Maitê
Estou com o olhar vidrado na janela do carro, afogada em lágrimas que não param de cair. Elas escorrem livres, a dor encobrindo a tristeza.
William e Ximena.
O que vivi com ele era tudo mentira?
Não! Não posso pensar isso. Ele disse que me amava e eu acreditei. Ainda quero acreditar nele, mas é claro que isso não importa. Nunca mais vou vê-lo.
Ivan: Por que está chorando? (Ela me ignora.)
Maitê
Não importo o que fizerem comigo agora. Meu coração está despedaçado, e sei que nunca vai se curar.
Ivan liga o rádio e uma música pop animada ressoa pelos alto-falantes, abalando os meus nervos.
Desconfiei que ele fez isso para se distrair dos meus soluços abafados.
Ivan baixa o volume e me entrega uma caixa de lenços.
Ivan: Aqui.
Seque os olhos.
Chega dessa bobagem, ou vou arranjar um motivo para você chorar. (Ela pega um chumaço de lenços e continua olhando pela janela, indiferente.)
Maitê
Sei que vou morrer nas suas mãos.
E não há nada que eu possa fazer.
Talvez consigo fugir.
No México.
Talvez possa escolher como morrer...
Fecho os olhos.
William
William: Ir atrás dela?
Ximena: Sim.
Mas preciso perguntar o que faz você pensar que foi sequestro?
William: O bilhete dela.
Ximena: Bilhete?
William: Aqui. (Entrego a ela o pedaço de papel amassado e me viro, esfregando o rosto, tentando organizar meus pensamentos embaralhados.
Para onde ele vai levá-la?
Será que ela foi por vontade própria?
Não. Ela sentia repulsa pelo sujeito.
Deve tê-la forçado a ir.
Como foi que a encontrou?
Ximena: William, este bilhete não passa a impressão de que ela foi sequestrada.
Será que ela não decidiu ir para casa?
William: Ximena, ela não foi embora de boa vontade.
Confia em mim. (Preciso trazê-la de volta. Merda. Passo por Ximena e sigo para a sala.)
William: Puta que pariu!
Ximena: O que foi agora?
William: Não tenho nenhum computador funcionando, porra!
Maitê
Ivan: Preciso do seu passaporte
Maitê: Como assim?
Ivan: Estamos indo para outro país Preciso do seu passaporte.
Maitê: Eu não tenho passaporte
Ivan: O que quer dizer com isso?
Por quê?
Me diga!
Você se esqueceu de trazer?
Não estou entendendo.
Maitê: Eu fui trazida clandestinamente para a Inglaterra por uns homens que levaram meu passaporte.
Ivan: Clandestinamente?
Homens?
Maitê
Ele cerra a mandíbula, e um músculo se contorce em seu rosto.
Ivan: O que está acontecendo?
Maitê: Eu não tenho passaporte.
Ivan: Puta que pariu! (Bato no volante com a palma da mão. Maitê se encolhe com o barulho.)
Horas depois
Ivan: MAITÊ, ACORDA.
Maitê
Abro os olhos e vejo que estou no carro com Ivan, no acostamento da estrada.
Está escuro, mas, pelo brilho dos faróis, percebi que estão em uma estrada rural cercada por campos congelados.
Ivan: SAIA DO CARRO (ela não saí, saio do carro e dou a volta até a porta dela, abrindo-a por completo.
Seguro a mão dela, puxo para fora do banco e a leva para a parte de trás do carro, onde abro o porta-malas, que está vazio, exceto por uma mala pequena com rodinhas e a bagagem dela.)
Ivan: Você vai entrar aqui.
Maitê: Como assim? Não!
Ivan: Não temos escolha. Você não tem passaporte. Entre.
Maitê: Por favor, Ivan. Eu odeio o escuro. Por favor.
Ivan: Entre ou coloco você aí dentro.
Maitê: Ivan. Por favor. Não. Eu não gosto do escuro! (Ele é rápido e me pega no colo, me jogando no porta malas e fechando antes que eu possa resistir.) Não! (Lá dentro está um breu. Começo a chutar e a gritar. Não consigo respirar. O escuro, não, não. Odeio o escuro. Segundos depois, o porta malas se abre e uma luz ofuscante atinge o meu rosto.
Ivan: Aqui. Pega isso. (Entrego uma lanterna a ela.) Não sei quanto tempo a bateria vai durar. Mas não temos escolha. Quando chegamos no trem eu abro o porta-malas.
Maitê
Ele posiciona a minha mala para mim usar como travesseiro, depois tira o seu sobretudo e me cobre.
Ivan: Você pode ficar com frio. Não sei se o aquecimento funciona aqui. Volte a dormir. E fique quieta.
Horas depois
Acordo com um chacoalhão. Olho, sonolenta, para ivan, que paira sobre mim segurando a maçaneta do porta-malas. A respiração dele forma uma nuvem ao redor dele, iluminada pela única luz do estacionamento. Seu rosto está sério e pálido.
Ivan: Por que demorou tanto para acorda? Achei que estivesse inconsciente! Vamos passar a noite aqui
Maitê
Pisco, aconchegando-se no casaco. Está frio. Estou zonza de tanto chorar. Os olhos estão inchados. E não quero passar a noite com ele.
Ivan: Saia (estendo a mão)
Maitê
Suspiro e me sento. O vento frio bate no meu rosto espalhando meu cabelo em meu rosto. Saio do carro com dificuldade, recusando a ajuda do Ivan. Não quero que ele encoste em mim. Ele passa por mim.
Ivan: Venha comigo.
Maitê
Ele caminha depressa em direção à entrada. Com calma, Coloco a mala no chão me viro e corro.
William
Olho fixo para o teto, a mente revirando todos os planos que fiz desde que Maitê foi levada. Amanhã vou pegar um vôo para o México com Sebastian. Infelizmente, o pedido foi feito muito em cima da hora para conseguimos um jato particular, então vamos em um vôo comercial. Graças a tia da Maitê, temos o endereço dos pais da Maitê. Foi graças a ela que o noivo da Maitê a encontrou. Mas não me prendo muito nisso, porque essa parte me deixa completamente furioso.
Calma, cara.
Espero que ela esteja bem.
Fecho os olhos.
Minha doce Maitê.
Estou indo buscar você. Estou aqui.
Eu te amo.
Maitê
Adentro o escuro às cegas, impulsionada pela adrenalina. Corro pelo asfalto e depois pela grama alta. Logo atrás, ouço um grito. É ele. Escuto os passos dele no chão congelado. Chegando perto.
Ainda mais perto.
Então silêncio.
Ele está na grama.
Não.
Corro mais rápido, esperando que meus pés a levem para longe dele. Mas ele me agarra, sou jogada no chão com tanta força que arranho o rosto na grama gelada. Ivan esta deitado nas minhas costas, ofegante.
Ivan: Sua vadia idiota. Onde acha que vai a essa hora? (Falo no ouvido dela, me ajoelho e a arrasto até colocá-la deitada de costas, então monto em cima dela. Dou um tapa com força em seu rosto.
Maitê: Me mata, é por isso que não quero me casar com você. Prefiro morrer a ficar com você.
Ivan: Não seja ridícula. (Levanta) seu rosto está um horror. Vamos entrar e vá se limpar.
Maitê: E de quem é a culpa?
Ivan: Ande logo.
Maitê
O banheiro é pequeno e sujo, mas no brilho insípido da luz acima do espelho Maitê vê o próprio reflexo e leva um susto. Um lado do rosto está vermelho por causa do tapa e o outro tem um arranhão causado pela queda. Amanhã serão hematomas. Com movimentos rápidos e automáticos, lavo o rosto, estremecendo quando a água ensaboada toca o arranhão. Depois uso uma toalha para me secar.
Quando volto para sala Ivan esta vasculhando o frigobar.
Ivan: Está com fome? (Ela nega com a cabeça) tire o casaco. (Ela não se mexe) Maitê, não quero brigar com você. Estou cansado. Está quente aqui. Amanhã vamos voltar para o frio. Por favor, tire o casaco. (Ela tira o casaco enquanto a observo) Gosto de você de calça jeans, é quase meia-noite. Devíamos dormir. (Os olhos dela encontra com o meu e eu sorri) Ah, caríssima, eu devia torná-la minha, depois do que vocês aprontou lá fora. (Seguro o queixo dela e Maitê encolhe enquanto meus dedos roçam sua pele.) Você é tão linda, mas não tenho energia para lutar com você. E acho que seria uma luta.
Certo? (Ela fecha os olhos, beijo a testa dela) Você vai aprender a me amar. (Pego nossas malas e levo pro quarto.)
Maitê
Nunca.
Meu coração pertence a outro.
Meu coração vai ser sempre do William.
Ivan: Vá vestir suas roupas de dormir
Maitê: Vou dormir assim.
Ivan: Não. Tire essa roupa. Você não vai fugir se estiver nua.
Maitê: Não. (Cruzo os braços ele bufa, frustado e cansado.)
Ivan: Não acredito em você.
Mas também não entendo por que está fugindo.
Maitê: Porque você é um homem raivoso e violento, Ivan.
Por que eu ia querer passar a vida com você?
Ivan: Não tenho energia para essa conversa. Vá para a cama.
Maitê
Antes que ele mude de idéia, entro no quarto. Tiro minhas botas e me enconho na cama mais distante, virando de costas para ele.
Ouço enquanto ele se mexe pelo quarto, tirando e dobrando suas roupas. Minha ansiedade aumenta a cada movimento e som.
Depois de uma eternidade, há a batida suave dos passos dele, se aproximando da cama aonde eu estou.
Fecho bem os olhos, fingindo dormir.
Ouço o farfalhar dos lençóis e dos cobertores e, para sua surpresa, ele coloca um coberto em cima de mim.
Ele apaga a luz, mergulhando o quarto na escuridão, e a cama se afunda quando ele se deita.
Não! Era para ele estar na outra cama.
Ivan: Vou saber se você sair da cama.
Imagino os braços do William enquanto Ivan me abraça e sinto vontade de gritar.
Maitê
Acordo e escuto a voz do Ivan ele esta ao telefone no outro cômodo.
Ivan: Ela está bem... Não. Longe disso... Está resistindo a voltar para casa. Não entendo. Não sei... Talvez... Havia um homem. O patrão dela. O que foi mencionado no e-mail.
Maitê
Está falando sobre William!
Ivan: Ela diz que é só a faxineira dele, mas não sei, César.
Maitê
Ele esta falando com meu pai!
Ivan: Eu amo tanto ela.
Ela é tão linda.
Maitê
O quê?
Ele não sabe o significado da palavra "amor"!
Ivan: Ela ainda não me contou.
Mas também quero saber.
Por que ela iria embora?
Sim.
Vou levá-la de volta para você.
Vou cuidar para que fique sã e salva. Ela esta segura comigo.
Amanhã a noite... Sim... Tchau. (Entro no quarto) tem café da manhã para você aqui.
Maitê: Não estou com fome.
Ivan: Fique a vontade.
Saímos em vinte minutos. Temos um longo caminho pela frente.
Maitê: Não vou com você.
Ivan: Caríssima, você não tem escolha.
Não dificulte isso para nós dois.
Não quer ver seu pai e sua mãe?
Ela esta com saudades. (Ela se levanta da cama mal-humorada, agarra a mala e passa por mim e entra no banheiro.)
Maitê
Embaixo do chuveiro, uma idéia começa a se formar em minha cabeça.
Vou voltar pro México lá faço um novo passaporte assim volto pra Londres.
E enquanto seco o cabelo com a toalha, sinto um novo propósito.
Vou voltar pro William.
Ver se tudo o que vivemos foi ou não uma mentira.
Continua...
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Quebrando as Regras
FanfictionMaitê Minha vida virou de cabeça para baixo depois que meu pai aceitou o acordo com o Ivan, não tinha outro jeito de pagar a dívida a não ser o nosso noivado, nunca amei ninguém então aceitar esse noivado para ajudar minha família era o certo, até...