Caramba, é um ataque cardíaco

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Embora Cha Eunwoo tivesse fingindo que sentia muita dor depois que eu tinha empurrado ele no chão. Seu cotovelo estava realmente machucado e percebi isso quando voltávamos para casa e vi uma pequena mancha de sangue ultrapassar o tecido das mangas de sua jaqueta.

Por me sentir culpada por ter feito o que fiz, eu disse que cuidaria do braço dele e faria um curativo para que aquele machucado não se tornasse algo maior e pior.

⎯ Você pode por favor parar de se mexer? Assim não vou conseguir terminar nunca.

⎯ Está doendo. ⎯ Ele disse e se encolheu mais uma vez fazendo caretas de vez em quando.

⎯ Se você parasse de se mexer talvez eu já tivesse terminado.

⎯ É muito fácil falar. Se você estivesse no meu lugar, não seria do mesmo jeito?

Dei de ombros e continuei limpando seu cotovelo. Já estávamos ali fazia muito tempo porque Cha Eunwoo não parava quieto reclamando que estava doendo. O que era engraçado é que ele não estava sentindo dor até eu dizer que seu cotovelo estava sangrando.

A culpa tinha sido minha, é claro. Mas eu estava tão desesperada naquela hora que só conseguir pensar em puxá-lo para longe dos carros. Talvez ele estivesse com um machucado bem maior caso eu não tivesse me apressado. Comecei a pensar no que teria acontecido se eu tivesse demorado mais para chegar.

⎯ Como você achou Ji-Woo? ⎯ Perguntou ele, ainda fazendo careta.

⎯ Ela estava escondida dentro do castelo.

Esperei ele dizer que era minha culpa. Esperei ele colocar a culpa toda em mim por não ter prestado mais atenção em Ji-Woo, mas ele não fez nenhum comentário maldoso e apenas continuou sentado esperando que eu terminasse seu curativo.

⎯ Ji-Woo gosta de se esconder. Ela fazia isso o tempo todo quando eu vim morar aqui.

⎯ Você mora aqui há muito tempo? ⎯ Terminei e comecei a guardar todas as coisas que tinha tirado da maleta.

⎯ Há mais ou menos 10 anos.

Ele estava lá bem mais tempo que eu e por isso eu deveria entender o porquê de tudo ter acontecido daquele jeito. Talvez Cha Eunwoo não gostasse de dividir algo que era seu por tanto tempo e direito.

⎯ Me desculpe por ser um idiota, Ye-Jin. ⎯ Ele disse quando não falei mais nada.

Eu estava com medo de falar de mais e ele descobrir que eu já sabia uma boa parte da história por trás do que aconteceu na sua vida. É claro que eu gostaria de saber, mas talvez ele gostaria de me dizer e não que outra pessoa tivesse me dito.

⎯ Sinto muito pela maneira como fui rude quando você chegou. Minha recepção foi detestável. ⎯ Ele abriu um sorriso torto ao lembrar. ⎯ Não sei como demonstrar minhas emoções tão facilmente e isso não é sua culpa, mas eu fiz parecer como se fosse e tenho certeza que isso fez você se sentir péssima em relação a mim. Você não precisa entender isso agora, mas...

⎯ Eu entendo. ⎯ Falei rapidamente. ⎯ Você não precisa se desculpar... Quer dizer... Se você quiser tudo bem, mas... Eu queria dizer que entendo você.

Por que era tão difícil explicar uma coisa quando se estava nervosa?

Ele me olhou como se uma confusão tivesse se formado em sua cabeça. Naquele momento, desejei poder engolir todas as minhas palavras porque ele podia enxergar meu nervosismo e se distanciar de novo.

⎯ Eu vou embora na semana que vêm então você não precisa mas se preocupar com a minha presença. ⎯ Ele sorriu amargamente e saiu da cozinha.

Não gostava do fato dele me dizer isso. Não gostava do fato de saber que ele iria embora. Não gostava de não querer que ele fosse embora porque durante todos os dias que morei naquela casa eu queria apenas me livrar de Cha Eunwoo. Queria que ele estivesse longe de mim e quanto maior fosse a distância maior seria minha felicidade. Mas agora... Por que eu não sentia o mesmo? Por que queria que ele ficasse?

Pensei que estivesse ficando louca, então guardei tudo e coloquei de volta no lugar. Em seguida fui para o quarto e deitei na cama. Tentei dormir, mas algo me incomodava e tinha certeza que tinha algo a ver com Eunwoo. Eu deveria querer que ele ficasse longe, assim eu não precisaria me preocupar, no entanto, eu não queria isso.

Minha relação com Eunwoo estava caminhando bem de um tempo para cá. Mesmo que fosse uma caminhada lenta e com vários desafios, estava indo. E provavelmente seria isso. Eu estava feliz pelo fato disso está acontecendo e não poderia ser outra coisa além disso. Porém, quando as coisas estavam indo bem ele tinha que simplesmente ir embora? Isso não era justo...

Levantei da cama rapidamente e eu estava decidida. Iria perguntar o porquê ele tinha que ir embora para um lugar em que ele se sentiria mal. Na verdade, eu não sabia se ele ia se sentir mal, mas por tudo que Jin-ah me contou sobre sua mãe, era de se esperar que isso aconteceria. A minha vida toda eu queria ter pais, contudo, preferia ficar perto de pessoas que gostassem da minha existência do que alguém como a mãe de Eunwoo. Eu estava com um pouco de inveja, talvez. Pelo menos ele ainda tinha... Mãe.

Quando abri a porta, tomei o maior susto da minha vida. Cha Eunwoo estava parado na minha frente com a mão fechada como se estivesse preste a bater na minha porta. Fiquei paralisada sem conseguir dizer o que queria e deveria. Eu tinha todas as palavras organizadas para perguntar os motivos que ele tinha para ir embora, mas quando ele estava na minha frente todas elas sumiram como se nunca estivessem estado lá.

⎯ Eu só queria perguntar se posso molhar o curativo. ⎯ Ele foi mais rápido e perguntou primeiro. ⎯ Esqueci de perguntar... antes.

⎯ Ah. ⎯ Segurei a maçaneta com tanta força que minha mão começou a doer. ⎯ Acho que você não deve molhar por enquanto. ⎯ Consegui dizer. ⎯ Se não terei que fazer tudo novamente.

Ele balançou a cabeça indicando que tinha entendido.

⎯ Por acaso... ⎯ Prendi a respiração. Parecia que as próximas palavras que ele ia dizer eram tudo que eu desejava ouvir no mundo. ⎯ Você quer me dizer alguma coisa?

É claro que eu queria. O único problema era não conseguir.

⎯ NÃO... Boa noite.

Fechei a porta tão rápido e corri para entrar debaixo das cobertas. Eu queria esconder o quanto estava nervosa e envergonhada até para mim mesma.

As palavras na minha cabeça ainda estavam uma bagunça. Eu nem mesmo tinha recuperado o fôlego que não sabia que tinha perdido.

E o que eu tinha para perguntar se tornou algo impossível depois daquilo...

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