Foi quente, era familiar, mas ainda sim, estranho. Quando deixaram a cela subterrânea, o cheiro de água parada, mofo e terra lhe assolou, um odor preferível ao picante das glicínias. Agora, sob o sol, ele não pode deixar de parar, hipnotizado por aquele luz que a tanto pensou ter perdido.
Rengoku parou a frente, havia outros dois lá o aguardando, um era a jovem caçadora que o drogou, seu olhar cortante e seu sorriso, uma máscara de seus reais sentimentos. O outro rosto lhe era familiar, ele o encontrou em mais de uma ocasião, nenhuma delas acabou positivamente. Era esperançoso da sua parte, esperar que dessa vez fosse diferente? Provavelmente.
- Oh! Que surpresa, não esperava vê-lo.- Tanjiro o cumprimentou, apreciando o olhar frio e azul que o fitava com atenção.
- Devemos continuar, Ubuyashiki-sama nos espera.- Foi a resposta, seu tom impassível.
Tanjiro só pode sorrir pela dispensa, ainda que suas expressões não passassem tanto, o oni ainda tinha um ótimo olfato.
- Você nunca me disse seu nome. O meu é Tanjiro Kamado, o seu?- Ele insistiu, quando os caçadores se agruparam ao seu redor.
A resposta não veio de imediato, eles já haviam iniciado seu percurso, quando a voz baixa e fria, o respondeu.
- Tomioka Giyuu.
- Hashira da água, suponho, tendo visto suas técnicas anteriormente.
Fazia um bom tempo que ele não se portava tão tagarela, porém, como ele continuava a lembrar, as coisas deviam mudar, que fosse um passo por vez. Para seu azar, entretanto, nenhuma das suas companhias estavam muito abertos a diálogos, ele podia sentir a tensão, assim como ver na postura mais rígida, no aperto ao redor das lâminas, no olhar atento. Era esperado, a confiança não viria do nada, isso se viesse.
Sua caminhada não durou muito, mas ele a apreciou, quando o sol ainda era uma experiência nova de certa forma. Novas árvores de glicínias se ergueram, os cercando e Tanjiro não pode deixar de prender a respiração, as flores não o mataria, mas ainda eram um incômodo. A casa para a qual foi guiado carregava uma estrutura clássica, abdicando das novas adições tragas com a modernidade em desenvolvimento. Tinha um belo jardim, ele observou também. Aquele lugar lhe trazia certo conforto e um toque de nostalgia, ao mesmo tempo, o fez mais triste, o sonho cutucando uma ferida que ele mal cicatrizou.
- Venha, a reunião será dentro.- Rengoku falou, seu tom bem audível.
- Ah bem, é uma pena, o dia está bonito.
Tanjiro notou o olhar de relance lançando pelo Pilar da água e a careta mal disfarçada na outra caçadora, deveria ser estranho para eles um demônio apreciando tanta luz. Bem, toda aquela situação o divertia um pouco, o tipo de diversão um pouco mal vista, mas o que ele podia fazer, tendo séculos de raiva e lágrimas, seu senso de humor devia de estar bastante comprometido.
- Talvez fosse melhor darmos uma dose de glicínias a ele.- A caçadora falou, quando Rengoku subiu e começou a deslizar a porta.
O loiro pareceu ponderar por um segundo, mas não foi ele a responder.
- Ubuyashiki-sama, disse que não era mais necessário.
Pelo curva nos lábios dos outros dois, Tanjiro estava bem certo de que a decisão não os agradou muito.
- Bem, então me despeço aqui.
- Obrigado, Kocho-san.- Rengoku preferiu.- Seu trabalho foi excelente, Kanae-san estava certa, você realmente é incrível.
A caçadora cantarolou em apreciação, havia um leve quê de contentamento em seu aroma, varrendo um pouco a raiva que estave presente desde a primeira vez que ele a viu. Se mantendo em silêncio, como se o assunto da conversa não tivesse sido ele, observou a caçadora oferecer uma leve reverência aos pilares e um olhar afiado a ele, antes de se virar e partir.
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Lágrimas Ininterruptas (Concluída)
Fiksi PenggemarTanjiro já havia sido muitas coisas, filho, irmão, caçador. Alguns, ele agradecia, outros, veio pela necessidade. Havia também, aqueles que lhe foi imposto. Os caçadores não sabiam, mas a verdade era, não existiam apenas doze luas, um mais poderoso...