Daylight [RANU]

21- Consequences

POV. MANU GAVASSI

SÃO PAULO

MEADOS DE DEZEMBRO

Pequenos fragmentos perdidos no tempo......

A vida é costura. Então, se você tiver sorte o suficiente, seu caminho cruza com o daqueles que vão te ajudar a tecer, emaranhar, atar nós e a cuidar do fio condutor das coisas.

Assim, não importa o quão desgastado esteja esse fio, ele nunca vai arrebentar.

Não enquanto estiver com aqueles que te ajudam a costurar.

Com o tempo a junção de tantos fios forma algo que remete e muito a uma grande colcha de retalhos.

Talvez seja assim que as memórias são construídas.

Acredito que tive sorte em reconhecer os meus e ainda mais por conseguir trazê-los para perto de mim, costurando histórias.

Pensar nisso me fazia agradecer por nascer filha dos meus pais, por Catarina e por essa segunda família que recebi, ou seja, o bando de doidos que tenho o prazer de chamar de amigos.

É, filho! O nosso fio condutor das coisas entrelaçou nos fios das melhores pessoas dessa vida.

Temos sorte.

Consegui esboçar um sorriso enquanto alisava a minha barriga, que de uns tempos pra cá, começou a aparecer bem mais.

Entretanto, refletir sobre isso também me fazia pensar em Rafa.

Agora que a raiva passou, era inevitável não reviver nosso último encontro depois de nossa briga, mas do que isso, era inevitável não encarar aquele envelope azul.

Argh! Maldito sapo de pelúcia idiota... Se não fosse por todo sentimentalismo barato que ele me trouxe, aquela maldita noite jamais teria acontecido.

Se em um momento estava ali, as voltas com as reflexões silenciosas partilhadas com Teodoro, no outro já estava quase dando fim no pobre do Kermit.

Aquele sapo de pelúcia havia sido o responsável por tudo aquilo.

E lá estava eu novamente, embarcado nessa montanha-russa de emoções que os últimos meses trouxeram.

— Wow, pega leve a aí pugilista! Não sei o que o pobre sapo de pelúcia te fez, mas acredito que até ele merece defesa.

Meu coração deu um sobressalto e eu quase pulei da cama, tamanho foi o susto que havia levado.

— Meu Deus, Caíque! Não te ensinaram que não se deve assustar uma grávida?

Meu amigo parou ao lado da cama e ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Ahh! Desculpa, Manu. Juro que bati e te chamei várias vezes, mas aparentemente o assassinato do Kermit acabou te distraindo. Agora me diz vai, o que o pobre sapo de pelúcia te fez para merecer um destino tão cruel?

Caíque me olhou divertido e eu suspirei cansada.

A verdade é que desde o meu reencontro com Rafaella na comic-con, depois de toda confusão em seu apartamento, eu estava evitando conversar sobre o assunto.

Alli já tentou, Bruna e Catarina também e até meus pais.

Contudo, nenhum deles obteve sucesso.

Sabia que precisava falar disso com alguém porque se não explodiria, então, porque não me abrir com o melhor e mais antigo ombro amigo que já conheci?