A Mudança

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Cinco meses se passaram e finalmente Jin-ah conseguiu me adotar. Eu iria me mudar para uma nova casa e para uma nova vida. Jin-ah vinha me visitar duas vezes todas as semana. Ela dizia que o processo de adoção estava quase sendo concluído, mas eu sabia que ainda iria demorar pra isso realmente acontecer. Paciência era a única coisa que eu poderia ter naquele momento.

Eu arrumei uma pequena mala no chão do quarto em que dormia. Eu não tinha muita coisa para colocar dentro, apenas algumas poucas roupas.

A lembrança de como Sra. Choi reagiu depois que Jin-ah foi embora ainda golpeada meus pensamentos violentamente. Era como se aquilo fosse a coisa mais importante que aconteceu na minha vida na qual eu não conseguia esquecer.

⎯ O que acha que está fazendo? ⎯ Perguntou ela, severamente.

⎯ Achei que tivesse o mesmo direto de todas as outros. ⎯ Respondi, com calma e fiz um pausa antes de continuar. ⎯ Ainda sou uma órfã, certo? Ainda posso ser adotada.

Sra. Choi burfou. Suas bochechas estavam vermelhas e suas mãos não paravam de gesticular na minha frente.

Quando eu ainda era a criança e era mais baixa que ela, tenho que confessar que ela me assustava bastante toda vez que eu cometia erros que ela não aprovava ou aceitava minhas desculpas. No entanto, eu cresci, tinhamos a mesma altura, e eu ainda me sentia da mesma forma.

⎯ Por que quer ser adotada? ⎯ Ela Continuou. ⎯ Em poucos meses você já será uma adulta. O processo de adoção pode demorar mais do que você imagina e até lá, com certeza já terá seus 20 anos. Não era isso que queria o tempo todo?

Fiquei irritada. Antes, eu esperaria meus 20 anos chegarem, mas agora, eu queria ter uma família. Apenas por alguns meses eu queria ter uma casa para chamar de minha. Queria ter alguém para me esperar voltar e também queria alguém que se preocupasse comigo. Nunca tive nenhuma dessas coisas e agora que eu podia ter, por que alguém achava que tinha o direito de me impedir?

⎯ É uma pena que isso não seja uma decisão da senhora.

Sra. Choi me encarou parecendo ter sido pega de surpresa. Ela nunca tinha sido contrariada por mim nenhuma vez desde que eu me lembre. Mas, não era hora para me arrepender do que eu havia falado. Não, eu não estava arrependida.

Não iria deixar ela falar comigo como quisesse. Tenho certeza que não tinha feito nada para ser tratada daquele jeito.

⎯ Sou sua superior ainda, Ye-Jin. Disso você não pode esquecer. Nunca. ⎯ Ela abriu um sorrisinho debochado ao falar. ⎯ Posso fazer com que essa adoção não seja concluída. Então, pense bem nas palavras que saem dessa sua boca suja.

Boca suja?

⎯ Não me importo de esperar esses meses estão. ⎯ Eu disse, sem deixar suas palavras tirarem minha confiança. ⎯ alguns meses não são nada em comparação ao tempo que eu morei aqui.

Realmente não me importava se ela fizesse mesmo minha adoção não funcionar. Aposto que Jin-ah entenderia se não conseguisse. Isso não queria dizer que eu não quisesse ser adotada.

Depois de dizer aquilo, decidi voltar para o quarto. Já estava cansada de ouvir ela falar e não me importava mais com que ela fizesse. Subi lentamente as escadas pois tinha certeza que ela iria dizer meu nome em voz alta ou fazer um escândalo ainda pior porque eu estava sendo desobediente. Mas não escutei nem mesmo um suspiro de frustração da parte dela enquanto eu estava de costas.

Jin-ah já me esperava na frente do orfanato quando olhei pela janela. Um carro preto estava estacionado ao lado dela. Acenei para que ela me visse, mas acho que seus olhos estavam fixos na porta já que ela não acenou de volta.

Desci as escadas apressadamente e fui ao encontro dela.

⎯ Está pronta? ⎯ Perguntou ela. Sua voz estava carregada de uma alegria intensa.

⎯ Pronta. ⎯ Sorri, mostrando que também estava feliz em me mudar.

Antes de entrar no carro, dou uma ultima olhada para o orfanato. Sra. Choi estava nos olhando pela janela da diretoria. Eu sabia que o fato da adoção ter dado certo estava matando ela. Sabia que ela sentia um certo desconforto por mim desde que cheguei no orfanato. Contudo, por quê ela não estava feliz quando eu estava saindo de sua vida? Eu estava indo embora, então ela devia está contente já que não teria mais que me ver todos os dias.

⎯ Apenas seu neto mora com você? ⎯ Olhei para Jin-ah com ar pensativo. ⎯ Não lembro se já me disse antes, sinto muito.

⎯ Ah, não. ⎯ Ela fazia gestos com as mãos enquanto falava. ⎯ Minha outra filha também mora comigo. Tenho uma neta que vai adorar conhecer você.

Pensei que Jin-ah morasse praticamente sozinha, mas sua casa tinha muitas pessoas na verdade.

⎯ Ah, também tem Kevin. ⎯ Continuou ela.

⎯ Kevin?

⎯ Kevin é nosso mordomo. Porém ele também faz parte da nossa família, ainda que ele diga que não. ⎯ Jin-ah refletiu bastante antes de continuar. ⎯ Kevin é uma pessoa importante para nós.

É... realmente tinha muitas pessoas. Acho que eu iria gostar de viver assim. Não gostava tanto da solidão como achei que gostasse.

O caminho até o destino não era tão perto assim. De acordo com meus cálculos que eu tinha absoluta certeza estarem certos, havíamos passado por 7 paradas de ônibus.

⎯ Chegamos! ⎯ Jin-ah saiu do carro e foi para o meu lado esperando que eu saísse.

Mas eu estava paralisada olhando para o tamanho da casa. Depois disso, entendi o fato dela se sentir sozinha. Poderiam viver uma população inteira ali e com certeza ela ainda sentiria esse sentimento.

⎯ Estamos no lugar certo? ⎯ Eu ainda não acreditava que ia morar em uma casa daquele tamanho, então me senti obrigada a perguntar para ter certeza.
Jin-ah deixou encapar uma risada.

⎯ Sim, querida. Estamos no lugar certo. ⎯ Ela abriu a porta do carro para me tirar do transe que me prendia ali. ⎯ Se apresse e saia. Tenho que apresentar você à sua nova família.

Ouvir aquela palavra fez meu coração bater mais rápido por breves segundos. Teve tempos que eu odiava ouvir qualquer coisa sobre família e sinônimos dessa palavra. Eu realmente gostava no nosso significado que ela tinha se tornando para mim.

Saí do carro e andei ao lado dela lentamente, ainda com o olhar fixo na casa. Me sentia tão feliz que até tinha esquecido de como prestar atenção por onde andava.

Três pessoas nos esperavam na entrada. Uma mulher com uma expressão calma segurava a mão de que concluí ser sua filha, como Jin-ah havia me dito no carro. A criança aparentava ter uns 10 anos de idade? Não tinha certeza, mas ela tinhas as bochechas vermelhas como tomates.

Um homem de meia idade esperava nossa chegada com uma expressão indecifrável. Ele usava um terno preto e tinha nas mãos luvas brancas. Imaginei ser Kevin.

⎯ Essa é minha filha mais nova Si-a e minha neta, Ji-Woo ⎯ Disse Jin-ah, segurando a mão da filha mais nova. ⎯ Ah, e esse é Kevin.

Olhei para Kevin e dei um sorriso gentil, mas Kevin parecia ser alguém muito sério, pois manteve sua expressão indecifrável no rosto. Ele apenas se curvou para mim.

⎯ É um prazer conhecê-la, Ye-Jin. ⎯ Si-a disse, com um brilho nos olhos. Ela se parecia bastante com Jin-ah até na forma de sorrir.

⎯ É um prazer conhecer vocês também. ⎯ Falei um pouco nervosa. A felicidade estava comigo, mas o nervosismo também fazia questão de sempre está presente. ⎯ Espero que possamos viver bem.

Um minuto de silêncio se instalou no ambiente e percebi que Jin-ah olhava para os lados procurando alguma coisa. Seu rosto estava sério.

⎯ E onde está Cha Eunwoo? ⎯ Ela perguntou, tentando olhar para dentro da casa.

Kevin e Si-a hesitam em dizer alguma coisa no primeiro momento, mas logo em seguida Si-a se apressou em dizer quando percebeu o ar decepcionado de sua mãe:

⎯ Ele ainda está dormindo.

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