Tomioka V

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Ele o perdeu. Seu rastro desapareceu. Mesmo tendo circulado a área duas vezes, nada achou. Foi estranho, mas não havia muito mais que ele pudesse fazer sobre. Resignado e um tanto frustrando, ele seguiu seu caminho.

O som de asas o distraiu, quando ergueu seu olhar, um familiar corvo pousou em um galho próximo. Por um momento ele ponderou, tendo agido por impulso e não obtendo nada, de qualquer forma, seria melhor fazer Ubuyashiki-sama ciente da presença de uma lua. Ele precisava de papel e tinta, em especial, deveria aproveitar o resto do dia para descansar um pouco, logo a noite cairia novamente.

Seu retorno a cidade foi sem intercorrência. Uma vez lá, ele voltou a pousada, onde conseguiu uma boa refeição e os objetos necessários para uma nota breve, esta sendo entregue ao corvo que logo se afastou. Quando ele se deitou sobre o futon, o sono veio rapidamente, graças a longa noite e o cansaço inerente, isso afastou os pesadelos.

Foi um barulho rítmico que o despertou, o quarto estava escuro, pela janela, a brisa noturna esfriou o quarto, a lua já alta no céu adiante.

- Craw, craw, mensagem para Tomioka Giyuu! Mensagem para Tomioka Giyuu!- Foi só então que ele notou a plumagem escura do corvo, havia sido ele a causa do barulho, suas bicadas.

Em resposta, ele se levantou, estendendo seu braço, para onde o corvo voou, pousando. Não havia nenhuma mensagem amarrada ao animal, com isso, ele aguardou em silêncio, em incentivo para que o outro prosseguisse.

- Tomioka Giyuu, deve retornar a mansão! Uma reunião de pilares, foi convocada! Craw!

Não foi inesperado. Em apenas dois anos, uma lua desconhecida, havia feito mais aparições que nos últimos séculos.

Quando ele deixou a pousada, já passava muito da meia-noite, a senhora que administrava o lugar, o aconselhou a esperar, mas era desnecessário. Como caçador, seu trabalho se dava sob o manto da escuridão, de qualquer forma, ele já estava acostumado.

Ajustando sua respiração, em certo momento, ele correu, não desejoso de fazer os verdadeiros pilares esperar. Estando atento ao seus arredores, pronto para qualquer abordagem hostil, o grito que rompeu pela noite, inevitavelmente, tomou sua atenção.

- D-demônio!!

Foi toda a explicação que ele precisou, antes de acelerar seus passos, com sua palma repousando sobre o cabo de sua espada. A primeira coisa que notou, foi o corpo caído, o sangue se espalhando pelo chão em uma grande poça, logo, a mulher e a criança, ambas com expressão de terror, com hematomas recentes deformando suas expressões. Então, seu olhar pousou sobre o culpado, uma mão revestida por vermelho, as vestes que sempre esteve limpas em seus encontros anteriores, estavam bastante gastas, manchadas de mais sangue, mechas carmesim se soltaram do coque que mantinha seu cabelo preso, a pele estava mais pálida.

Por sua incompetência, mais um humano perdeu a vida. Se ele fosse mais forte, se ele tivesse matado aquele demônio como era seu dever, aquele homem ainda estaria vivo. A raiva esfriou seu sangue, ele segurou com mais firmesa o cabo de sua espada, a sacando. Surdo para as palavras que o demônio dirigia a mulher, ele respirou.

- Ichi no kata: Minamo giri.

Sua lâmina cortou o vazio, contudo, forçou o oni a se afastar. Curiosamente, ele notou a desconexão em seus movimentos, pareciam mais lentos, perdendo um pouco da graça que sempre demonstrou. Tomioka, se pôs protetor a frente da mulher e criança. Seus olhos buscando uma abertura.

O demônio não tentou lutar, ele apenas desviou. Mesmo que estivesse mais lento, ainda era rápido o suficiente para escapar ileso, isso encheu o caçador de frustação.

- Bem, caçador-san, vejo que chegou em boa hora. Eu os deixo com você, sim? Agora, eu vou indo.- O oni sorriu, acenando. Tomioka não demonstrou, mas como vinha acontecendo desde que o conheceu, algo o pertubou. Aquele sorriso estava errado, havia algo por trás do olhar lilás.

O demônio se afastou, fugindo, ele estava pronto para segui-lo, certo de cumprir seu dever dessa vez. O choro da mulher e da criança, foi isso que o deteve e logo havia pequenas mãos agarrado seu haori, quando ele baixou seu olhar, a criança o fitava com falsa bravata, ele pode ver o medo ainda muito presente.

- Não o mate, ele nos salvou!- A pequena gritou.

- Ele matou esse homem.- Foi sua única resposta.

- Ele nos mataria! Ele mataria minha mãe! Ele era um monstro!

Franzino as sobrancelhas, ele deixou seu olhar varrer sobre todo o cenário. Aqueles machucados que cobria a pele da mulher, nem todas eram recentes.

-Aquela coisa, ainda é um demônio, ele matara outras pessoas, é meu dever detê-lo.

Estranhamente, aquelas palavras, pareciam tentavam convencer mais a si mesmo que a menina o segurando.

- Vou levá-las a cidade.- Ele ainda tinha uma reunião para ir, discutir com a criança, levaria mais tempo.

Ele guardou sua espada e só então, a menina o soltou. Por um momento seu olhar se deteve sobre o corpo do homem, não havia nada que ele pudesse fazer, com isso, logo se abaixou, tomando a mulher trêmula nos braços. Ela estava em choque, ele a levaria aos cuidados de um médico local, garantindo a segurança da criança ao mesmo tempo.

- Venha.- Ele acenou para que a menina o seguisse e ela o fez, mesmo que não tivesse parado de chorar um segundo, durante todo o caminho.

O sol já havia nascido quando ele deixou a casa do médico. O usuário da água apreciou a quentura matinal, quanto o astro subia mais no céu. Pensando sobre o que aconteceu, seus passos pararam abruptamente, quando uma epifania o tomou.

Não havia kanjis naqueles olhos lilás, tão focado em seu objetivo de desferir um golpe, ele havia sido incapaz de se atentar a tal detalhe. Sua posição como zero superior se foi, o que aquilo deveria significar? Ele temeu a resposta para aquela questão.

Lágrimas Ininterruptas (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora