A última esperança

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Ser órfã, na realidade, pode parecer bem divertido. Você não tem pais para dizer o que fazer e quando fazer. No entanto, é bem mais assustador do que pode parecer. Sentir-se solitário todos os dias é apenas uma das coisas pelas quais você passa. A parte mais aborrecível, é saber que nunca vai encontrá-los e será para sempre alguém que foi abandonado por não atender às expectativas dos seus pais.

Para ser franca, não sei se fui abandonada de verdade. Porém, essa história foi repetida tantas vezes que é difícil não pensar na possibilidade de ter sido mesmo abandonada.

Segundo a diretora do orfanato onde moro, cheguei aqui há 19 anos atrás. Só perceberam que eu estava ali porque meu choro era muito exaustivo e irritante e os vizinhos começaram a reclamar do barulho.

O lugar na qual fui encontrada, é ainda mais decepcionante de descrever.

Eu era a criança mais antiga daquele orfanato já que todas as outras que chegaram antes foram adotadas por pais que antes eu considerava amorosos e alegres. Minha esperança falava mais alto sempre que adultos visitavam o orfanato porque, para mim, eu iria ser a escolhida. Isso era uma burrice.

Geralmente, crianças inteligentes e com algum talento especial eram as escolhidas. Como eu não tinha nada de especial...

Mas lutei para que isso fosse possível. Na escola, tornei-me a melhor aluna da classe apenas para ter algo de que me gabar quando os pais dos meus sonhos chegassem. Meu esforço e dedicação não foram promissores já que continuei naquele orfanato por mais tempo do que eu imaginava.

Quando completei 17 anos, não era mais considerada alguém que merecia ou precisava dos mesmos cuidados que os outr9s. Eu era a mais velha e devia começar a cuidar dos mais novos, segundo a diretora do orfanato. Aquilo não me deixou deprimida, na verdade eu gostava de pensar que era útil pra fazer alguma coisa.

Só que... eu parecia mais alguém que trabalhava do que alguém que morava naquele lugar. O trabalho era tão exaustivo que cheguei a desmaiar algumas vezes pois, não podia comer até que tudo estivesse terminado. Quando isso acontecia, a palavra dramática sempre enchia meus ouvidos onde quer que eu estivesse.

Eu deveria me sentir feliz e empolgada. Daqui à oito meses, eu seria considerada uma adulta e poderia tomar conta de mim mesma. Não que eu já não tomasse porque desde que aprendi o que cada coisa significava, entendi que nunca poderia confiar em ninguém de verdade, isso significava que só eu mesma poderia cuidar de mim.

Bem... eu achava que queria isso...

Certa tarde, cheguei da escola e fui mandada limpar a sala, pois as crianças mais novas tinham derramado tintas enquanto faziam o dever de casa. Era sempre um desafio limpar tudo aquilo sozinha, mas sempre dava certo no final, então eu apenas aceitava como se fosse mais uma etapa para ser cumprida antes de ir embora.

Mas a campainha tocou. Não costumávamos receber visitas nas tardes, então hesitei um pouco antes de ir até a porta para atender. Pais que queriam adotar alguma criança sempre escolhiam finais de semana para aparecer e nós éramos avisados com antecedência. Bem... o aviso era para as crianças. Eu apenas escutava e ignorava porque sabia que os pais dos sonhos não existiam.

Aceitei os cabelos, mas ajeitar as roupas sujas não iria ser possível. Quem quer que fosse, não teria interesse nenhum em mim ou nas minhas roupas sujas que dariam um trabalhão parar limpar, secar e depois usar no dia seguinte para ir à escola novamente.

Fui abrir a porta e me deparei com uma senhora bem vestida e um sorriso amável. Ela não parecia alguém que adotaria uma criança. Na verdade, deveria ter filhos e até mesmo netos. Seus cabelos já tinham uma tonalidade branca, resultado do tempo que se passava. Ela usava roupas de tom claro na qual o tecido me parecia tão caro quanto a bolsa que ela segurava com a mão direita.

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