O nascimento

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~23 de maio 1990

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A sala de cirurgia estava clara e cheia de médicos, a agonia era presente. O medo e a aflição também. Tratava-se do embate por uma vida. Uma gravidez de risco! Uma senente de esperança estava em jogo. Naquele momento, anjos, santos e, com certeza, demônios goravam por um parto bem sucedido.

A mulher sentia muita cólica, as dores a faziam delirar, parecia até que a criança se recusava a sair. O mundo conspirava, ele não queria, sabia que seria um problema, mas não era forte suficiente para vencer os escalados de Deus. 

O marido dela estava ali o tempo todo, lhe oferecendo palavras de conforto. É isto que espera-se de um companheiro nestas horas. O mínimo ele fazia bem.

-Vai ficar tudo bem, querida. -Ele estava tão apreensivo quanto a mulher. -Você tem que ser forte.

Era a filha deles quem estava chegando. Um sonho se realizava. Foram muitas tentativas sem sucesso. Ela já fecundara um óvulo antes, mas o feto morreu cedo de mais. Há quem diga que aquilo foi apenas o preparativo, para que suportasse quem viria depois.

-Vamos conseguir. Você está aqui comigo! -Respondeu ela com o tom mais esperançoso que conseguira naquele momento.

Os médicos retiraram o corpinho que aparentava um anjo de dentro do ventre da mãe - o nascimento é um dos mais bonitos fenômenos que ocorre no mundo mundano.

Uma das enfermeiras estava segurando a criança e falando do quanto ela era linda e saudável. Alguns dos médicos atrás dela sussurrou  -Achei que não iriamos conseguir. -Estér ouviu aquilo, mas não deu atenção. Estava tudo bem agora.

-Bem vinda ao planeta terra, Jully. -Falou Estér ao receber seu bebê no colo. -Ela é tão linda, tem os olhinhos do pai.

-E o sorriso da mãe. -Atirou-se Breno para pegar a filha. -Oi, Jully, eu sou seu papai...

A felicidade se espalhou rapidamente. Eles beijavam a testa da filha, faziam carinho. Era tudo o que eles se importavam no momento.

Mas, claro, este não podia ser um nascimento ordinário, precisava ser memorável, impactante e principalmente poderoso. Era o que queriam os deus mais antigos que esta terra já conheceu. Em minutos
toda aquela felicidade se transformou em desespero. No plano místico era beleza.

Jully tremia, era medo misturado a raiva. Estava tendo algumas convulsões.  Os médicos espantados retiraram a criança do local as pressas. A menina revirava os olhos, era como a um choque elétrico, tremia, suava como goteira, estava ardendo em febre. A chance de vida de um bebê recém-nascido com todos esses problemas de saúde era de 1%.
E pensar que há minutos atrás ela não apresentava nenhum sintoma, mas um lapse de segundo endireitou aquela reação.

O tempo começou a fechar, o frio poderia afetar mais ainda o estado da menina. Uma forte ventania passou pelo hospital, arrancando janelas e espalhando destruição em toda parte. O bebê não parava de contorcer-se. Os médicos estavam tentando de tudo, não havia motivos lógicos para a reação de Jully. Duvidosamente a competência dos médicos poderia salva-la naquele momento. Tudo piorava com a chuva forte que caía sobre a cidade, e pior eram os trovões que deixava a criança ainda mais assustada. Relâmpagos clareavam o ambiente que só possuía a energia produzida por geradores, era um desastre atrás de outro. O temporal durou apenas cinco minutos, e neste meio tempo as redondezas do hospital não existiam mais.

As casas destelhadas, quebradas e derrubadas pela ação do vento. Era um desastre natural, que começou bem na hora do nascimento de Jully. Aquela era as boas vindas.

O tempo abriu, a chuva passou tudo se acalmou. Junto Ao temporal, a guria voltou ao seu estado normal. Foram feitos alguns exames, e todos comprovaram sua saúde em estado perfeito. INEXPLICÁVEL.
Depois de uma semana já estavam liberados. Não passou de um susto. 

(...)

Já em casa o casal apresentava o quarto ao bebê. Era de um verde abacate, com adesivos na parede, prateleiras cheias de ursos de pelúcia, o teto forrado por um papel de parede com desenhos de nuvens, o chão era acolchoado para a segurança da criança quando crescesse. Como se ela fosse precisar. O berço era de madeira, com alguns detalhes que lembravam flores.

Jully gostou do lugar, observava tudo, parecia gente grande. Mas ela estava quieta demais, e com os olhos arregalados, oque não é normal para nenhum bebê com alguns dias de vida. Ela permanecia assustada, seu olhar parecia enxergar através da alma. Fixava em seus pais, e era como se fosse capaz de culpar-lhes de seus pecados. Era tenebrosa a sensação que a pequena transmitia.

Sua primeira noite de sono em casa. Jully dormia como um anjo, não deu nenhum trabalho, se não por algumas tossidas na madrugada.

-Cuff, cuff.... Cuff, cuff!!!

Estér foi analisar a criança, mas no máximo ela apontava para a mãe. E observava profundamente como sempre fazia. Estava tudo realmente bem, nenhum motivo aparente pela tosse do bebê.

Mas Jully estava na verdade tentando se comunicar... Sabe-se lá com quem...

Jully [COMPLETO] {Reworking}Onde histórias criam vida. Descubra agora