Confissões sem sinceridade

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⎯ Onde estamos? ⎯ Perguntei para San-ha que olhava animadamente para um prédio onde eu nunca tinha estado antes.

⎯ Como assim você não sabe? ⎯ Ele desviou seu olhar para mim esperando que eu adivinhasse, então seu  olhar animado sumiu logo em seguida e deu espaço para indignação quando não respondi o que ele queria ouvir. ⎯ Você nunca esteve em um karaoke antes?

Claro que não. Quando eu morava no orfanato, não tinha tempo para sair para lugares assim. Além disso, não era permitido. Os únicos lugares onde eu poderia e deveria ir, segundo a Sra. Choi, eram a escola e o orfanato, todos os outros lugares divertidos eram totalmente descartados. Porém, isso não era uma coisa que eu podia revelar para San-ha agora. Talvez eu pudesse dizer quando não morasse mais com Cha Eunwoo e isso não demoraria muito para acontecer.

⎯ Não sei se é um boa ideia estarmos aqui. Minha voz é... ⎯ Tentei dizer, mas San-ha me puxou para adentrar o ambiente. Portanto, não tive como dizer não.

A verdade era que cantar não era uma das minhas especialidades.

Karaoke é algo popular entre os jovens. Eu só não tinha encontrado um motivo para isso. O que tinha de tão divertido cantar com uma voz horrível? O que tinha de mais em cantar para aliviar as mágoas. Isso não fazia o menor sentindo na minha mente.

⎯ Eu começo. ⎯ San-ha tirou a mochila das costas quando entramos em uma sala e jogou ela em cima dos sofás como se não se importasse muito com o estado que seus livros e os outros matérias fossem ficar.

Ele pegou o microfone e começou a escolher que música iria cantar, já eu, sentei no sofá e me encolhi. Eu não queria cantar porque isso me faria passar muita vergonha. Se eu contasse, San-ha sairia daquela sala precisando ver um otorrinolaringologista.

Ele logo começou a cantar e senti como se tivesse escutando a voz de um anjo. Era tão... tão calma. Sua voz me fez esquecer que estava nervosa. Me fez esquecer até que tinha que voltar para casa. Ele cantava como se estivesse sozinho. Como se eu não existisse naquela sala. Pelo menos era isso que eu achava que talvez ele estivesse sentido.

⎯ Sua vez.

Não. Não. Não.

Nem pensar eu deixaria ele escutar minha voz.

⎯ Preciso ir ao banheiro. ⎯ Levantei de onde estava e andei até a porta. Eu esperava que ele não tivesse notado meu nervosismo porque tinha certeza que estava deixando isso bem aparente. Mas se ele notou, não disse nada.

Corri até a porta e quando saí, quase esbarrei com Cha Eunwoo que estava tentando disfarçar o fato de está tentando ouvir através da porta. Tomei um susto logo de início porque não esperava que aquilo fosse acontecer. Fiquei brava um segundo depois do susto passar. Eu não acreditava que ele tinha me seguido até ali.

⎯ O que você está fazendo aqui? ⎯ Perguntei, fechando a cara.

San-ha que provavelmente tinha ouvindo, saiu e ficou atrás de mim observando tudo. Agora que ele tinha ouvido eu falando com Cha Eunwoo, saberia que ele e eu nos conhecíamos e eu não poderia fazer nada. Se Eunwoo queria tanto esconder o fato de morarmos juntos, ele deveria está em casa e não na minha frente com a cara de uma criança que foi pega fazendo algo muito errado.

Cha Eunwoo olhou para San-ha e depois para mim. Sua cabeça deveria está uma confusão já que ele não conseguia encontrar as palavras para responder a minha pergunta. Mas ele teria  que abri a boca uma hora ou outra para falar alguma coisa ou ficaríamos ali a noite inteira olhando um para o outro.

⎯ Eu... ⎯ Ele hesitou. Acho que percebeu o que tinha causado. A culpa de San-ha descobrir que ele e eu nos conhecíamos não era minha. ⎯ Eu também vim cantar. ⎯ Ele passou por nós e entrou dentro da sala onde San-ha e eu estávamos antes. ⎯ Acham que só vocês podem cantar?

San-ha olhou para mim confuso e para não ter que explicar, entrei também e sentei no sofá novamente.

Eunwoo pegou o microfone da mão de San-ha como se eles fossem rivais. Em seguida escolheu uma música e começou a cantar. Por um momento, esqueci até da raiva que sentia anteriormente. Parecia até que ela tinha evaporado do meu corpo depois que ele começou a cantar.

Não era possível que a única que não sabia cantar era eu. Era triste o fato dos dois terem vozes tão bonitas quando a minha era tão...

Quando Eunwoo acabou, ele olhou para San-ha como se tivesse vencido uma batalha que sóele enxergava, mas San-ha não pareceu se intimidar. Talvez ele ainda estivesse processando tudo que tinha acontecido e eu não me sentiria diferente se fosse ele.

⎯ Está com fome? ⎯ San-ha perguntou para mim de repente.

Balancei a cabeça e coloquei a mochila nas costas para sair. Eu não estava com fome mas queria sair dali de qualquer jeito. Se Cha Eunwoo queria só cantar acho que ele já tinha realizado seu desejo e não precisava mais seguir a gente. Então, a partir daquele momento, eu esperava que ele voltasse para casa e me deixasse em paz.

San-ha e eu saímos. E também Cha Eunwoo. Sim. Ele não parou de nos seguir mesmo eu demonstrando como estava desconfortável com ele por perto. Não era que a presença dele me deixasse assim, mas sim o fato dele não ter explicado nada para San-ha sobre nós dois. Éramos como estranhos andando pela calçada da rua sem dizer palavra alguma.

Nós três entramos em um restaurante de macarrão e sentamos na mesa mais próxima da janela. Eu queria que o vento tocasse meu rosto e me deixasse mais calma porque aquela situação já estava me deixando impaciente. Principalmente quando Eunwoo se fazia de desentendido.

Embora estivéssemos na mesma sala de aula. Eu nunca troquei nenhuma palavra com Eunwoo desde que cheguei e San-ha deve ter percebido que eu não falava com mais ninguém além dele. Era estranho o fato de Eunwoo e eu parecermos tão próximos de repente.

⎯ Vocês se conhecem de outro lugar, não é?

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