peço que confie em mim

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A cabine tem dois bancos, um de frente para o outro, mas a benção vem sentar bem do meu lado. Não que eu esteja reclamando, mas é que acabo ficando nervoso ao estar tão perto dele depois de ter sentido aquela atração estranha. Preciso ficar sóbrio e agir naturalmente antes que ele perceba, mas assim que puxam as travas de segurança — por impulso — seguro sua mão.

— Está com medo? — olha-me com preocupação.

— Não, é que — a frase fica incompleta, não sei como justificar o que fiz.

Fico sem graça, tento me soltar, mas Wooyoung entrelaça os dedos nos meus e aperta levemente, como se dissesse, em silêncio, que tudo bem estar com medo. Ótimo, melhor do que ele pensar que fiz por querer.

— Eu não sou criminoso, muito menos cafetão — suspira, depois inclina o rosto em minha direção.

 — Isso você já disse — dou de ombros.

— Apenas peço que confie em mim — sinto sinceridade em suas palavras, mas não sei se consigo confiar.

— Foi estranho você perguntar da garçonete — ele desvia o olhar e ri, mas nada diz. — Vocês tem alguma coisa?

Wooyoung continua rindo e, mesmo com vontade de dar um murro na fuça dele, acabo rindo junto.

— Não, San, eu nem — acho que ele desiste do que ia dizer, porque meneia a cabeça e dá um suspiro, depois muda de assunto como se nada tivesse acontecido. — Preste atenção nessa vista.

O brinquedo entra em movimento e, como não quero estragar o momento, deixo o assunto sobre a garçonete morrer. Olho através do vidro enquanto tudo vai ficando distante. As luzes da cidade se destacam, tudo tão lindo e calmo. Viro para Wooyoung com um sorriso no rosto e também recebo um sorriso de volta. E o melhor de tudo é que ele não parece estar se divertindo pelo passeio em si, mas sim em ver minha reação, já que não tira os olhos de mim e depois ainda pede para tirar uma foto.

Hesito ao vê-lo inclinar o corpo para trás com o celular nas mãos, mas acabo fazendo pose. Em seguida, ele une a lateral do rosto ao meu e também tira algumas fotos nossas. Peço que depois me mande, pois será uma boa recordação desse nosso encontro singular. Sério, não sei lidar com o fato de que estamos juntos na roda gigante depois de eu ter corrido feito um desesperado e ele ter se jogado, literalmente, em cima de mim.

Quando guarda o celular, segura minha mão de novo e só solta após me ajudar a descer da cabine. Sou grato por isso já que, apesar de não ter vomitado, continuo um pouco tonto.

— O que quer fazer agora? — questiona.

— Você tem hora pra voltar? — no fundo, não importa o que vamos fazer, só quero passar mais tempo com ele.

— Não — ele sai andando e eu o acompanho. — Você tem? — meneio a cabeça negativamente. — Vamos achar algum lugar para sentar, então.

Acabamos nos acomodando em um banco de uma praça que acabei de conhecer e não faço ideia de onde fica. Estou vendo a hora que vou me perder nesse lugar.

— Tem certeza de que não é perigoso ficarmos aqui? — olho para os lados, desconfiado.

Ri e eu concluo que ele deve me achar um idiota por ser tão medroso. Talvez ele esteja sendo tão solícito por eu ser o tipo de amigo tapado que o diverte. Desejo que, em algum momento, ele veja que sou muito mais do que isso, embora algumas vezes eu mesmo duvide ser, até porque nesse exato momento estou com os olhos na parte do parque onde mais tem mato, imaginando que alguém pode sair de lá e nos atacar.

E o que me surpreende mesmo é quando Wooyoung resolve virar o corpo no banco e se deitar, acomodando a cabeça justo no meu colo. Eu fico sem saber o que fazer com as mãos, porque agora ele está deitado aqui e não posso facilmente tocar nele.

morning sun • woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora