A pequena sala de recepção cabia apenas uma mesa de escritório, um armário de ferro para guardar fichas e coisas do tipo, um ventilador de teto que girava rapidamente, e duas cadeiras para os "convidados".
Depois de muito tempo de espera, dois homens apareceram para atender Estér, um era o delegado, homem já de idade, com um bigode estiloso e o outro era um policial que estava ali para testemunhar a denuncia. Depois de tudo estar explicado, depois de indicar os suspeitos e detalhar o caso, doa quem doer, a justiça deve ser feita.
-Ok senhorita, sua denuncia foi realizada. As investigações começaram hoje mesmo. Investigaremos todos os suspeitos e testemunhas. Não se preocupe, encontraremos sua filha.
-Obrigado policial, isso me conforta um pouco, pelo menos sei que alguém vai me ajudar. –Respondeu Estér, e em seguida saiu da delegacia, tendo a certeza que nada daquilo realmente a ajudaria.
Ao chegar em casa percebe que o silêncio de antes poderia estar ainda maior sem Jully. Ursúla ainda não havia chegado, era cedo demais para isso. A solidão a acompanhava, o sentimento de culpa também era "amigável".
A culpa é minha! ela pensava. Deveria ter prestado mais atenção nela. Mas agora lamentar não vai me ajudar em nada, preciso encontra-la.
Repentinamente um filme invadiu a mente da mulher. Estér começou a lembrar-se de quando vivia em Bruthy, do quão feliz, da quão travessa, e da quão curiosa ela era. Veio também à lembrança de sua avó ensinando-lhe magias e feitiços escondidos da mãe, pois dona Elen não queria continuar a geração das bruxas de Bruthy. Ela era muito poderosa, mas não queria envolver as filhas num mundo tão perigoso, onde magia é o mais simples elemento.
O pouco que aprendeu com a avó, poderia sustenta-la em qualquer guerra mágica, pois os principais feitiços da Estér eram de defesa. Já estela foi ensinada a ser o ataque, em outras palavras, as duas foram treinadas para ser uma dupla "perfeita", más infelizmente hoje são inimigas.
Em meio a tantas pessoas, sobrou apenas a barreira, mas que agora também será o revidar, é como dizem, a melhor defesa é o ataque, ou vice e versa. Quanto mais demorar em agir, mais tempo demorará em encontrar Jully, só Deus sabe onde essa menina foi parar, e com quem foi parar. Jully também é bruxa, mas na idade dela não seria capaz de sair por aí sozinha, ela mal sabe andar. Mesmo que tenha aquela outra parte da história... Mas isso não pode estar acontecendo desde já. Ou pode?
-Já sei oque fazer, farei um feitiço de rastreamento. –Pensou a mulher. –Isso tem que dar certo, vai dar certo, tem tudo para dar certo.
-O que tem que dar certo senhora? –Úrsula questionou ainda segurando a maçaneta da porta.
Estér assustou-se.
-Desculpe se te assustei senhora. Mil perdões. E desculpe pela curiosidade. Já estou indo fazer meus serviços –Úsula continuou com a cabeça baixa. Pediu licença e retirou-se.
Estér suspirou aliviada. Não precisou responder nada, ainda bem.
As bruxas de Bruthy era uma associação formada por sete mulheres e por um único homem. O nome permaneceu feminino, por que antes apenas existiam mulheres capazes de utilizar plantas como remédios medicinais, ou "invocar partículas brilhantes, coloridas pelos raios solares". Mas de uns tempos para cá, o gênero estava tornando-se inverso, a existência de feiticeiros, magos e bruxos aumentavam ao decorrer dos séculos. Mas tornaram-se anônimos com o fim do coven de Bruthy.
Não seria necessária uma Ascenção do clã para que as bruxas ainda existentes usassem seus poderes, até porque Bruthy foi fundada há poucos anos atrás, já na era tecnológica, por isso os integrantes usavam magias próprias, sem a intervenção da natureza, pois acreditava-se que um dia chegaríamos a não ter mais a mãe natureza, e elas deveriam estar prontas para viverem num mundo poluído por partículas brilhantes, coloridas pelos raios solares.
Estér foi até seu quarto, oque de agora em diante seria seu escritório de pesquisas.
Ela começou com a tentativa de rastrear a filha. Quando treinava junto a sua avó, aprendeu o feitiço de rastreamento, assim como Estela. Ambas eram colocadas em lugares diferentes da cidade, por meio de tele transporte realizado pela avó. Com isso, precisavam se encontrar usando a técnica. Na época usavam o vidro de relógio como gerador de um holograma planificado, elas precisavam de fios de cabelos para conseguir resultados. E Estér tinha cabelos de Jully, assim como fazia antigamente, colocou os fios cabelos da filha dentro de uma sacola mágica, uma que nunca poderia ser aberta, nem mesmo por ela, assim os cabelos não sairiam voando por aí. Fez isto há muito tempo atrás, apenas por precaução, e hoje é de grande valia.
Estér estava com os materiais prontos. A sacola mágica que continha o cabelo da filha, e um relógio de parede para poder transmitir o "mapa" em maior escala. Apoiou o objeto circular deitado sobre a mesa, e aconchegou o saquinho entre as palmas das mãos. Elevou os braços a cima do relógio, gerando uma conexão entre tempo e matéria. Estér focalizou magia nas mãos, emitindo uma luz fraca do interior delas.
- Incantation horologium!
Os ponteiros e números do relógio cintilaram ao transforem-se em "água", o vidro de relógio funcionava agora como uma cúpula protetora, negando a passagem do líquido. Tudo estava devidamente feito, más nenhuma imagem refletia na água, nem mesmo o próprio rosto de Estér. Isso não significa que o feitiço deu errado, não poderia ser isso, pois tudo aconteceu como deveria, ainda existe magia em Estér. A verdade é que Jully está com outra bruxa, e ela está bloqueando qualquer feitiço do tipo. E a única pessoa que vem a cabeça de Estér é Estela.
A campainha tocou, reforçando a ideia de desistência da mulher. Ela esperou que Úrsula atendesse, e que viesse comunicar quem era. Mas quando a empregada chegou, apresentou-lhe uma carta e retirou-se do quarto.
Mais uma carta, mais uma bendita carta. O único motivo por tudo que estava acontecendo. Mas não era bem assim, seria bem pior, se elas não existissem nada disso estaria acontecendo. Oque seria desta vez? Será que ela ajudaria também sobre o paradeiro de Jully? Oque ainda tem a ser descoberto? Estér estava apreensiva demais, não pensou duas vezes e abriu o embrulho.
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Jully [COMPLETO] {Reworking}
FantasíaA história de uma menina que desde o nascimento mostrou-se poderosa. Em um mundo normal, mas mágico. De realidade e fantasia. Hope you like it