Quando o sentimento começa

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No outro dia, fui para escola sozinha pois Cha Eunwoo precisava descansar um pouco mais por tudo que tinha acontecido na noite anterior. Não o vi quando estava saindo de casa, mas pretendia vê-lo quando chegasse pois estava realmente curiosa para saber como ele estava.

⎯ Oi. ⎯ Disse eu para San-ha assim que sentei ao seu lado na escola.

Ele me olhou com indiferença. Não tive tempo de falar com ele também depois que saí da escola com Jin-ah. Eu sabia que ele já sabia de tudo que tinha acontecido porque todos sabiam. Todos viram aquele maldito papel.

⎯ Você está bem? ⎯ Ele perguntou para mim.

⎯ Eu já esperava que isso acontecesse alguma hora. ⎯ Não respondi sua pergunta porque eu ainda não sabia se estava bem ou não. ⎯ Não podemos esconder nada para sempre.

Só que eu esperava que esse segredo pudesse durar um pouco mais. Agora, todo mundo sabia que eu morava com Cha Eunwoo e iriam me olhar diferente por causa disso. Eu não queria ser lembrada por causa de outra pessoa. Eu não tinha nada de especial para ser lembrado além do meu segredo que não era mais segredo.

⎯ Eu não me importo nem um pouco de você ter sido adotada. ⎯ Disse San-ha quando percebeu meu silêncio. ⎯ Na verdade, essas coisas são irrelevantes. Você tem pessoas que te amam agora, não é mesmo? Só isso deveria importar.

Era tão mais fácil falar, mas eu entendia o que San-ha queria dizer com aquilo. Ele realmente tinha razão. A única coisa que importava era que minha nova família gostava de mim independente de onde eu vim. Gostavam de mim pelo que eu era.

⎯ Bom, para animar você o que acha de jantar na minha casa hoje? ⎯ Ele perguntou.

Eu realmente não esperava isso. Naquele dia eu queria voltar para casa logo para poder ver como Cha Eunwoo estava. Depois que fui uma egoísta, queria me redimir o máximo que conseguisse.

⎯ Não acho que seja uma boa ideia.

⎯ Por que? Você tem planos?

Meu único plano poderia se tornar um fracasso se Cha Eunwoo estivesse de mau humor. Geralmente quando acontecia algo na noite anterior, ele sempre acordava arrogante mais do que o normal.

⎯ Tudo bem, eu aceito. ⎯ Eu disse depois de pensar melhor.

Eu podia vê-lo e perguntar como ele estava depois de voltar da casa de San-ha.

Depois de comer mais do que devia, resolvi voltar para casa. Os pais de San-ha eram adoráveis e a comida era mais adorável ainda.

⎯ Você já precisa voltar? ⎯ Perguntou San-ha, enquanto ele lavava a louça e eu secava.

⎯ Sim. Eunwoo não está muito bem e quero voltar para saber como ele está. ⎯ Aquilo saiu como se fôssemos muito próximos. Até esqueci que San-ha e Eunwoo praticamente se odiavam.

San-ha parou o que estava fazendo e me encarou com uma expressão que resolvi fingir não entender.

⎯ Achei que não se dessem bem um com o outro

⎯ É verdade. ⎯ Pensei, tentando imaginar como se daria aquela conversa. ⎯ Mas moramos na mesma casa e é impossível não saber das coisas que estão acontecendo. Então, eu deveria perguntar como ele se sente de vez em quando.

⎯ Não acho que ele mereça tanto assim sua atenção. ⎯ Ele desligou a torneira, pegou um paninho e começou a secar as mãos. ⎯ Eu ainda não esqueci o que ele fez com você.

De qual coisa ele estava se referindo? Cha Eunwoo ja tinha feito muitas coisas comigo.

⎯ Também não esqueci. só acho que não conheço ele o suficiente para saber o porquê de tudo isso. Talvez ele simplesmente não goste do fato de morarmos na mesma casa. Ou talvez eu seja mesmo um pouco irritante. Mas, não vou desistir de tentar ter uma boa relação com ele. Jin-ah acha que estamos nos dando muito bem e eu não quer decepcionar ela.

⎯ Então está fazendo isso apenas pela vó dele?

Sim?

Não?

⎯ Eu... ⎯ Olhei para o relógio na parede e percebi que já estava atrasada para voltar pra casa. ⎯ Eu preciso voltar agora. Diga aos seus pais que gostei bastante.

Peguei a mochila e coloquei nas costas.

⎯ Eu posso levar vo...

⎯ Não precisa. ⎯ Me apressei em dizer pois queria aproveitar o caminho de volta sozinha sem me preocupar com perguntas que eu sei que ele faria. ⎯ Eu chegarei em casa rapidinho.

Antes que ele continuasse insistindo, saí de sua casa. Se ele me acompanhasse provavelmente me perguntaria mais coisas sobre Eunwoo na qual eu não saberia responder. Bom, talvez eu soubesse responder, mas não queria dizer minhas respostas. Era difícil até para mim mesma entender, então outras pessoas também não entenderiam.

Cheguei em casa depois de pegar o ônibus. Na hora que disse que chegaria em casa rapidinho não era uma verdade já que a casa de San-ha ficava bem distante de onde eu morava. Mas, isso não era um problema, pois minha antiga escola também era distante do orfanato e todos os dias eu fazia o mesmo caminho. Eu ainda não tinha me desacostumado de coisas como essas.

Abri a porta da frente e entrei em casa com passos silenciosos.

⎯ Onde você estava?

Tudo estava tão silencioso e calmo que quando a voz de Eunwoo ecou pela sala tomei um susto tão grande que tive certeza que meu coração pulou uma batida.

⎯ Você deveria está aqui há duas horas atrás. ⎯ Ele estava encostado na parede perto da escada com os braços cruzados, mas começou a vir em minha direção como se eu fosse uma suspeita de algum crime.

⎯ Eu estava com San-ha e... ⎯ Respondi sem graça.

⎯ Ah, ele de novo. ⎯ Ele revirou os olhos e parou na minha frente. ⎯ Na verdade eu já sabia.

⎯ Então, por que perguntou?

Eu não quis parecer grossa, mas acho que isso foi a única coisa que deixei transparecer. Eunwoo deu um risinho de deboche e voltou a me olhar como se eu guardasse o maior segredo do mundo apenas para mim.

⎯ Você deveria parar de andar com ele se vai falar com as outras pessoas desse jeito agora. ⎯ O jeito que ele me olhava com seriedade estava me deixando aflita. ⎯ San-ha não parece uma boa influência pra você.

E ele era?

⎯ Isso não é culpa dele. ⎯ Desviei dele e tirei a mochila para me sentar no sofá.

⎯ Como você sabe que não? Você nem o conhece direito.

⎯ Talvez você não conheça.

⎯ O que há com sua língua hoje?

Ótimo. Nada estava diferente. Cha Eunwoo continuava com seu humor e provocações normais. Isso queria dizer que ele estava ótimo.

⎯ Ah, você chegou, Ye-Jin. ⎯ Si-a atravessou a sala junto com Ji-Woo. ⎯ Você poderia me fazer uma favor?

Eu estava bem cansada de ter andado tanto até em casa, mas eu faria qualquer coisa por ela e qualquer um daquela casa.

Exceto Eunwoo...

⎯ Claro. ⎯ Respondi.

⎯ Eu iria levar Ji-Woo para o parquinho, mas recebi um telefonema urgente. Você poderia levá-la para mim, por favor?

⎯ Claro que posso. ⎯ Segurei a mãozinha de Ji-Woo.

⎯ Muito obrigada, prometo que não irei demorar para voltar.

⎯ Ei, por que está pedindo para ela e não pra mim? ⎯ Perguntou Eunwoo para Si-a, cruzando os braços.

⎯ Que tipo de pergunta é essa? Você nunca quer ficar com Ji-Woo, pois diz que ela é muito barulhenta.

Tentei desfaçar o riso e Cha Eunwoo ficou envergonhado.

⎯ Hoje é um dia diferente. ⎯ Continuou ele. ⎯ Eu também vou levá-la no parquinho.

⎯ Ótimo, façam isso juntos. ⎯ Soa-a olhou uma última vez para filha e saiu apressada. Aposto que ela estava receita de deixar nós dois cuidando dela.

Estava tudo indo bem até ele se oferecer para ir também. Não que eu achasse isso tão ruim. Mas parecia que ele tinha escolhido aquele dia para me provocar. Nem precisei perguntar se ele estavam bem porque sabia exatamente que se ele não tivesse, não teria dito uma palavra para mim.

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