É sábado, Giyuu está distraído em frente a vitrine, seus olhos observam a variedade de doces e salgados como se a escolha fosse uma importante missão, Tanjiro apenas sorri, é fácil, é natural, é inconsciente. Ele gosta daqueles dias de paz, onde o peso do mundo se resume em escolher o que terão para o café da manhã.
Um ano já foi desde aquele reencontro no metrô. O início foi tão estranho quanto aquele séculos antes, tão cheio de questões quanto antes, ainda que essas fossem diferentes, eram carregadas de peso próprio. É difícil não se deixe levar pela nostalgia, é difícil não comprar o passado e o presente, é difícil não ter expectativas derivadas de uma outra vivência, leva tempo, meses, antes que ele consiga entender, aquele é seu Giyuu, mas também não o mesmo. A mesma alma, mas não os mesmos hábitos, a mesma história.
Ele não ama menos o homem que foi um caçador, carregado de feridas e lamentos próprios, que mesmo atormentado não hesitou em lhe seguir e salvá-lo de sua própria escuridão. Tanjiro sempre o amaria, essa era uma verdade incontestável, profundamente marcada em si. Ainda, ele ama esse Giyuu, o professor, que gosta de doces e assisti dramas históricos, aquele que cresceu acolhido por uma irmã amorosa, cercado de amigos que realmente se preocupavam por ele e estariam lá por ele, que não carrega o mundo nas costas, não atormentado por tantos traumas.
Foi Giyuu, era Giyuu, seria Giyuu. Tanjiro sempre estaria lá por ele, essa era uma outra verdade com a qual aprendeu a viver, com a qual ele nunca se arrependeu de escolher viver. Ele continuaria a se apaixonar por cada versão de sua alma, independente do curso, do lugar e tempo. Juntos eles enfrentariam suas crises, nunca seria só flores, ele era velho o suficiente para entender, mas isso já não o desanimava, um dia por vez ele viveria.
Distraído de seus pensamentos, a voz suave da atendente o desperta. Ele desliza seu olhar de Giyuu, para a mulher do outro lado. Faz muito tempo, ele esqueceu como era sua voz, a memória humana não retém como a demoníaca, ele já notou isso, ainda que lembre a essência do que importa, pequenos detalhes se perdem. Aquela não é sua mãe, mas como Giyuu, é sua alma, em outro tempo e lugar aquele olhar se suavizou com amor maternal, enquanto seus dedos quentes lhe afagava a cabeça. Ele sorri para ela, o peito apertado, é agridoce, ele não poderia voltar a ser seu filho nessa vida, mas ele ainda a ama, ele está feliz por vê-la, bem, saudável.
- Está tudo bem?- É Giyuu quem pergunta, a voz baixa quando Kie se afasta para preparar seu pedido.
Tanjiro acena, não confiante para falar, ele precisa de um momento para se reorganizar. O toque quente de Giyuu envolver sua mão, é um conforto bem vindo, o faz pertencer e não estranho, um fantasma de um tempo há muito passado.
- Aqui querido, muito obrigada pela compra, espero que goste.- Kie diz, estendendo uma sacola com pedaços de bolos embalados. Então seu olhar recai sobre Tanjiro, ela o fita por um tempo em silêncio, um sorriso suave enquanto diz.- Que estranho, sinto que já nos conhecemos.
- Sim, eu também.
Há mais um momento de silêncio, antes que o sino da porta o rompa. Uma adolescente e duas crianças entram, seus passos rápidos e suas bocas a tagarelar, é animado e as vozes o afunda mais em nostalgia, tristeza, saudade e felicidade. Kie desvia sua atenção dele para recebe-los, as crianças passam por debaixo do balcão, envolvendo as pernas da mãe, enquanto a adolescente para ao lado, seus olhos se voltado para ele e Giyuu, curiosa.
Antes que haja interação, subitamente ansioso, ele segura mais forte a mão de Giyuu, para puxá-lo para a porta. Velho ou não, há certos acontecimentos que demandam preparo, ele não acha que possa interagir com essa Nezuko, não agora, ele realmente não quer bancar o bebê chorão. Contudo, quando ela fala, ele não pode simplesmente ignorar, é o que o detém junto a porta já aberta.
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Lágrimas Ininterruptas (Concluída)
FanficTanjiro já havia sido muitas coisas, filho, irmão, caçador. Alguns, ele agradecia, outros, veio pela necessidade. Havia também, aqueles que lhe foi imposto. Os caçadores não sabiam, mas a verdade era, não existiam apenas doze luas, um mais poderoso...