Tanjito XIII

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Ele não vê Tomioka há dois dias e a inquietação que vem o incomodando, piora. Quando questiona Shinobu se soube de algo quanto ao pilar, ela sorrir e seu olhar o deixa impossivelmente pior.

Como hashira, ele deveria ter saído em missão, não era inédito, não havia motivo para nada daquilo que o perturbava. Tanjiro culpa a ociosidade, ele havia se acostumado as sessões de treino, era isso, com sua ausência, ele voltava a ter muito tempo livre. Então, ele consegue convencer as meninas da mansão a deixá-lo ajudar na cozinha. Foi uma boa experiência, havia muito tempo que ele não fazia nada como aquilo. Tendo sido o irmão mais velho, aprender a cozinhar havia sido uma necessidade, depois de tantos séculos, ele não esperava lembrar ou fazer algo comestível, foi bom saber que ainda poderia se desejasse. Mas como muito em sua vida, tudo acabou mal. Quando Aoi cortou a mão e o sangue verteu sob a tábua de corte, ele sentiu o monstro que era se revirar, fazendo a fome crescer dolorosamente, o cheiro encheu sua boca d'água e ele saiu tão rápido, que o ar se deslocou e balançou tudo lá dentro, deixando meninas assustadas.

Tanjiro se trancou em seu quarto, a respiração ofegante e seu estômago tão dolorido, como se ácido puro tivesse sido despejado ali. Ele se enrolou no chão, longe de qualquer feixe de luz, seus demônios quase físicos naquele ponto. Ele tinha esquecido como era aquela sensação. A dor, a culpa, tudo se revirando, fazendo a ferida maior, espalhando mais suas partes. Ter alguém ao seu lado, o tornou negligente, esperançoso, sonhador, estava errado, ele não podia ser assim, ele era um monstro.

Enquanto chorava, com o grito preso em sua garganta, ele lembrou-se do que ouviu certa vez. Havia dias bons. Havia dias ruins. Seus traumas, seus pecados, sentimentos e todo o fardo, nenhum deles iriam sumir milagrosamente, eles estiveram lá por muito tempo, estavam tão profundamente enraizados, que as vezes, pensava se um dia ele poderia realmente deixá-los ir, sinceramente, Tanjiro dúvida. Ainda sim, ele continuava a ansiar pelos dias bons, foi também o porquê dele não desistir, cerrar os dentes e continuar lutando.

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Ele acorda com uma batida suave, pelas manchas de luz que se infiltrar pelas frestas da janela, é dia. Sua vontade de se erguer ou mesmo responder, são nulas, ele gostaria de continuar lá, isolado, onde ninguém se machucaria por suas mãos ou por causa dele. O cheiro de chuva e brisa, húmido e quente, é o que faz entrar em ação. Tomioka esta lá fora, esperando, depois de dias de ausência, o ex-kizuki gostaria de vê-lo.

Se esticando, ele dá tapinhas em suas roupas, numa falha tentativa de melhorar os amassados. Na porta, ele se detem por mais uns segundos, passando as mãos no rosto, para dissipar qualquer rastro de lágrima ou mesmo, baba. Apresentável o suficiente, Tanjiro desliza a porta, bebendo da imagem do outro homem a sua espera.

- Onde você esteve?- Foi o seu cumprimento, de imediato ele se arrependeu, seu rosto esquentando de vergonha.

O pilar piscou algumas vezes, parecendo surpreso.

- Estive ocupado, terei que sair em uma missão mais longa, alguns arranjos foram necessários.- Depois de um tempo, Tomioka respondeu. Ainda era admirável, ouvi-lo falar tanto.

- Ah...- Aquela notícia o desanimou.- Você partirá logo?

- Podemos sair amanhã, se estiver bem para você.

- Estou indo também?- Tanjiro questionou, inclinando a cabeça levemente confuso.

- Iremos encontrar alguém a pedido do mestre.

Tanjiro gostaria que Tomioka fosse mais detalhista, ele está curioso. Quando propôs a cooperação, ele estava pronto para se ver confinado, sempre sob vigília. Sair em viagem, com um único caçador como companhia, o surpreendeu e levantou certa suspeita, foi inevitável aquela sensação.

Lágrimas Ininterruptas (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora