Embora aquelas palavras machucassem Estér não podia negar nenhum dos fatos, estava tudo correto, era exatamente tudo oque ela pensava. Pelo menos aquele pedaço de papel a fazia pensar que havia alguém do lado dela, junto a ela, disposta a dar forças, disposta a ser a amiga que nunca teve.
Jack observava a dona com espanto, o rosto enrugado do cão já demonstrava feição de tristeza, e naquele momento fazia sentido. A mulher deixava cair lagrimas, assim como a cachoeira deixa suas águas jorrarem. Mesmo que nada daquilo fosse uma novidade, uma pessoa de fora ter reparado, significa que alguém naquela história fazia o papel de otária, e esse alguém era Estér.
O barulho de um carro estacionando ecoou nos cômodos da mansão, o farol atravessava a janela da frente, chegando a iluminar o relógio da sala. Haviam passado vinte minutos que os dois saíram. Tempo significamente maior que o custo que levaria para chegar ao supermercado do próximo bairro.
-Que susto querida! -Breno assustou-se ao ver a esposa sentada na poltrona. Ela o encarava friamente, como se pudesse entrar na mente dele.
-Você está assustado? Que-rido... -Usou um tom irônico na palavra querido. Como se estivesse tentando entender o significado dela vindo da boca do marido.
-Você me assustou, foi isso. -Jogou palavras rapidamente, tentando desfazer o mal entendido.
-Aqui está a maionese. -Estela apareceu atrás de Breno mostrando a sacola plástica com o produto dentro.
O clima tenso se desfez por uns minutos. Estér não usou a maionese que pediu, decidiu fazer uma torta simples de micro-ondas. Seu lado dona de casa estava agressivamente abalado pelo estado esposa.
Jully brincava com a comida usando os barulhos que havia aprendido. -tatatata, tatatata. - As "palavras" soaram estranhas aos ouvidos da senhora. Tata era o nome da mulher misteriosa que havia escrito aquela carta. A filha passava horas repetindo aquele nome. -É coisa da minha cabeça. Onde já se viu... Acho que realmente preciso de um psicólogo. -Pensou.
A cozinha era de um silêncio quase que inquebrável. Ninguém se olhava, ninguém batia a colher no prato. Comiam até devagar por medo de fazer qualquer ruído. Isso tudo deixava Estér ainda mais nervosa.
-Porque demoraram tanto para voltar? -Continuou com a cabeça virada para o prato. Mas a demora em receber a resposta à fez levanta-la.
Breno e Estela olhavam um para os outros desconfiados.
-A demora foi porque vimos o Dr. Ronald saindo do prédio da Tim Hortons, corri e fui falar com ele. Nem precisou de curriculum nem nada. Estou contratada para o emprego. Começa das cinco da tarde até ás sete da noite.
-Porque tão tarde? Eles funcionam apenas até ás cinco.
-Este é o motivo irmã. A proposta era de ficarem até mais tarde.
-E a antiga secretária? -Estér estava enchendo-a de perguntas na esperança que ela soltasse alguma coisa que a comprometesse.
-Ela não pode ficar até tarde.
Encerrou-se o questionamento. Assim como os contatos sociais dentro da casa. A não ser pela briga no quarto de Jully, que deixou a menina atormentada.
-Seja oque for que esteja passando pela sua cabeça, é doentio. -O homem não se importava com as palavras, não fazia questão de escolhê-las adequadamente.
-Está me chamando de louca?
-Ainda não.
Estér enrijeceu a testa, aparentando mais furiosa que antes. Aumentando junto com o nível da força das palavras, seu tom de voz.
-Eu estou farta de suas vontades, se é que possamos chamar de vontades. -Ela gritava sem medo nem vergonha de ser ouvida. Talvez pelo motivo de morarem num local afastado das outras casas. -Você não age mais como marido.
-E nem você como marido esposa. -Revidou Breno, tentando o desabafo.
-Como é que é? Você muda de uma hora para outra, passa a me tratar como uma estranha, nem sequer cuida de sua filha com devido merecimento. Passa o dia todo fora e quando chega só pensa em sexo. Não me pergunta se estou bem, como passei o dia, oque aconteceu. Você mudou Breno, aceite isso.
O rosto de Breno transmitia insegurança. O casal não brigava daquele jeito a anos. Guardavam rancores, coisa que casais não devem fazer. Um pote cheio de raiva estoura fácil.
-Você não consegue entender que seu problema precisa de ajuda psiquiátrica?
-Novamente me chamando de louca.
-Você não para pra me ouvir. Estér, você precisa de ajuda de um profissional. Queira você ou não, te trarei alguém.
-Você não vai fazer isso. -Apontava para o marido, ameaçando-lhe fisicamente.
-É para o bem do nosso casamento. -Falou e saiu do quarto com lençóis e uma almofada. Ele havia decidido dormir no sofá aquela noite.
(#)
A lua da madrugada iluminava a sala onde Breno descansava. O reflexo das plantas se estendia até o pé do sofá.
Jully corria num bosque escuro, com mata fechada e a noite. Ela estava sendo perseguida por um urso selvagem, que possuía terríveis queimaduras na barriga. Nos braços cortes profundos o fazia gemer. Mas nada o fazia parar. A menina gritava desesperada, tudo que ela podia fazer já havia feito. Ela ofegava muito, o cansaço de correr a dominava, fazendo-a desistir de continuar fugindo. Então esperou o urso aproximar-se e o atingiu com uma faca que puxou do bolso. O animal cambaleou, foi a abertura que a possibilitou atingi-lo com sequencias de golpes com o objeto cortante. O bicho urgiu alto enquanto morria.
Breno acordou-se do pesadelo assustado, sentando-se a colocando a mão no rosto. Ao olhar para sua frente deparou-se com sangue derramado no tapete. Só se deu conta do que se tratava ao acender o abajur ao lado do sofá.
Ali estava o pug ensanguentado, caído e com a língua a mostra. Cortes terríveis e desconcertados em seus estomago. Os órgãos estavam expostos. Alguém havia o matado e puxando-o para fora.
Um grito grosso espalhou-se quando o homem viu Jully com uma faca na mão a um metro do animal.
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Jully [COMPLETO] {Reworking}
FantasyA história de uma menina que desde o nascimento mostrou-se poderosa. Em um mundo normal, mas mágico. De realidade e fantasia. Hope you like it
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