JUVENTUDE

Da água para o vinho

Depois de trocar de roupa, Si-a me levou para escola que era uma diferença enorme da minha.

Primeiro: Era muito maior.

Segundo: O jardim era incrivelmente bem cuidado. As árvores, por exemplo, pareciam ter sido contadas para ficar do mesmo tamanho.

Terceiro: Tinha muito mais gente do que eu pensei que teria. Mas isso era bem óbvio pelo tamanho da escola.

Depois que Si-a falou com o diretor e explicou o meu atraso, pude ir para minha nova sala. Meu coração deu um salto quando entrei e vi Chan Eunwoo conversando com outros meninos. Assim que ele me viu, fechou a cara e cruzou os braços.

Eu teria que aguentar ele ali também?

Talvez Jin-ah tenha pedido para que eu ficasse na mesma sala que ele para podermos nos dar melhor e ter uma boa relação. Porém aquilo não ia funcionar se só um de nós estivesse disposto a aceitar e aguentar um ao outro.

⎯ Atenção, todo mundo. ⎯ A professora disse. ⎯ Temos uma nova aluna que se juntará a nós a partir de hoje.

Ela olhou para mim esperando que eu assumisse depois dali. Mas como eu iria fazer aquilo? Continuei na mesma escola há tanto tempo que não me lembrava mais como me apresentar para muitas pessoas.

⎯ Oi... É... quer dizer... Olá. ⎯ Eu estava travando mais que um CD ralado. ⎯ Eu me chamo Ye-Jin.

Suspirei de alívio quando finalmente consegui dizer meu nome. Era difícil falar quando a atenção de muitas pessoas estavam em mim.

⎯ Seja bem-vinda Ye-Jin. ⎯ A mulher ao meu lado sorriu gentilmente. ⎯ Você pode escolher onde quer se sentar.

Não que eu tivesse muita escolha. Havia apenas um lugar que não estava ocupado.

Fui lentamente para o meu lugar, mas meu olhar com o de Cha Eunwoo pareciam querer devorar um ao outro. Eu esperava que ele não tentasse fazer nada enquanto estivéssemos na escola. Eu não tinha mais roupas para trocar. Em casa eu ainda tolerava, mas na escola eu não estava preparada para os planos que ele tinha contra mim.

Depois do café da manhã, eu podia ter certeza que aquilo era só o começo e ele ainda iria tornar minha vida mais difícil até que, por vontade própria, ele se cansasse.

Mas, para meu alívio, ele não tentou nada durante um bom tempo de aula. Talvez ele quisesse que seus amigos não percebessem que nos conhecíamos e muito menos que morávamos na mesma casa. Era melhor assim. Se ele tivesse esse medo de chegar perto de mim enquanto estava na frente deles, eu estava segura.

⎯ Oi?

O garoto ao meu lado aproveitou que as primeiras aulas tinham terminado para falar comigo. Eu me assustei um pouco quando ele falou pois não estava esperando que ninguém falasse comigo.

Na minha antiga escola, era exatamente assim. Eu não tinha que abrir minha boca nenhuma vez ao dia quando estava naquele ambiente. A única menina que falava comigo sentava ao meu lado e sussurrava algumas palavras quando precisava de ajuda com alguma matéria que tinha dificuldade. Eu tinha que ajudá-la escrevendo bilhetes porque não seria bom ser vista conversando com alguém como eu. Sem pais.

Um tempo atrás alguns pais foram na escola pedir que seus filhos fossem mudados de sala por minha causa. Apesar do diretor ter escondido isso muito bem, não era difícil descobrir alguma coisa já que qualquer fofoca se espalhava como uma doença contagiosa.

É por esse motivo que não esperava nenhuma palavra ser direcionada à minha pessoa daquela forma. Ou talvez... ele ainda não soubesse de onde eu vinha.

⎯ Oi. ⎯ Eu disse meio desconfiada.

Esperava que aquele menino não fosse nada de Cha Eunwoo. Esperava que ele não fosse arrogante comigo como Eunwoo era.

⎯ É um prazer. ⎯ Ele estendeu a mão para me cumprimentar. ⎯ Eu me chamo San-ha.

Toquei na mão dele e disse:

⎯ Eu sou Ye-Jin. ⎯ Quando notei o que havia dito, tentei consertar imediatamente. Eu já tinha me apresentado para todo mundo quando cheguei. Não precisava falar aquilo de novo. ⎯ Quer dizer... é um prazer também.

Ela começou a rir como se eu tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo. No começo achei estranho mas tentei acompanhar seu entusiasmo para ele não peceber que eu não tinha encontrado o motivo de sua risada.

No entanto, me senti feliz em saber que pelo menos para alguém eu era engraçada. Embora não tivesse feito quase nada para aquilo acontecer. E embora também aquele momento fosse durar por pouco tempo até ele descobrir quem eu era de verdade.

⎯ Agora que sentou do meu lado, vamos ser uma equipe. ⎯ Contou ele.

⎯ É assim que funciona?

⎯ Sim. A pessoa que senta ao seu lado vai ser sua dupla pelo resto do ano.

Na minha antiga escola não era bem assim. Podíamos escolher quem seria nossa equipe quando ela não era escolhida pelo próprio professor. Mas agora, tudo havia mudado, eu teria que aprender tudo em questão de pouco tempo.

⎯ Achei estranho você ser transferida quando falta tão pouco para o ano letivo acabar. ⎯ Continuou ele. ⎯ Onde você estudava antes?

⎯ Eu... ⎯ Como poderia explicar isso sem envolver minha nova vida? ⎯ Eu estava em um lugar bem distante daqui.

Olhei para Cha Eunwoo, mas tomei um grande susto quando percebi que ele também estava olhando na minha direção. No mesmo instante desviei o olhar para algum lugar aleatório. Com certeza ele pensava que eu estava falando dele.

San-ha percebeu minha agitação e olhou para onde eu olhava anteriormente. Agora ele teria certeza que estávamos falando dele, ainda que o assunto não tivesse chegado a tocar em seu nome.

⎯ Você conhece ele? ⎯ Perguntou San-ha.

Eu assenti lentamente ainda na dúvida se dizia ou não sobre conhecer ele.

⎯ Não gosto dele. ⎯ San-ha disse com amargura. ⎯ Não gosto nem um pouco.

Meus ombros tensos relaxaram quando aquelas palavras encheram meus ouvidos.

Ótimo, já tínhamos algo em comum.

⎯ Eu também não. ⎯ Eu disse sem peceber. Estava distraida pensando no que ele falaria quando chegássemos em casa.

⎯ Por quê não gosta dele? ⎯ Perguntei, depois de parar por um momento de pensar na bronca que levaria quando chegasse em casa. Acho que nem precisaria chegar em casa. Quando estivéssemos longe dos olhares curiosos, Cha Eunwoo me faria dizer tudo.

⎯ Ele é um exibido sem noção.

Isso eu já sabia.

⎯ E você? ⎯ San-ha me olhou curioso. ⎯ Por que não gosta dele?

Eu deveria contar?

Deveria dizer sobre os acontecimentos mais cedo em casa quando ele derramou suco de propósito para sujar meu uniforme? Deveria dizer que morávamos juntos e ele não estava nem um pouco feliz com a minha presença?

Não... melhor não...

Cha Eunwoo talvez quisesse que ninguém soubesse sobre morarmos juntos. Eu não me importaria de contar de onde vim se isso não envolvesse com quem eu passei a morar depois. Ele iria pegar mais no meu pé se soubesse que contei sobre viver debaixo do mesmo teto que ele.

⎯ Pelo mesmo motivo que você. ⎯ Eu disse, interrompendo meus próprios pensamentos ⎯ Ele é um exibido sem noção.