta a rir, agora de um jeito menos escandaloso, enquanto vem chegando perto de mim. Entretanto, sinto que esse pode ser o momento em que perco toda e qualquer chance de ter a amizade dele. Vamos combinar que eu não sou uma pessoa tão interessante assim e, se ele chegou a pensar que eu era, já deve ter concluído que se enganou. Ele vai dar o fora, sei que vai. Só queria me esconder.

— Você não precisa ter medo de mim — ergue meu queixo com uma das mãos, obrigando-me a olhá-lo. — Não sou o que pensa.

Sai do banheiro, fechando a porta e me deixando sozinho. Logo em seguida, também saio, sem saber se devo ir atrás dele ou não. Porque se for tudo coisa da minha cabeça, ele deve estar se sentindo bastante ofendido. Foi como eu me senti quando ele achou que eu fazia parte do plano do cara que o ameaçou. Vou tentar alcançá-lo, é isto.

Quando estou prestes a procurá-lo pelo bar, Wooyoung praticamente surge na minha frente, tão perto e rápido que não sei dizer de qual canto veio. Precisava mesmo me assustar desse jeito? Perdi até o foco, já estou querendo xingá-lo ao invés de tentar reverter a situação na qual estamos.

morning sun • woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora