Tomioka VII

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No início, Tomioka o ouviu por sua própria curiosidade, em uma tentativa de sanar as questões que o oni continuava a criar com suas ações ou a falta delas. Ele sempre foi um bom ouvinte, dificilmente se envolveria em longos diálogos e jamais iria se dispor a ser um narrador.

Tanjiro era um tagarela, inicialmente ele falou sobre qualquer coisa, por menor que fosse, como a lua, a cigarra, o cheiro de glicínias. A primeira vez que revelou algo pessoal, foi quando a neve começou a cair, ele parecia melancólico e seu olhar estava distante, como se estivesse em outro lugar e tempo. O hashira esperou um conto triste, ele recebeu uma lembrança querida, de uma famílias com muitos irmãs e pais cuidadosos. Depois desse momento, Tanjiro contínuo a compartilhar memórias como aquela, mas ele nunca falou do seu tempo como caçador e principalmente, como um kizuki. Tomioka, só poderia especular seus motivos e ele não sabia o que pensar, pois aqueles motivos se assemelhavam, em partes, aos mesmos que o fez distante dos outros pilares, o pondo como um fracasso indigno.

A verdade era, ele não saberia dizer quando mudou, quando deixou de ser apenas curiosidade e tornou-se algo mais, algo ao qual ele não podia dar um nome. Assim como não era bom em se expressar, também falhava ao sondar e dar sentido ao seus próprios sentimentos e conflitos internos. Muitas vezes ele iria remoé-los e continuariam um mistério, em especial agora, sem um menino de cabelos pêssego que costumava, literalmente, socar algum sentido nele.

Em última análise, Tomioka não o ouvia mais apenas para juntar informações, ele gostava de ouvi -lo, assim como gostava das noites em que passavam em completo silêncio. Era perigoso para um caçador admitir, mas ele gostava da companhia daquele oni.

Quando o treinamento foi apresentado, ele não hesitou, mesmo ciente das implicações negativas, se tudo aquilo desse muito errado. Entretanto, o sorriso de Tanjiro, deixou seu peito estranhamente quente e qualquer possibilidade de erro, se dissipou.

Tanjiro era um excelente professor, ele não foi condescendente e o levou ao seu máximo, sem contudo, ser cruel. O fogo em sua lâmina era hipnotizante, por mais de uma vez, Tomioka se perdeu em seu brilho. Suas práticas, mais pareciam uma dança, as quais, rendeu vários hematomas e a sensação de contentamento. Desde então, seu sono foi tranquilo e os pesadelos se afugentaram.

Foi com um cutucão forte em suas costelas que ele foi capaz de se recuperar, levantando seu olhar do ex-kisuke que treinava e o levando, a pequena mulher de sorriso afiado. Ele não a ouviu chegar, sequer a notou, por mais que Shinobu fosse graciosa em seus passos, aquela havia sido um deslize atípico dele.

Hoje era seu dia de guarda, depois de uma breve conversa, Tanjiro havia se afasto para praticar, desejando manter uma rotina que havia desenvolvido nesses últimos tempos. Houve um convite para que o hashira se juntasse, mas Tomioka não era a favor de abandonar seu posto e prontamente recusou.

Observando Shinobu agora, ele se sentia um pouco arrependido.

- Né, você parecia distraído, chamá-lo não adiantou.- Ainda sorrindo, ela piscou para Tanjiro, antes de voltar -se para ele novamente.- Creio que tenha achado algo muito interessante.

- Hm.- Foi sua reposta amplamente elaborada.

- Ara, é por isso que ninguém gosta de você Tomioka-san, talvez isso mudasse se melhorasse um pouco suas respostas.- Ela cantarolou.

- Tanjiro gosta.- Ele não sabia dá onde viera aquilo e seus olhos, mostraram sua supresa quando assimilou as palavras, que de supetão, deixou escapar.

Vergonha o fez sentir a bochechas mais quente, o olhar mais afiado que recebeu o fez querer fugir. Ao mesmo tempo, ele se repreendia, era equivocado de sua parte assumir tais alegações, mas a lembranças de sorrisos tão calorosos o deixava incerto.

- Oh meu, você tem uma queda.- Aquele sorriso estava lá novamente, quando ela acrescentou, parecendo muito entretida.- Você está tão perdido Tomioka-san.

E de fato, ele estava. Em todos os sentidos.

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Ele estava atrasado, sua convocação se deu há horas, contudo, seu velho corvo havia se perdido algumas vezes antes de o encontrar. A residência principal está calma, cuidada e acolhedora. Dessa vez, não é as gêmeas a recebe-lo, mas a própria esposa do mestre.

Tomioka é guiado a um quarto, no futon acolchoado no centro, repolsa Ubuyashiki-sama. Como caçador e pilar, ele é rápido em reconhecer e cumprimentar aquele que os lidera, oferecendo seu respeito e prece por uma rápida recuperação.

- Sou grato, você pode se erguer meu filho, mas perdão, creio que não poderei lhe oferecer uma receptação melhor.- A voz do homem contínua suave, seu efeito é imediato e o hashira, não pôde deixar de se sentir mais tranquilo.

- Não é necessário, estou aqui a disposição, creio que seja uma nova missão?- Tomioka fala ao sentar, agradecendo com um aceno o chá, oferecido pela mulher que o acompanhou.

- Em partes, o que pedirei é um pouco diferente. Dentre os hashiras, você foi o único a aceitar treinar com Tanjiro Kamado, agradeço seus esforços.- Lembrar do oni, traz alguma inquietação a Tomioka, sensação que logo é afugentada, quando Ubuyashiki-sama continua.- Mais uma vez, peço que confie em mim, desejo que escolte Kamado-san ao encontro de uma velha amiga. Ela é um caso especial, durante grande parte de sua vida, tem se dedicado a criação de uma cura e algo me diz que Tanjiro deve conhecê-la.

Tomioka está surpreso, ele nunca ouviu falar de algo assim, nunca sequer pensou na possibilidade de uma cura, e isso o faz se questionar, se com isso, Tanjiro poderia conseguir algum alento, uma forma de afugentar aquele olhar melancólico e distante que continuava a acompanhar, mesmo as lembranças mais queridas. Uma parte mais egoísta, deseja que a cura seja real, deseja que Tanjiro a aceite para que ele possa viver, para que possam continuar a serem amigos, mesmo quando aquele acordo de cooperação findar.

- Sim, eu acetarei acompanhá-lo.- Não há outra resposta possível, ele confia no mestre.

Quando mais orientações são dadas e ele parte, seu peito está apertado, um misto de sentimentos o oprime e sua opinião não mudou. Ele estava perdido, como nunca antes, mas dessa vez, uma estranha determinação o faz prosseguir, certo de que se continuar, terá o que busca, por mais que não sabia dizer o que...

Lágrimas Ininterruptas (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora