Lágrimas Ininterruptas (Concluída)

Tomioka VI

Era uma comoção.

Naquela manhã, quando seu velho corvo tropeçou para dentro de sua casa, caindo desajeitado ao seu lado, ele não esperou nada como aquilo. Cuidadosamente ele desenrolou a mensagem, seu olhar deslizando pelas poucas palavras contidas lá.

"O lua superior zero foi capturado."

No momento seguinte, ele estava deixando a propriedade da água, seu chá inacabado sobre a mesa, seu corvo ainda esparramado no chão. Ele tentou manter seus passos medidos, mas foi inevitável não se apressar. As palavras ainda se repetindo em sua mente.

Para ele, tendo presenciado uma parte do poder daquele onni, era difícil acreditar em tal notícia. Quando mais pensava sobre, mas lhe parecia ter sido proposital. O que levantava outras questões, como, por qual motivo? Mesmo não estando de fato presente, aquele ser continuava a confundi-lo, o que não lhe agradava ao mesmo tempo que lhe intrigava.

Não foi surpresa encontrar a sede mergulhada em agitação, vozes elevadas e tensão permeado o ar. Ubuyashiki-sama já estava lá, cercado pelos demias pilares, com exceção de Rengoku, ele reparou ao se aproximar mais. Shinazugawa, não surpreendente, parecia ser o mais agressivo em seus questionamentos e oposição, fosse o que fosse, discutido até aquele ponto.

- Devemos matá-lo, é a porra de um Kizuki, preso ou não, ainda é um demônio. Um ser traiçoeiro.- Shinazugawa esbravejou, suas feições alteradas e a postura tensa.

- Deveríamos pelo menos ouvi-lo, essa é a primeira vez que tempos tal oportunidade, pense em todas as informações que poderíamos conseguir.- Kanae argumentou.

- Nada garantiria que suas palavras são verdadeiras, poderia muito bem ser uma armadilha.- Shinazugawa persistiu, Obanai pareceu concordar.

Aquele discussão parecia ter se iniciado há um tempo, pela exaltação presente, Tomioka dúvida que fosse terminar tão cedo. Em parte ele concordava com o Pilar do Vento, aquele capturado era um Kizuki, ou foi. Confiar em um demônio, já era bastante questionável, alguém como Zero, por outro lado, parecia mais arriscado do que poderia valer a pena. Mas... Ele não pode deixar de lembrar as inúmeras vezes em que o demônio poderia tê-lo matado e ainda sim, não o fizera.

O silêncio abrupto tomou sua atenção, afastando seu debate interno. Ubuyashiki-sama pedia silêncio, seu olhar cego fixo a frente.

- De acordo com Kyojuro-san, Zero não apenas derrotou duas luas, como protegeu os passageiros e negou um confronto com ele, tendo se rendido sem qualquer resistência real.- O líder começou, sua voz suave ao expor os acontecimentos.- Desde então, o mesmo está sendo mantido prisioneiro, não tendo revidado a qualquer intimidação ou mesmo a aplicação de glicínias ao seu sangue, com o intuito de enfraquece-lo.

"Não creio que está seja uma armadilha, não duvido que haja mais por trás das ações de Zero. Contudo, a oportunidade apresentada deve ser aproveitada, pela primeira vez em séculos, houve uma reviravolta que poderá nos levar a saber mais sobre Muzan e suas forças. Peço que acreditem em mim uma vez mais. Devemos ouvi-lo e só então, decidir o passo seguinte."

Um breve silêncio se fez, cada qual contemplativo quanto as palavras ditas, e o peso por detrás delas. Giyuu experimentou do mesmo, contudo, não tardou para que se visse inclinado ao pedido do líder, ele queria saber mais, haviam questões para as quais ele gostaria de respostas. Kanae e Mitsuri pareceram ceder igualmente, os demais, por outro lado, ainda se viam agitados e prontos para atacar.

- Perdão Ubuyashiki-sama, eu não concordo. É muito arriscado, deveríamos aproveitar a chance e matá-lo de uma vez.

- Shinazugawa está certo, se o deixarmos viver agora, não há qualquer garantia que ele não tentará algo assim que se ver liberto.- Obanai disse, a serpente espreitando envolta de seu ombro.

- Há um último detalhe a ser considerado, entretanto.- O líder revelou, seus olhos cegos voltando-se para o céu límpido, parecendo apreciar o toque do sol.- Zero se tornou imune ao sol.

Dessa vez, o silêncio durou por mais tempo. Tomioka se sentiu surpreso, aquela era uma notícia aterrorizante para o corpo. Um demônio com aquele tipo de poder, era essencialmente imortal, mesmo suas lâminas se tornavam inúteis. Agora, mesmo que eles decidissem pela execução de Zero, os meios para tal se faziam dúbios.

- Se aplicarmos veneno de glicínias o suficiente...- Obanai palpitou.

- Shinobu, minha irmã, relatou o comprometimento de seus estoques, ela pareceu um pouco frustrada. Agora sei por onde ela esteve e com quem, não acho que veneno vá funcionar, não mais.- Kanae relatou, a ausência de seu sorriso revelando sua preocupação.

Tomioka quase podia sentir a tensão permeando o ar, Shinazugawa apertava seus punhos com força, as veias salientes, em um silêncio resignado.

- Bem, este é certamente um demônio extravagante, vejamos o que tem a dizer.- Uzui bufou, não parecendo tão otimista quanto suas palavras.

Com instruções para retornar ao amanhecer do dia seguinte, os pilares se dispersaram, se despedindo com uma reverência respeitosa a Ubuyashiki-sama. Por uma razão além dele, Tomioka assistiu aos outros irem, pela primeira vez relutando em partir.

- Tomioka, tenho um pedido a fazer.

Os olhos azuis observaram ao líder, suas feições suaves, maculadas pela doença.

- Sim?

- Gostaria que se juntasse a Rengoku e Kocho, na escolta de Zero.

Não era um pedido surpreendente, seria arriscado confiar a segurança para um único hashira, mesmo dois. Zero estava sendo estranhamente complacente, quando suas ações mudariam, ninguém poderia imaginar.

- Farei como pedido.

- As gêmeas o guiará até sua localização.- Com aquelas palavras, ele viu as meninas de moverem, seus movimentos parecendo coreografados ao se aproximarem.- Um rosto conhecido, poderá metê-lo tranquilo.

Seus olhos azuis se demoraram um pouco mais sobre o líder, havia algo que ele não pode entender, estava oculto em seu olhar suave e tom. Ao se virar para seguir as gêmeas, entretanto, essa questão se perdeu, enquanto que uma estranha ansiedade fez seu estômago esfriar. Pela primeira vez, ele estaria diante de Zero sem que o mesmo pudesse fugir ou colocá-lo inconsciente. O que viria disso, ele só poderia supor.