25 The great war

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POV. MARI GONZALEZ

Trancoso, Bahia

ALGUMAS SEMANAS ANTES

Ouvi a voz e o riso se misturarem e reconheci de imediato. Era ela. Eu sabia quem era sem nem precisar abrir os olhos.

Meu coração descompassou e eu sorri. Estava tudo bem, nós estávamos bem e ainda tínhamos a nossa vida. Tudo que aconteceu foi só um sonho ruim.

Entretanto, o toque de meu celular me fez despertar. Demorei um pouco para assimilar as coisas. O quarto estava escuro e vazio. Não existia nada, nem a risada dela e nem muito menos sua voz, porque ela não estava aqui.

Foi tudo um sonho.

Suspirei cansada e senti meus olhos marejarem. Bianca não estava aqui. Então não existia mais nada a não ser o espaço vazio na cama. 

Meu corpo não estava mais aqui, eu não estava. Era como se eu estivesse deixando de ser eu. Corpo, ossos e sangue, virei uma sombra de quem já fui um dia. Eu era um nada desde que deixei minha vida com Bianca para trás.

O celular tocou mais uma vez e quando finalmente tateei pelo espaço vazio e consegui pegar o aparelho, o nome de Ivy brilhou na tela.

Estávamos em Trancoso.

A verdade é que eu tinha marcado uma viagem com as meninas há tempos. Andava precisado fugir um pouco da loucura que estava sendo a vida em São Paulo.

A ideia era embarcamos assim que Bianca terminasse com toda parte burocrática do processo de internacionalização de sua marca, mas aí aconteceu a nossa briga, a pior e mais dolorosa que já tivemos até hoje e eu fugi.

Sai de casa e adiantei a viagem, passando os primeiros dias até nossa reserva ser liberada, em Salvador, completamente sozinha.

Toda vez que remoia aquela discussão, temia pelo futuro.

Não contei as meninas o que tinha acontecido, mas quando finalmente nos reencontramos, elas tiveram certeza que alguma coisa estava errada.

Gabi Pugliesi, Mari Saad e Ivy me encontraram sozinha e totalmente apática para vida. Acredito que elas chegaram a mesma conclusão — Agora eu era um nada.

Pensei que Ivy ia desistir quando não atendi o telefone, mas para minha surpresa, as batidas na porta anunciaram a chegada de alguém.

Quando levantei e fui abrir, não me deparei só com ela e sim com as outras duas também.

Meu comportamento andava assustando meu trio de amigas e eu não podia julgá-las por isso. Pois, também andava assustada comigo.

As três se entreolharam rapidamente e eu suspirei cansada de novo, mas acabei desistindo e lhes dei passagem para entrar no meu quarto.

(...)

Estávamos todas na cama e senti que elas não sabiam muito bem como conduzir as coisas a partir dali, então nos primeiros minutos ninguém ousou falar nada.

Porém, quando se tem Ivy por perto, o silêncio dificilmente dura.

E não foi surpresa ela ter sido a primeira a falar.

— Olha, Mariana... A gente não sabe o que tá acontecendo. Porque isso aqui era para ser um momento de descontração, leve e principalmente uma fuga da bagunça e de toda correria que é nossa vida. Só que tem sido tudo, menos isso. Primeiro você chega antes de todo mundo e o pior sem a Bia. A gente até pensou que fosse devido ao trabalho e ela ficou para trás por causa desses trens da marca, mas aí os dias foram passando e nada. Caramba, vocês nem se falam! Não acredito que terminaram. Se não foi um término, o que diabos aconteceu com vocês duas? Porque não dar para ignorar mais e nem muito menos continuar fingindo que não tem nada acontecendo por aqui.

Daylight [RANU]Onde histórias criam vida. Descubra agora