Enfeitiçados pelo Destino

Capítulo 6 - PARTE 6

Isabel

Pacientemente lendo e sentada nas escadas da frente da minha casa, eu esperava pelo meu misterioso observador peludo em plena noite de domingo. Poucas pessoas sairiam de suas casas naquele momento, então possivelmente o lobo tenderia a ficar mais tempo por ali.

Não era como se eu estivesse á vontade em encarar de frente aquele animal, mas me sentia menos receosa de me aproximar dele, afinal, sempre que eu chegava a arriscar, antes de abrir a porta, ele já sumira sem avançar.

...

Um vulto escuro se aproximou dos arbustos do jardim. Continuei fitando meu livro, e de canto de olho captava o menor dos movimentos.

De repente, uma grande sombra se estendeu pela grama verde reluzente, iluminada pela lua brilhante. Não pude evitar de erguer um pouco os ombros e conter arrepios pelos braços, surpresa com tal estatura do bicho.

Ele dera alguns poucos passos à frente, parando na metade do caminho do meu jardim. Levantei os olhos para deslumbrar a criatura e seus pequenos e sombrios olhos amarelados.

— Você é realmente incomum e encantador..! — realizei em tom baixo, quase que sem fôlego. Ele continuava a me encarar sereno e indiferente.

Fiquei quieta durante um certo tempo, o admirando. Observei sua pelagem escura meio azulada dançar perante a brisa fria da noite e seus olhos piscarem com leveza. Ele continuava imóvel.

Sabia que uma hora ele iria embora; aproveitei o tempo que me restava e me levantei para me aproximar. O mais sútil que pude; tirei meus óculos, e com ele deixei meu romance de lado e os afastei com uma das mãos pela baixa escada gelada. Com a mais alta calmaria, fiz força com os pés para me erguer. E na tranquilidade da noite, me aproximei devagar em direção ao animal.

Um primeiro passo meu à frente, um dele pra trás. Quase imaginei ter escutado um grunhido sútil seu. Congelei e fiquei em uma única posição por alguns segundos sem fazer qualquer barulho.

Ele me examinava atentamente, suas orelhas averiguando os mínimos sons que eu fizesse, mas não parecia assustado ou um predador.

Me fiz dar mais alguns curtos passos seguros. Cada vez que eu me aproximava, ele parecia aumentar de tamanho, ele era muito maior do que eu imaginava!

Como esse poderia ser uma coincidência qualquer? Ele era de fato incomum e me conduzia a perguntas variadas e muito intrigantes.

Eu estava a centímetros de distância dele, nossos olhos presos um no outro, sem desviar a atenção para onde quer que fosse. Ele parecia um pouco mais confortável. Parecia que éramos muito próximos e tínhamos ligação aparentemente recíproca, apesar de sua neutralidade. Eu levantei uma das mãos de maneira tranquila. Suas orelhas quase do mesmo tamanho que o de minhas mãos, se estreitou novamente procurando respostas nos meus movimentos.

Meus batimentos começaram a acelerar. E meus sentimentos se afloravam, sentia-os dançando com minha magia em meu interior, um calor sereno e morno aquecia meu coração ansioso. Com coragem, estiquei meu braço lentamente para tocar o meio de sua cabeça, sem quebrar o contato visual com o belo animal.

Quando achei que conseguiria alcançá-lo, apenas roçando ligeiramente em seu pelo grosso e macio, ele recuou rapidamente e se distanciou, correndo, mais rápido do que um lobo normal poderia, para o longe do desconhecido, em meio a floresta fechada de Mystery Spell.

Cativada em descobrir mais sobre aquela criatura chamativa, reparei apenas depois de sentir a terra molhada nos meus pés que havia começado a garoar. A chuva apagara os breves rastros que duas patas pesadas haviam deixado separando a mínima distância das plantas rasteiras.