A lua iluminava aquela noite, os latidos de cães eram frequentes, o vento soprava devagar, as vezes fazia barulho, como quem sopra um cano. Típica sensação de medo. O silêncio dentro de casa era inquebrável, Breno já estava em casa, dormindo junto a esposa. Os dois estavam cansados. O homem, por ter tido um dia de trabalho intenso. E Estér, por ter vivido mais um dia entediante. Ela mal podia esperar para que Jully começasse a andar, falar e alegrar aquele lugar.
-Cuff, cuff...
O casal acordou assustado, um barulho não tão estranho estava ecoando nos cômodos da casa. As madrugadas eram sempre da mesma forma.
-Cuff, cuff...
O pequeno bebê estava com crise de garganta novamente, ela tem essas crises uma vez por semana, especificamente nas sextas feiras. Era hora de levantar e remediar a criança. Como sempre, a mãe assume o papel difícil da história. Estér levantou e foi ao encontro da filha. Não precisava de remédio, era só chegar perto que ela parava. Não se tratava necessariamente de uma crise vocal, era estranho ter data e hora para acontecer o mesmo! Embora que às vezes ela também tinha a mesma reação no período matutino.
O quarto da menina estava escuro, e parecia assustador a noite. Os moveis eram pontiagudos, formas aterrorizantes saiam das sombras dos moveis, coisa que não se percebe ao claro do dia. O berço estava arrumado, sem nenhuma dobra no lençol aparentemente. Parecia que ninguém havia deitado lá. E não havia mesmo.
Estér estava aproximando-se do berço quando ouviu novamente o som estranho.
-Cuff, cuff...
E percebeu que vinha de longe. Correu até o berço e não viu Jully ali. Sem pensar correu em busca da filha, onde quer que ela esteja.
-Cuff, cuff...
O desespero tomou conta da mulher. Ela estava perto, o som parecia mais alto. A mulher procurou na cozinha, nos quartos, no banheiro, procurou até no porão. Mas foi quando passava pela pequena sala de estar, que viu a pequena sentada no sofá, gesticulando com as mãos, e fazendo aquele som.
-Meu Deus do céu, como essa menina veio parar aqui? Tenho certeza que a deixei no berço lá em cima. -Pensou com expressão de dúvida. -Vou leva-la de volta antes que o Breno venha ver oque aconteceu, ele vai me achar irresponsável...
Enquanto colocava a menina no berço, um rangido de madeira se aproximava da mulher. O barulho era sorrateiro, parecia alguém sonolento, sem forças de levantar os pés para andar. Breno. Mas ao sair do quarto do bebê, ninguém estava por perto. Depois que havia deixado Jully no quarto o barulho parou. Então voltou pro quarto, e viu que Breno dormia da mesma maneira de como quando ela saiu.
Isso fez com que se sentisse um pouco confusa afinal se não foi Breno a fazer aquele barulho , quem teria feito ? Será que havia alguém dentro de casa? Algum ladrão? . Não quis acordar Breno, pois se ele não encontrasse nada nas redondezas sairia como a louca da história, e teria que ir novamente consultar-se com seu psicólogo Alfredo.
(#)
-Bom dia Estér. -Breno chegou perto da esposa e lhe beijou o rosto. -A cada dia você parece mais linda.
-Bom dia Breno. -Respondeu enquanto recebia mais um beijo, desta vez no pescoço. -Você e seus galanteios. -Estér corou, e Breno percebeu, dando um pequeno sorriso. -Breno... Posso te fazer uma pergunta?
-Claro que sim Estér. -Falou com um olhar de dúvida. -Oque aconteceu? Que cara é essa?
-Promete que não vai me chamar de louca?
-Prometo! -Falou Breno rindo.
-Ontem à noite, você viu ou ouviu alguém dentro de casa?
-Tipo um ladrão? -Continuava com o tom irônico.
-Você falou que não me acharia louca. Você prometeu! -Virou de costas pro marido.
-Amor, é impossível alguém ter entrado na casa. -Tentava confortar Estér. -Você sabe que temos um sistema de segurança infalível. O alarme deveria ter acionado não acha?
Estér já desistia da conversa. Continuou a fazer oque fazia enquanto ouvia Breno atirar-lhe palavras desnecessárias.
-Ultimamente você está solitária demais. Talvez seja o stress com a casa.
-Breno, já chega!! -Estér deu um grito suave.
-Estou falando sério. Não acha que está na hora de contratarmos uma empregada?
-Eu dou conta da casa sozinha. -Ela sabia que não, mas não iria dar a razão para Breno. Ao menos não num momento de discursão de relacionamento.
-E sobre o seu psicólogo? Faz um tempo que não se consulta com ele.
-Você está me chamando de louca novamente?
-Se sentia louca da ultima vez que foi conversar com Alfredo?
Estér saia da sala, furiosa. Breno sempre fazia o papel de arrependido. Sabia deixar Estér calma. Um beijo sempre funcionava com ela.
O choro de Jully se espalhou na casa. Era hora de despedir-se, Breno estava atrasado.
(#)
Beijou a testa da filha e saiu às pressas.
-Tchau amor, te vejo a noite. -Despediu-se com um abraço.
A casa voltou ao seu vazio. A não ser por Jully, ela acordara inquieta. Com os olhos de sempre. Encarando o nada. E gesticulando para ninguém como a noite passada. Finalmente começou a fazer barulhos.
-Tata, tatata...
Os olhos de Estér encheram-se de lagrimas. Mal podia esperar para que falasse mamãe.
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Jully [COMPLETO] {Reworking}
FantasíaA história de uma menina que desde o nascimento mostrou-se poderosa. Em um mundo normal, mas mágico. De realidade e fantasia. Hope you like it