Kokushibou I

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Desde a primeira vez que o viu, ele o ódio.

O menino que carregava aqueles brincos malditos, aquela marca, aquela respiração. O menino que o fazia lembrar de sua única falha, sua incapacidade de vencer à aquele homem, a quem uma vez chamou irmão.

Então, Kokushibou o desprezou, pois o menino era fraco, ainda que pudesse segurar uma lâmina nichirin, ainda que usasse a mesma respiração de sol. Kamado não carregava a mesma força a qual ele desejava superar. Foi inútil, apenas o relembrando, mais uma vez, de seu único e maior arrependimento, o que mais ansiou e lutou para ter, agora além de seu alcance.

Ele culpou o oni mais jovem, o culpou por fazê-lo novamente remoer aquela maldição humana, aquelas recordações que se recusavam a desaparecer, como todo o resto. Então, ele o esmagou, o cortou e o viu sangrar, impiedoso e de forma alguma satisfeito.

Kokushibou o teria matado, ele queria tê-lo matado, mas Muzan-sama tinha outros planos, assim, ele não contrariou quando Kamado foi apresentado como zero. Depois, ele esperou, ele observou. Ele sempre soube que Kamado havia sido um erro, saber de sua traição, em nada o surpreendeu. Em realidade, se ele fosse qualquer outro, teria suspirado de alívio, pois finalmente, iria por fim aquele fantasma que o assombrava.

Quando Muzan-sama o convoca, suas ordens são claras.

- Mate Kamado Tanjiro.

Ele não entende porque aquela ordem demorou a chegar, em especial depois da queda de Akaza. Mas ele não diz nada, sequer permite seus pensamentos irem muito além daquele ponto. Muzan-sama tinha suas próprias tramas, ele sentia que Kamado, era apenas uma parte delas.

Refazer os passos do menino, leva tempo, há muitas coberturas, os traços são antigos em sua maioria. É interessante descobrir seu envolvimento com os caçadores, mas também é uma decepção saber que o mesmo havia partido. Em outro momento, ele poderia voltar e limpar aquele refúgio de seus inimigos, por enquanto, ele segue em seu rastro.

Duas noites mais tarde, ele o sente. É recente, está oculto por algum tipo de feitiço, isso não o impede. A mansão escondida é um antro de traidores, guiados por idealizações desprezíveis. Assim, ele a destrói, fácil, como esmagar uma formiga.

O menino é o primeiro a se mostrar. O desprezo que sente cresce ao ver aquela aparência, ao assisti-lo desembainhar sua lâmina negra. Kokushibou o odeia. Matá-lo é pessoal.

- Kamado Tanjiro, você morrerá hoje.- Seu tom frio e certeiro, acompanha o balanço de sua lâmina.

O menino tem aquele olhar, um que permanece enraizado em sua mente, isso lhe faz ver alguém que não está realmente ali. Quando eles se movem, o fogo de sua lâmina, ilumina suas luas, tendo suas respirações em foco. O choque das lâminas os impulsiona. Aqueles brincos se agitam, seu olhar não muda, a lâmina ganha um tom de vermelho. Kokushibou irá garantir que qualquer vestígios daquele fantasma, sejam destruídos quando isso estiver terminado.

- Você é fraco, não deixe -se iludir por sua antiga colocação.- Kokushibou diz.

Você não é ele, é o que ele não diz, é o que mais o atormenta.

Ele faz de suas palavras reais ao aplicar uma nova forma, onde sua lâmina cresce, rasgando aquelas vestes verdes e mais, o fazendo sangrar.

Aquela dança pode se estender pela a eternidade, pois lutas entre demônios é inútil, ambos continuaram a se regenerar e ele entende que esse é o principal motivo pelo qual foi dado o posto de zero ao menino. Afinal, o mesmo, foi a única exceção aquela regra. Assim, para cumprir com suas ordens, Kokushibou se contentou em despedaçá-lo, forçando sua capacidade de regeneração, o fazendo incapaz de partir antes que o sol nascesse.

- Não vou morrer aqui.- O menino está dizendo, sangue corre por entre seus dentes, seu braço decepado crescendo.- Não para você, um simples fantoche daquele desgraçado.

Kokushibou não se deixa levar por suas tentativas de provocação, ele é um guerreiro há muito tempo para cair em algo tão supérfluo.

- Kekkijutsu!- O menino grita, quando o fogo em seu sangue se ergue voraz.

Suas habilidades são inconvenientes, queimando o que seu mestre comanda, ele não pode se deixar engolir por aquilo. Aquele fogo impede suas feridas de se curarem imediatamente, como é devido. Em retribuição, ele corta e corta, mesmo quando outros insetos se juntam ao confronto entre onis, Kokushibou não recua, pois para ele, é irrelevante.

O menino tenta ganhar distância, para curar as inúmeras feridas, sua regeneração tentando acompanhar a quantidade crescente de dano. É inútil, mesmo a distâncias, seus ataques o alcança, nada o impediria, ele treina por século, muito antes do menino se tornar um oni.

O céu está mais claro, aquele era o momento. Sem mais restrições, suas luas perfuram ao caçador, o lançando longe, em seguida ele faz o mesmo a menina oni, então, Kamado recebe toda sua atenção. Suas vestes agora são um amontoado de trapo carmim, ele mesmo deve estar em estado semelhante, sua pele ainda arde de suas queimaduras. Kamado melhorou, mas não o suficiente, Kokushibou ainda o superava.

Quando o sol surge, a lua superior um já havia partido. Onde antes havia uma mansão, há escombros, fumaça e sangue. De seu abrigo nas sombras, Kokushibou observa, pois ele não é nada mais que meticuloso.

Os raios de sol caem sobre o menino, seu corpo está se remendando, há lágrimas em seus olhos, sua mão estendida em direção a menina demônio, rogando para que ela procure abrigo. Não muito longe, o caçador vêem correndo em seu socorro, muito lendo, inutilmente, pois logo haverá apenas cinzas, nenhum oni sobreviveria ao astro que toma o céu. Então, o tempo passa e nada foge de sua visão.

Kamado Tanjiro não queimou, ele sequer tenta se ergue para buscar um abrigo ele mesmo, indiferente a ameaça ardente. Agora, ele continuar se curando, não importa quantos minutos passem, ele ainda está lá, vivo. O sol aquece seu corpo, reflete em sua lâmina manchada, faz os malditos brincos mais nítidos no brilho da manhã.

Uma nota ecoa, a fortaleza se revela e Kokushibou a adentra. Muzan-sama o havia convocado mais uma vez.

Lágrimas Ininterruptas (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora