Daylight [RANU]

13- Death by a thousand cuts

POV. RAFA KALIMANN

SÃO PAULO

Pequenos fragmentos perdidos no tempo

Os últimos meses me fizeram disfarçar-me de mim. Me sentia uma atriz na minha própria vida e neste espetáculo previamente roteirizado o medo era o grande diretor.

Tinha medo de ser vista de verdade.

Tinha medo da minha própria verdade porque havia enxergado em mim algo que o mundo ainda não tinha conseguido.

Era por isso que seguia interpretando o papel daquilo que sempre esperavam de mim, mas ao mesmo tempo, existia um par de olhos castanhos capaz de me despir desse papel e por fim em toda essa encenação.

Manu tinha a capacidade de me deixar desamparada apenas com um olhar.

Mais do que isso, as palavras não ditas, sempre estiveram ali e a cada vez que ela me encarava, parecia que toda a vulnerabilidade da paz estabelecida em prol do bebê, estava escapando de nossas mãos.

Talvez tenha sido por isso que aquela briga demorou tanto para acontecer.

 Sabia que os silêncios instituídos para ignoramos o assunto não segurariam as coisas por muito tempo, então quando tudo implodiu, não chegou a ser uma grande surpresa.

Porém, o momento que isso aconteceu foi o pior possível. Só então nossos amigos descobriram que nós duas estávamos andando em corda bamba.

Aparentemente a cada passo dado rumo a trama que escolhi para mim, eu me distanciava de qualquer possibilidade com Manoela.

FLASHBACK

Depois de ter perdido o primeiro compromisso do contrato, Marcella decidiu tornar minha vida um inferno e como a outra parte não ficou nada satisfeita com o meu descaso, o volume de coisas que eu deveria fazer aumentou consideravelmente.

Se antes bastava plantar a dúvida para as especulações acontecerem, agora eu teria que ser mais explícita em público.

Quando ela me falou sobre isso eu quase joguei tudo para o ar e desisti, mas como sempre, Marcella me trouxe de volta para minha realidade.

— Então, você quer desistir do contrato? Sinto te informar que quando aceitou assinar, se comprometeu em fazer parte disso por no mínimo seis meses. E caso o distrato seja feito antes da hora, você vai ser exposta e isso vai ser excelente para sua imagem, não é mesmo? 

Engoli em seco, pois sabia que ela tinha um ponto.

Estava com o nome reservado para produções futuras e um escândalo como esse era a última coisa que eu precisava.

Entretanto, com a gravidez de Manu, essa coisa de imagem parecia tão irrelevante agora.

Por que aceitei fazer parte daquilo?

— Mas se isso não for o suficiente para você... Pensa na Manoela, acha que sustentaria essa sua fantasia até quando?? Vocês não têm a menor chance.

Suas palavras me despertaram de meu torpor e rapidamente encarei seu rosto.

Por um momento cheguei a cogitar que ela havia descoberto sobre a gravidez e senti um frio percorrer minha espinha, mas quando entendi o que ela realmente quis dizer, me tranquilizei quanto a isso.

As palavras dela apenas fizeram a raiva que andava nutrido fervilhar.

— Sejamos honestas, Rafaella. Você não conseguiria lidar com isso.