22- It's nice to have a friend

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POV. RAFA KALIMANN

MOÇAMBIQUE

MEADOS DE DEZEMBRO

Pequenos fragmentos perdidos no tempo

Eu estava nervosa quando entrei naquele avião. As palavras de minha mãe, de semanas atrás, voltaram a me assombrar.

Dessa vez eu realmente estava completamente sozinha.

Me sentia estagnada, presa dentro de mim.

A sensação era de que poderia ir a qualquer lugar, percorrer o mundo e ainda assim, jamais conseguiria fugir de mim.

Essa liberdade condicional tinha um gosto amargo, porque só então percebi que estar sozinha, doía.

Minha decisão de viajar nessa época do ano, não foi bem aceita por toda minha família, mas quando justifiquei minha escolha, eles entenderam e até torceram por mim.

Mas é claro que Marcella não estava inclusa nisso, alegando que já havia confirmando a presença do casal do ano em uma das festas de réveillon mais baladas do Nordeste, ela não gostou nada de saber que eu tinha outros planos.

Aparentemente ela tinha certeza que não havia mais resquício de opinião própria em mim.

Aquela foi uma conversa que preferi ignorar, antes que minha mão atingisse seu rosto novamente.

Por outro lado, ainda tinha toda minha situação com Manu.

Temi não conseguir conversar com ela na comic-con, temi mais ainda conseguir e aquela ser a nossa última conversa.

Porque se as coisas já eram delicadas antes daquela maldita noite no meu apartamento, agora eu sabia que estavam ainda pior.

Nossos caminhos nunca foram tão distintos.

Sentia que a qualquer momento ela sairia da minha vida de vez e ninguém poderia julgá-la.

Talvez eu já tenha recebido mais segundas chances do que merecia, mas ainda assim, em nosso reencontro, consegui mais uma.

Talvez Manoela fosse mais teimosa do que eu para insistir tanto assim em nós.

Agora sigo aqui tentando realocar tudo, porque sei que meus temores são alimentados diariamente graças a mim.

Os cultivo junto de meus transtornos, então sei que ninguém poderá por fim em toda essa angústia.

Seria loucura exigir isso de Manoela e de qualquer um.

Se me acovardo em meio às minhas próprias incertezas, me deslocando de mim e mergulhando no caos que rege minha vida, não posso simplesmente esperar que alguém seja minha tábua de salvação.

Também não posso esperar o amor de ninguém, já que talvez eu nem saiba mais como amar.

Assim, quando aquele avião decolou fiz uma prece.

Pedi para conseguir aceitar meus temores, mas que eles jamais me engolissem novamente.

Pedi para que nada que teço diariamente me afaste do que há de bonito na vida e que os laços que tratei com tanto desmazelo, ainda pudessem ser refeitos.

Pedi para aquela viagem ser o meu recomeço comigo mesma.

Fiz esses pedidos mirando o horizonte e sentindo as primeiras lágrimas me inundarem.

Era por mim. Era pelo Téo.

Quando constatei aquilo fui tomada por lembranças.

Lembranças essas que pareciam vindas de outra vida.

Daylight [RANU]Onde histórias criam vida. Descubra agora