Kanae I

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A primeira impressão que ela passaria a outro, seria de alguém frágil. Uma bela dama, com seu sorriso gentil e palavras suaves. O que eles não sabiam, entretanto, era que ela era isso e mais. Qualquer pretensão de uma vida normal morreu com seus pais, como caçadora, ela vivia um tempo emprestado, seu dever para com a humanidade e consigo, foi o que a fez se manter erguida, mesmo quando seus pulmões estavam a um passo do congelamento.

Ela poderia não derrotar a lua superior que adornava sua face com um sorriso irreal, contudo, ela ainda lutaria, como uma pilar, honraria seu dever. Sua dança com a lâmina foi mais lenta, sua respiração falhando e a todo momento, ele nunca deixou aquele repulsivo sorriso. O frio a estava destruindo, não importava o quanto ela se esforçasse, o ar que conseguia reunir, não era o suficiente para estabilizar seu corpo.

Quando ele a atingiu novamente, ela caiu, o impacto fez seus ossos gélidos parecerem vidro, quase os fazendo se estilhaçarem. Ela morreria ali, o seu maior arrependimento era Shinobu, como sua irmã era, Kanae estava certa de que a mesma procuraria vingança e esse caminho, só trazia mais desgraças. Ela mordeu os lábios ao ponto de sangrar, segurando as lágrimas ferozmente, não deixando o aperto ao redor de sua lâmina vacilar.

- Ainda não!- Suas palavras não passavam de um sussurro, deixando um gosto metálico no fundo da garganta.

Um último movimento, um desesperado. Ela sacrificaria sua visão, abdicaria de sua própria vida, nada a deteria, vencendo ou não, ela iria até o fim, dando o melhor de si e mais. Sua irmã não seria condenada a um destino tão cruel.

Levantar, foi o mais difícil. Seu corpo danificado protestava contra o próprio peso. Seu olhar deslizou pelo chão marcado por sangue, o coração bateu mais forte quando outro par de sandálias pousou inaudível. Um novo inimigo, mais um oni. O medo lhe esfriou ainda mais, outro em seu lugar, teria praguejado.

Aquele novo oni portava uma katana ao lado, parcialmente escondido sob as vestes de estampa quadriculada, em uma variação de preto e verde. Ele era mais baixo que a lua superior dois, seus fios de um profundo tom de vermelho. Brincos de hanafuda adornava cada um de seus lados, o mais assombroso, entretanto, foram seus olhos, por dois motivos conflitantes.

Ela nunca viu olhos tão tristes e estranhamento, bondosos. Diferente de seu outro companheiro oni, aquele recém chegado, não trabalhava para forjar falsas emoções e sentimentos. Por outro lado, ela era perceptiva o suficiente, para notar o que ele tão ferozmente tentava máscara por detrás da expressão fria e indiferente. O contraditório, se mostrava como dois riscos em seus olhos vermelhos com tons de lilás, ela pôde ler claramente o zero ali presente, o que levantava a questão: como poderia um ser como ele, sentir-se assim? Era eloquente.

Como que em transe, a pilar assistiu a interação entre os demônios, uma estranheza disfarçada de benção. Aquele pouco tempo concedido seria aproveitado, Kanae foi rápida em tentar regular sua respiração, ignorando o frio, preparando -se para o movimento seguinte.

- Tanjiro-kun!- Douma exclamou, uma falsa animação tomando sua voz.- O que faz aqui? Estou tendo um divertido entretenimento essa noite!

Tanjiro não pareceu satisfeito com a familiaridade, seu olhar cruzou com o do outro, o peso de sua presença fazendo-se mais palpável, uma ameaça fantasmagórica que gela o sangue. Foi com diversão sombria que a caçadora viu o lua dois recuar, o sorriso sumindo, o corpo tenso, ele quase parecia realmente sentir algo ali.

Medo.

- Venha! Temos uma missão.- Tanjiro preferiu, antes de acrescentar, seu olhar tornando-se mais afiado.- Douma, se preza sua miserável existência, não esqueça seu lugar ou...- Naquele ponto, Tanjro pareceu compartilhar a mesma diversão maliciosa com que a pilar foi apreciada.- Você, deseja desafiar-me?

Os olhos de arco-íris se abriram mais, Douma, foi rápido em cuvar-se, o corpo rigido, como em prontidão para fugir.

- Não, jamais, Tanjiro-san!

Zero pareceu apreciativo, sua palma deslizando pelo cabo de sua espada, Kanae quase podia vê-lo, sem arrependimento, decapitar o outro. Para sua infelicidade, não aconteceu. Tanjiro se virou, ainda indiferente a presença dela. Com o início de sua partida, ela viu a tensão abandonar Douma e então, aqueles olhos multicores estavam sobre ela novamente. O seu tempo havia acabado, mas ainda sim, estranhamente, ela era grata pelo pouco que conseguiu, agora seu corpo já não estava a um segundo de desmoronar, esperançosamente.

- Podemos compatilhá-la, antes de partirmos.- Sua fachada irreverente, estava novamente lá, para o seu desgosto.

Tanjiro não se deteve, ele sequer lhe poupou um olhar.

- Não tenho interesse pelos seus restos. Não ouse me fazer esperá-lo, o sol logo sairá.- Foram suas últimas palavras, e então, ele não estava em lugar algum.

Como havia surgido, ele se foi.

- Que pena Pilar-chan, nossa brincadeira terá que continuar em outro momento. Tanjiro-san, pode ser bem assustador, não acha?- Não uma pergunta que se esperava ser aprecida por uma resposta, pois antes que ela pudesse retrucar, Douma também se lançou em retirada.

Por um instante, ela ponderou sobre os perseguir, mas falharia, seu corpo permanecia erguido por pura força de vontade, sem o perigo eminente, a adrenalina baixava, o tremor voltava e ela desabava. Intencional ou não, zero a tinha salvo. As lágrimas finalmente rolaram, incapaz de suportar mais, ela as deixou vim entre soluços.

Os primeiros raios quentes a lhe tocar, aliviaram o frio persistente. Não muito depois, ela ouviu a irmã. Seus toques pareciam brasas, felizmente, Kanae se deixou envolver por ela, grata por ainda poder apreciar sua presença.

Lágrimas Ininterruptas (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora