Enfeitiçados pelo Destino

Capítulo 4 - AMIZADES E CONFLITOS...

Sally

Diante da rapidez dos movimentos das asas daquela criatura vindo em minha direção, instintivamente, me apressei em fechar a janela aberta do quarto. No último instante, a coisa, impulsionada, deu um outro rasante entre o pequeno espaço ainda entreaberto, me fazendo dar passos para trás.

Levei meus braços pra cima tentando me proteger do vulto que acabara de passar por mim, e cambaleando, tropecei no sofazinho em que estava ajoelhada, logo me ocorreu que o vão da abertura havia sido extendido quando a criatura passou por ele, e eu estava prestes a cair pro lado de fora! Minha visão era turva e desnorteada me revelando apenas flashes da veloz sombra que rodeava minha suíte, enquanto minhas mãos, desesperadas, procuravam por algo em que pudessem se segurar.

Me segurei pelas finas cortinas da janela, que já estavam quase sendo levadas pelo meu peso. No temor de cair, fechei os olhos, fazendo com que apenas minha imaginação e respiração aceleradas me amedrontassem. Como posso ser tão desastrada?? Esse é meu fim!?

Foi quando pude sentir pequenas, porém fortes, garras me segurando pelas roupas, arranhando um pouco minha pele mal protegida perto do meu peito, antes que eu pudesse sofrer um acidente. Engoli o medo que representava o seco na minha boca. Abri os olhos, uma coruja branca manchada, piava para mim. Como se ela estivesse me dizendo para ajudá-la a me mover para dentro do quarto, me segurei as cortinas que novamente estavam ao meu alcance.

Quando meus pés tocaram o chão, meu coração finalmente se acalmou e eu me sentei no sofá.

— Que susto você me deu! — acusei a ave que agora repousava no meu armário. Toquei o pingente de minha mãe pendurado em meu pescoço enquanto a observava. A coruja parecia estar tentando recuperar o fôlego tanto quanto a mim. Será que ela também teria levado um susto com minha quase queda? Não, isso seria bobagem...Mas afinal, porque ela teria entrado aqui? — Então.., parece cansada, veio de muito longe?

(É sério que eu estou falando com uma coruja que coincidentemente me segurou para não cair da janela? Que loucura!)

— Você deve ser treinada, não é possível... — murmurei para mim mesma, finalmente fechando a fatal janela.

Como se tivesse me entendido desde o começo, cada palavra minha, ela planou para aterrissar em algum lugar. Logo, estiquei um dos meus braços para recebê-la. Ela pousou confortavelmente em mim. Mais de perto, pude notar que a penosa realmente estava exausta; seus olhos quase fechavam, mas sempre em seguida ela balançava a cabecinha para se auto manter acordada.

— Obrigada por me salvar. Não sei dizer se foi um tipo de instinto animal seu, mas agradeço — sorri para ela. Em resposta, ela piscou seus grandes e brilhantes olhos amarelos, em seguida, piou. Quando ela se movimentava ao longo de meu braço, reparei nas suas asas sedosas que eram iluminadas pela luz forte da lua — Você é muito bonita e voa muito bem.

Levei lentamente minha outra mão a ela para acariciá-la. Ela continuou me olhando enquanto erguia uma de suas asas, permitindo que eu passasse a mão nela. (As penas dela são muito macias! Eu nunca tinha pegado em um bicho como esse!)

De repente, ela se mexeu de um jeito diferente, e como se estivesse procurando por alguma coisa, sua cabeça girou a muitos graus. Ela olhava para o lado de fora atentamente. Curiosa, também me inclinei para ver o que se passava do lado de fora. Ali, ainda escondido entre as árvores, estava a outra criatura maior de minutos atrás, que só pude identificar sua real forma quando finalmente se revelou com a luz da lua. Um lobo na cidade!? Como ele veio parar aqui!?

(Olhando agora, parece que ele deve ter vindo de muito longe também, mas eu achei que tinha ido embora aquela hora que o vi.., porque ele voltaria?) Ele olhava fixamente para nós, parado na rua. Meu olhar caiu sobre minha nova colega de quarto.