Pertencer a algum lugar

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⎯ Eu quero adotá-la, Ye-Jin. ⎯ Jin-ah disse, com os olhos fixos em mim.

Fiquei paralisada. Que tipo de brincadeira era aquela? Como uma pessoa iria pensar em me adotar quando já estou quase na fase adulta?

Será que ela e a sra. Choi estavam fazendo um péssima brincadeira de mal gosto para depois dizer que fui enganada e as duas começarem a rir de mim?

Eu não duvidaria de mais nada que vinha da Sra. Choi pois, ela já deixou bem claro nas suas ações e falas que não gosta de mim e que irá se sentir muito melhor quando eu não morar mais naquele orfanato.

⎯ O que?

⎯ Quero adotá-la, se você estiver de acordo, é claro. ⎯ Jin-ah veio até mim e segurou minhas duas mãos como se não tivéssemos acabado de nos conhecer. ⎯ Não posso levá-la embora se não for o que você quer.

⎯ Mas...

Olhei para Sra. Choi que estava com uma expressão indecifrável no rosto, e isso só podia signicar três coisas:

a) Que ela iria me repreender assim que Jin-ah fosse embora;

b) Que eu estava encrecada em continuar aquela conversa;

c) Estava aborrecida por Jin-ah não escolher as outras crianças;

Todas as opção iriam me levar para uma única coisa, então não tinha diferença. Sra. Choi sempre dizia que eu estava velha demais para agir como as outras crianças do orfanato. Isso também se aplicava para quando eu quisesse decidir meu próprio caminho, certo?

Eu não me importava. Por que não quebrar as regras pelo menos uma vez?

⎯ Será que eu posso falar com a senhora por um momento? ⎯ Perguntei a Jin-ah, com um pouco de receio.

Quando ela assentiu, nós duas fomos para o jardim que ficava atrás do orfanato, onde era um lugar tranquilo e calmo para conversar, embora eu soubesse que Sra. Choi estaria nos observando de algum lugar.

⎯ Não sei se é meu direito saber, mas por quê você quer adotar alguém como eu? Sou quase uma adulta e as outras crianças...

⎯ Na verdade, gostei de você assim que entrei aqui. ⎯ Confessou ela me pegando de surpresa. Depois de tudo que vivi naquele lugar, era difícil acreditar em qualquer pessoa. ⎯ Acho que é exatamente o que meu neto está precisando. Em outras palavras, ele... não tem muitos amigos e você me parece uma companhia ainda melhor que uma criança.

Então eu serviria apenas para ser companhia de alguém?

Amigos...

Essa palavra era bem estranha para mim. Eu não fazia ideia do que ela realmente significava e não sabia como eu poderia ajudá-lo.

⎯ Não posso aceitar, sinto muito. ⎯ Eu disse, com a voz fraca. O fato de ter uma família agora não era o que eu havia planejado. Além disso, eu tinha quase 20 anos. Viver tão pouco em uma casa, parecia estranho. ⎯ Ser adotada agora não é o que eu quero.

⎯ Então do que você precisa? ⎯ Ela segurou minhas mãos de novo, e me olhou com intensidade. Fiquei ainda mais assustada com tamanha bondade. Por que alguém perguntaria do que eu preciso? ⎯ Você não precisa deixar seus planos de lado apenas por morar comigo. Além disso, acho que vou passar um bom tempo sozinha já que meu neto se mudará em breve.

Mas eu não iria servir exatamente para ele não se sentir sozinho?

⎯ Seu neto irá embora?

⎯ Ele voltará a morar com a mãe. Não posso ser contra porque é uma escolha dele, mas não posso dizer que estou feliz. Eu cuidei dele durante 12 anos.

Jin-ah estava triste e confesso que fiquei um pouco abalada com suas expressões faciais. Pensando bem, talvez ela e a sra. Choi não tivessem fazendo uma teatrinho para me fazer de boba. Ela parecia está falando a verdade, mas pensar que tudo era verdade me deixava ainda mais assustada.

Fiquei em silêncio por alguns segundos para pensar. Ter uma família era o que eu mais quis durante anos da minha vida. Fiz tudo por isso e ainda assim fui decepcionada pelas minhas próprias expectativas. Mas, o tempo ajuda qualquer um e comigo não foi diferente. Aprendi que ninguém viria, porém quando finalmente alguém aparece, ser adotada tinha se tornado um sonho enterrado.

Mas, qual seria a sensação de pertencer a algum lugar? Qual era a sensação de ter para onde voltar e sempre ter alguém esperando por você? Jin-ah podia fazer isso por mim?

Com o coração apertado para descobrir minha curiosidade, eu disse:

⎯ Tudo bem. Eu aceito ir com a senhora.

O rosto de Jin-ah se iluminou e senti um sentimento estranho por ter alguém na minha frente que pareceu feliz por minha causa.

⎯ Prometo que será muito feliz pela decisão que tomou. ⎯ Ela Continuou. ⎯ Agora preciso falar com sua diretora e entrar com os papeis de adoção. Infelizmente essas coisas levam um tempo, mas logo você terá uma nova casa.

Ainda não sabia se tinha tomado a decisão certa. Pelo que aprendi nos livros, tomar decisões é a parte mais difícil de viver pois, você sempre tem duas opções ou mais opções que parecem tentadoras. Se eu ficar naquele orfanato vou continuar trabalhando exaustivamente para a Sra. Choi e mesmo sendo o melhor que posso fazer, não vai ser suficiente para agradá-la, porém dois meses não são nada para quem viveu 19 anos naquele lugar. Por outro lado, posso ir com Jin-ah e ter uma "família". No entanto, que tipo de pessoa o neto dela é? Alguém amável ou alguém desprezível?

⎯ E como ele é? ⎯ Me referi ao seu neto e ela entendeu imediatamente de quem eu estava falando.

⎯ Vamos dizer que ele é alguém um tanto difícil.

Fiquei tensa com sua resposta e ela pareceu perceber, porque diz logo em seguida:

⎯ Não se preoculpe quanto a isso, ele é assim com todo mundo no começo, contudo, irá se acostumar. Tenho certeza disso.

Ele provavelmente era alguém como Sra. Choi?

Ele era duas caras?

Tentei deixar pra lá e pensar apenas nos lados positivos, mas não funcionou tanto. Eu conseguiria lidar com mais alguém parecido com a Sra. Choi?

Se esse fosse o caso, eu não estava nem um pouco com vontade de me mudar. Lidar com pessoas difíceis era uma das coisas mais insuportáveis que poderia existir. Portanto, eu não deveria me preocupar tanto e sair julgando antes de realmente conhecê-lo.

Ele podia se tornar legal com o tempo, certo?

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