Feitiço de troca

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Primeiramente cartas sem remetente reais, traída pelo marido, traída pelo advogado, filha desaparecida... Estér é sim uma mulher muito forte. Não é verdade que ela superou tudo isso, mas sim que ela luta contra tudo isso.

Úrsula polia os moveis daquele jeitinho rápido e mágico que só ela sabe. Ainda vestia uma roupa elegante por baixo do avental, pois foi direto ao trabalho depois do julgamento. Enquanto ela fazia seus serviços, Estér estava trancada no quarto refletindo e tentando métodos para encontrar Jully.

Breno e Estela não deram mais a cara a tapa. Mas pelo menos o divórcio já havia sido legalizado, a divisão de bens realizada em justa causa e as investigações sobre o paradeiro de Jully iniciadas. A rotina era a mesma de antes, só que com menos pessoas por perto.

Estér usava a mente o corpo e o espirito em feitiços que podiam ajuda-la. Mas nada funcionava. Tudo parecia perdido em meio a tanta confusão. No fundo ela sabia o que fazer, mas não como. Diante de tanta correria ela poderia estar esquecendo-se de detalhes importantíssimos, pelo menos por agora nada poderia passar despercebido.

-Não faz sentido Aldo ser o responsável pelo sequestro de Jully. Ele não é bruxo! Ou é? Não sei mais o que pensar, nem o que fazer. Será que devo esperar por Tata? Ela é realmente minha amiga?-Um turbilhão de coisas passava pela cabeça dela. -Vó, me envia uma saída, por favor! –Falou em voz alta lembrando-se de uma frase de sua avó... "querida, você nunca está sozinha, mesmo se não eu, sempre terá alguém te olhando"

Instantaneamente Estér lembrou-se de um livro que ela mesma fez quando pequena. Enquanto sua avó falava sobre poções e feitiços, a caneta e o papel eram sua memória. Nas paginas estavam escritos segredos jamais desvendados sobre o mundo de Bruthy. Lugares secretos, magias proibidas e o mais importante naquele momento, um feitiço de troca de corpos.

A ideia era trocar de corpo com a filha, poder enxergar através dela, isso seria muito útil. O problema é que feitiços como este requer muito esforço mágico e físico, correndo risco de morte na hora da troca. Mas ela precisava arriscar, era o que se tinha a arriscar.

A preparação do feitiço não era muito complicada, porém apenas bruxas treinadas e poderosas podiam realiza-lo, é tão perigosa que essa magia é considerada proibida em Bruthy, sorte que Estér não faz parte desta associação.

Os materiais necessários eram: uma cama, quatro velas, uma faca e/ou navalha, um espelho grande e um fio. Material estudado e selecionado para bruxas da nova era na intenção de sobreviverem num mundo sem natureza.

A cama deve estar no centro do quarto, dando espaço para o posicionamento das quatro velas em cada uma de suas extremidades, o espelho é colocado ao pé da cama, sendo ele o testemunho de tudo que vai acontecer. A navalha é apenas uma das formas para se retirar o próprio sangue.

Estér cortou o polegar e traçou um pentagrama ao redor de cada uma das velas usando o próprio sangue. Isto cria vínculos sombrios e perigosos com satanás. Deve ser usado com cautela e sem nenhuma dedicatória à entidade, pois uma vez convocado, para sempre atormentado.

Este ritual não conta com magia negra, por isso demônio nenhum atrapalhará a concretização do rito.

Estér deitou sobre a cama, posicionou o fio de cobre apontado para o espelho, fechou os olhos e falou calmamente.

-Ignis!

As velas acenderam todas ao mesmo tempo. O "brilho" das chamas cintilava no sangue dos pentagramas que também possuíam brilho agora.

Tudo estava feito, agora é sem volta. A mulher começou a imaginar a filha, começou a criar em sua própria mente como seria estar no corpo dela agora. Focalizou uma grande quantidade de magia nas mãos e deixou passar pelo fio de cobre, fazendo com que uma corrente mágica fosse produzida dele e atravessasse o espelho.

Tudo escureceu, mas clareou novamente quando Estér abriu os olhos. Ela começou vendo um teto antigo "decorado" por grandes raízes de árvores. Houve até uma tentativa de levantar, mas o corpo de Jully ainda não era forte estruturalmente para possuir essa capacidade. A magia não poderia ir além dos limites dos seres que fizeram a troca. Minutos depois Estér voltou ao seu corpo original, suas forças se esgotaram por hoje. Más teve a certeza de que Jully estava bem. Embora não tenha visto nada além de um teto sob ela, sua angustia de poder ter perdido a filha para sempre diminuiu consideravelmente.

***

Estér saiu do quarto e foi até a cozinha tomar um copo d'agua. Precisava recompor um pouco da energia que havia perdido. No percurso observou Úrsula fazendo seu trabalho "mágico", chegou até a sentir cheiro de magia nos moveis. Mas não deu devida atenção ao fato, por presenciar um espectro de um cachorro correndo até debaixo da mesa. O vulto branco sumiu ao atravessar a parede. Apenas Estér presenciou o fato, e decidiu não contar nada a empregada para não dar um ar de louca.

O mais intrigante foi que exatamente na direção em que o cachorro sumiu na parede -por dentro de uma bancada de comida – estava um envelope familiar, mais uma carta de Tata. A carta com promessa de ajuda e de um encontro entre as duas.

Jully [COMPLETO] {Reworking}Onde histórias criam vida. Descubra agora