Capítulo 19

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William
Ximena está sentada perto da lareira vendo as chamas, enrolada em uma colcha xadrez. Ela não se vira quando entro.
William: Oi. (Ximena volta a cabeça na minha direção, o olhar desolado, a boca curvada numa expressão de tristeza.)
Ximena: Ah, é você
William: Quem você esperava? (Ela não se levantou para me cumprimentar, e estou começando a me sentir uma presença indesejada.)
Ximena: Desculpa, eu só estava pensando no que Eugênio estaria fazendo agora se estivesse aqui.
William: Ah, Ximena... (Agacho ao lado da sua cadeira.)
Ximena: William, eu sou uma viúva. Tenho 25 anos e sou viúva. Isso não estava nos planos. (Ele segura minhas mãos.)
William: Eu sei. Não estava nos planos de nenhum de nós. Nem nos do Eugênio.
Ximena: Não sei
William: Como assim? (Ela se aproxima para ficarmos cara a cara e sussura em tom conspiratório.
Ximena: Acho que ele queria se matar.
William: Ximena. Isso não é verdade. Não pense assim. Foi só um acidente horrível. Fixo meus olhos nos seus, tentando transmitir o máximo de sinceridade, mas a verdade é que... Pensei a mesma coisa. Mas não posso deixá-la saber disso, e tampouco quero acreditar. Suicídio é algo doloroso demais para os que ficam para trás.
Ximena: Não paro de repassar aquele dia na minha mente
William: Foi um acidente, deixa eu me sentar. (Soltando-a, jogo meu corpo na cadeira em frente á dela e à lareira.)
Ximena: Não quer beber alguma coisa? Afinal, esta casa é sua.
William
Há uma amargura na voz dela que decido ignorar. Não quero briga.
William: A empregada já me ofereceu, e eu disse que não.
Ximena: Eu soube do furto. Você perdeu algo importante?
William: Não. Só meu laptop e minhas mesas de som. Acho que quebraram o iMac.
Ximena: O que estava fazendo na Cornualha?
William: Um pouco disso, um pouco daquilo...
Ximena: Ah, isso é muito esclarecedor.
William
Ela revira os olhos, e tenho um vislumbre da Ximena bem-humorada que conheço.
Ximena: O que estava fazendo na Cornualha?
William: Fugindo de uns traficantes, se quer saber.
Ximena: Traficantes?
William: Isso... E me apaixonando.
Ximena: Como é que é? Você? Apaixonado?
William: E por que isso seria tão improvável? (Observo que ela não pergunta mais nada sobre os "traficantes".)
Ximena: William, a única coisa que você ama é seu pau.
William: Isso não é verdade! (Ela RI alto. E é bom ouvi-la rir, mas não é tão bom que seja por ela estar zombando de mim. Ao perceber minha reação nem um pouco entusiasmada, ela tenta se controlar.
Ximena: Certo, então quem é a vítima?
William: Não precisa ser tão maldosa.
Ximena: Isso não é resposta. Quem é?
William: Maitê (Ela franze a testa por um segundo, e então as sobrancelhas.)
Ximena: Não!
A sua diarista?
William: Qual é o problema?
Ximena: William, cacete, ela é sua diarista!
William: Bem, ela não é mais minha diarista.
Ximena: Eu sábia! Aquela vez que a encontrei. Na sua cozinha. Você estava tão esquisito e sendo todo atencioso com ela.
William: Não seja tão dramática.
Você não é assim.
Ximena: Claro que sou.
William: Desde quando?
Ximena: Desde que meu marido decidiu se matar, porra (digo entre os dentes) Pois então trepe com ela até ficar de saco cheio
William: Acho que nunca vou me encher dela.
Não quero.
Estou apaixonado.
Ximena: Você é louco.
William: Por quê?
Ximena: Você sabe por quê! Ela é sua faxuneira, cacete.
William: E isso importa?
Ximena: É claro que importa!
William: Não importa, não.
Ximena: Eis a prova.
Você perdeu o juízo se acha mesmo que isso não importa.
William: Perdi foi meu coração.
Ximena: Para a empregada!
William: Ximena, não seja esnobe.
A gente não escolhe quem ama.
É o amor que nos escolhe.
Ximena: O cacete! Não me venha com essa ladainha clichê. Ela não passa de uma interesseira imunda, William.
William: Cala a boca, Ximena! (Me levanto, furioso da injustiça, e meu nariz quase toca o dela.) Você não sabe nada sobre Maitê...
Ximena: Conheço o tipo.
William: De onde?
De onde?
Você. Conhece. O tipo. Dela. (Estou furioso. Como ela ousa julgar Maitê?
Porra. Ximena teve uma vida cheias de privilégios, assim como eu.
Ela empalidece e recua, me olhando como se eu tivesse acabado de lhe dar um tapa.
Cacete.
Isso está saindo do controle. Passo os dedos pelo cabelo.)
William: Ximena, não é o fim do mundo.
Ximena: Para mim, é.
William: Por quê? (Ela me encara com um olhar ao mesmo tempo magoado e furioso. Balanço a cabeça.) Não entendo. Por que está tão incomodada?
Ximena: E a gente?
William: Não existe "a gente" Nós trepamos. Estávamos de luto.
Ainda estamos.
Eu enfim encontrei alguém que me faz querer ser melhor, que me faz refletir sobre a vida que eu levo e...
Ximena: Mas eu pensei...
William: O que você pensou?
Na gente?
Nós dois juntos?
Já passamos por isso!
Já tentamos!
E você escolheu meu irmão!
Ximena: Nós éramos jovens.
E depois que Eugênio morreu...
William: Não, não, não. Você não tem esse direito.
Não tente fazer com que me sinta culpado. Sexo envolve duas pessoas, Ximena.
Foi você quem tomou a iniciativa quando estávamos nos sentindo vazios e sofrendo com o luto.
Talvez tenha sido só uma desculpa.
Não sei.
Mas nós dois não combinamos.
Nunca combinamos.
Tivemos a nossa chance, mas você resolveu trepar com o meu irmão.
Você escolheu a ele e o título dele.
Não sou a porra do seu prêmio de consolação. (Ela me encara boquiaberta, horrorizada.)
Ximena: Saia!
William: Está me expulsando da minha própria casa?
Ximena: Seu filho da mãe!
Saia daqui.
Anda! (Grito.)
William
Lágrimas se formam nos seus olhos.
E não aguento mais. Dou meia-volta e saio batendo a porta.
Maitê
Caminho apressada por uma rua secundária até o mercado que e conheço na Royal hospital Road.
É uma noite fria, escura, enfio as mãos bem fundo nos bolsos, grata pelo casaco quente que William lhe comprou.
Um calafrio percorre a minha coluna, arrepiando todos os pelos finos da minha nuca.
Olho para trás, de repente preocupada.
Mas tudo está quieto sob as luzes dos postes estou sozinha, exceto por uma mulher passeando com um cachorro grande do outro lado da rua.
Balanço a cabeça, censurando-me por ter feito tempestade em copo d'água.
A loja está mais cheia do que de costume. Pego uma cesta de compras, vou até a parte de produtos naturais e começo a escolher verduras.
Ivan: Olá, Maitê.
Como vai?
Maitê
Demora uma fração de segundos pra mim me dar conta de quem é a voz calma e conhecida falando em espanhol.
E demora mais uma fração de segundos para o medo tomar conta do meu coração.
Não! Ele está aqui!
William
Estou do lado de fora da residência tentando me acalmar.
Furioso, abotoo o casaco para me proteger do frio.
Fechando os punhos, enfio as mãos nos bolsos.
Estou com tanta raiva.
Com raiva demais para encontrar Maitê em casa.
Preciso andar um pouco para me acalmar. Dominado pelos meus pensamentos, mais do que puto, viro à direita e percorro o caminho pelo Chelsea.
Como Ximena pôde pensar que existia a possibilidade de ela e eu ficarmos juntos.
Nós nos conhecemos bem demais.
Devíamos ser amigos.
Ela é minha melhor amiga.
E é viúva do meu irmão, droga.
Mas, verdade seja dita, eu não fazia idéia de que ela tinha qualquer intenção comigo além de transar de vez em quando.
Ela está com ciúmes.
Da Maitê.
Minha cabeça está uma confusão só.
Faço cara feia ao atravessar a Oakley Street e passar pela garagem da Mercedes-Benz a elegância, nem a beleza consegue me alegrar.
Maitê
Me viro com o coração disparado e o medo percorrendo minhas veias.
De repente, me sinto tonta, com a boca seca.
Ivan está de pé na minha frente invadindo meu espaço pessoal.
Ele está perto.
Perto demais.
Ivan: Estive procurando por você.
Maitê: O-o-o-olá, Ivan (gaguejo, a voz trêmula e repleta de medo.)
Ivan: Você sem dúvida pode fazer melhor, querida.
Não vai nem dar um sorriso para o seu noivo?
Vim levá-la para casa.
Nenhuma palavra de carinho?
Não está feliz em me ver?
Maitê
Os olhos dele brilham de irritação, ele segura meu braço e aperta.
Ivan: Você vai vim comigo.
Gastei uma pequena fortuna para localizar você.
Seus pais estão arrasados com o seu desaparecimento, e seu pai me contou que você não entrou em contato com eles para que soubesse que estava sã e salva.
Você devia ter vergonha desse seu comportamento.
Mas vamos cuidar disso mais tarde.
Agora, vamos pegar suas coisas.
Vou levar você para casa.
Continua...
 

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