Tata se apresenta

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Depois daquela "porta" havia uma sala de recepção muito bem decorada, com papel de parede recheado de traços curvos, o fundo rosa puxado à cor de pele e os detalhes marrons quase verdes lodo; sofás super confortáveis; uma lareira acesa; abajures ligados; chão de madeira; teto quase imperceptível por conta do "escuro", pois não havia janelas ali.

                Estér permaneceu parada, na carta dizia que Tata saberia que ela estaria ali, então com certeza viria recebê-la.

                Minutos depois a rocha/porta que estava atrás dela fechou-se sozinha, tornando tudo ainda mais escuro, porém agora o ambiente era um pouco mais mágico. Alguns vagalumes apareceram para decorar ainda mais a sala. Posicionaram-se nas partes mais escuras e ficaram movimentando-se lentamente.

                A mulher decidiu olhar algumas obras fixadas nas paredes pra passar o tempo, estava tudo muito chato e quieto. Ela até pensou em não esperar mais e adentrar os cômodos, porém preferiu usar a educação que "sempre" teve. Havia dois quadros, um deles era uma pintura de um unicórnio branco com asas aladas em meio a uma floresta encantada. O outro era um misturado de animais, cachorro, gato, elefante, girafa, rinoceronte, tigre, cobra e um macaco. Eles foram pintados apenas nos decalques de suas formas, o fundo era preto e os contornos dos animais brancos com efeito azulado, o que fazia lembrar espectros desses bichos, como o do pug que Estér viu correr para debaixo da mesa.

                Ela estava em pé de costas para um dos sofás, o menor deles. Depois de terminar de observar as pinturas virou-se e viu uma mulher sentada na poltrona/sofá. Seria a misteriosa Tata observando a mulher? O divã ficava num canto com pouca claridade, mas seria muito difícil Estér não reconhecer a própria irmã.

                O clima tenso dominou o lugar, se estivessem fora da casa correria risco de ocorrer um dilúvio de raiva.

-O que você está fazendo aqui? – perguntou Estér franzindo a testa.

-O que você acha querida? – disse Estela erguendo uma das sobrancelhas.

                A primeira coisa que a mãe desesperada pensou foi que Estela era Tata, que ela havia roubado Jully e agora queria tirar sarro dela. Mas isso não poderia ficar assim, estavam frente a frente, momento perfeito para iniciarem um acerto de contas.

                Estér partiu para cima da irmã puxando-a pelo braço e jogando-a ao chão, subiu em cima dela e puxou-lhe os cabelos. Estela não baixou a guarda e fez o mesmo.

-O que você está fazendo sua ridícula? – Estela que não entendia nada, tentou retirar a "rival" de cima dela a fim de "terminar" aquela discursão, mas Estér não parava de bofeteá-la, fazendo que com que ela fosse obrigada a se defender. Juntou os pés e empurrou a "inimiga" contra a parede.

Estér levou uma forte pancada nas costas e teve dificuldades para se levantar.

-Sua vaca! – rugiu de raiva e correu na direção da irmã novamente.

Ambas recomeçaram os puxões de cabelo, desta vez mais feroz e sem piedade. As agressões tornaram-se maiores aos poucos, agora eram chutes e arranhões. Chegaram a um momento em que estavam altamente cansadas. Estér já estava sem forças por ter que ser "testada" na floresta, não se sabe de onde ela encontrou forças para travar uma briga com a irmã agora.

Estér começou a imaginar milhões de coisas, da ignorância, da traição, dos sarcasmos, e de tudo que passou apenas por conta da presença de Estela em sua vida. Lembrou-se de um momento de sua infância em que as duas brincavam perto de um poço, o qual Estela quase morreu afogada. Se não fosse por ela, hoje em dia nada disso teria acontecido. Culpou-se agora por não ter permitido que a irmã morresse no passado. E agora está a matando aos poucos no presente.

A raiva enraizou nas mãos de Estér, fazendo com que assumisse uma força surpreendente, e usou desta força para dar uma tapa no rosto da mulher ao seu lado. Estela caiu ao chão. Tonta e furiosa tenta levantar, mas cai novamente. Mais uma vez Estér tem a chance de vingar-se, sua sede era de morte, porém quando se jogou novamente na briga, teve seu movimento negado por alguém que a segurou por trás.

-Já chega desta palhaçada, vocês duas parecem duas galinhas brigando. –A voz era reconhecível aos ouvidos de Estér. Uma voz calma e consoladora. Pronta para dar conselhos e ajudar a qualquer momento. A voz era de Aldo. -Me solta seu covarde. – Falou ao puxar o braço com força a fim de se soltar do homem. Feito isso o encarou friamente e cuspiu o rosto dele. Estér não confiava nos próprios olhos, até os franziu para ter certeza de que era verdade oque via.  Parecia que aquela manhã era a ultima de sua vida, e havia resolvido realizar todos os desejos sem importar-se com as consequências. Deu uma tapa em Aldo, deixando uma marca vermelha que logo ficaria rocha igual à "tatuagem" de Estela. –Cadê minha filha seu imundo?

-Você vai pagar por isso sua vadia! –Aldo socou Estér fazendo-a cair.

Mesmo fraca, sem condições de usar magia, não desistiu de lutar contra suas limitações. Mas o momento deveria ser de esclarecimento.

-Você não deveria estar na cadeia? –Ela acabou de se dar conta de que não estava entendendo nada do que acontecia ali. -Porque você e Estela estão na casa de Tata? –Ela percebeu que os dois se olhavam sem entender do que ela falava. –Estela você é Tata... E ele é seu cumplice. Porque não entendi antes? Tratava-se de uma bruxa, uma que bloqueasse meus poderes, que criasse espectros de animais, que queria me destruir fingindo ser amigável. Você estava tão na minha cara... Como pude ser tão burra novamente?

-É porque ela não é Tata. –Mais uma pessoa chegou à sala e parou ao lado de Aldo. -Eu sou Tata, a sua amiga de todas as horas. Não é mesmo bruxa de... Bruthy!

Jully [COMPLETO] {Reworking}Onde histórias criam vida. Descubra agora