Joga tão sujo

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⎯ Espera. ⎯ San-ha se levantou também e se posicionou ao meu lado como se fosse meu guardião e pudesse me livrar de qualquer castigo imposto pelo nosso professor. Fiquei feliz pela coragem que ele tinha, mas isso não ia funcionar nem mesmo se toda a sorte do mundo caísse sobre mim. ⎯ O senhor não pode fazer isso.

⎯ Sugiro que você fique quieto se não quiser se juntar a ela também. ⎯ O professor olhou uma última vez para mim e saiu novamente da sala.

Não fiquei com medo porque já tinha passado por coisa demais para me preocupar com qualquer castigo.

⎯ Você não precisa se preocupar. ⎯ San-ha disse baixinho. As mãos dele estavam um pouco trêmulas. Parecia até que ele quem tinha ganhando uma punição por mau comportamento. ⎯ Eu posso explicar o que aconteceu para ele na hora do almoço.

Eu estava tão desanimada que precisa de uma dose de seretonina para voltar ao meu estado normal. Olhei para Eunwoo que tinha voltado a se sentar em seus cadeira. Ele parecia bem concentrado na sua lição, mas eu sabia que ele estava escutando minha conversa com San-ha.

Eunwoo e eu nos olhamos e telepaticamente sabíamos os pensamentos um do outro. Ele sabia exatamente que eu não deixaria aquilo passar. Eunwoo ficou tão nervoso depois de um segundo olhando para minha expressão séria que começou a fazer o barulho irritante com a caneta de novo.

Como eu já tinha um castigo promissor, não me importava de conseguir dois. Peguei a caneta dele e quebrei no meio sem nenhum remorso.

⎯ Que isso fique como aviso. ⎯ Me virei para San-ha e fiz questão que todos escutassem quando falei em voz alta. ⎯ Está tudo bem, San-ha. Vou fazer com que esse sem noção tenha o que merece. ⎯ Voltei a encarar a atividade quase finalizada na minha frente. ⎯ E como vai...

Na hora do almoço tive que me direcionar para a pista de atletismo na parte exterior da escola. Eu estava morrendo de fome por ter pulado o café da manhã porque estava atrasada. Antes de tudo acontecer eu estava torcendo para que a hora do almoço chegasse, mas eu estava prestes a receber minha punição que não estava com a mínima vontade de imaginar o que seria.

⎯ Quero que percorra a pista vinte vezes.

Vinte?

Não podiam ser apenas uma? Aquela pista era enorme e eu jamais conseguiria terminar as vinte voltas antes do horário do almoço terminar.

⎯ Como é que é? ⎯ Perguntei ainda não acreditando no que teria que fazer. Só de pensar no que teria que fazer meu coração batia descontroladamente.

⎯ Se não começar agora vou ser obrigado a acrescentar mais dez. ⎯ Ele tocou o relógio enorme no pulso diversas vezes como um tom sarcástico.

São só vinte voltinhas...

Começo a correr antes que o professor mude de ideia. E no começo até que não foi tão difícil, mas quanto mais o tempo passava, mais eu ficava cansada. Parecia que a pista dobrava de tamanho para cada volta que eu dava. Eu estava ficando zonza e minha visão ficava embaçada de vez em quando. No entanto, se eu parasse, não terminaria nunca e eu só tinha dado oito voltas.

Minha garganta estava seca e meu estômago pedia para que eu me alimentasse. Eu não conseguia explicar para meu professor meus motivos já que a única coisa que importava era a hierarquia naquele maldito lugar. Além disso, eu não podia me atrever a desrespeitar nenhum superior.

⎯ Você precisa parar.

Olhei para o lado ainda com a visão embaçada. Era Cha Eunwoo e ele corria seguindo o mesmo ritmo que eu. Ele tinha me colocado naquela situação e agora queria que eu parasse?

⎯ Você está surda? Eu disse que você deve parar. ⎯ Insistiu ele.

Contudo eu não parei e quando ele percebeu que não conseguiria me convencer, parou de correr junto comigo. Cheguei no ponto em que minhas pernas perderam um pouco a força, então comecei a andar em um nível moderado para não cair e ter que começar tudo de novo.

⎯ Ye-Jin, por favor!

Olhei novamente para o lado, mas dessa vez era San-ha que me acompanhava. Por que eles estavam fazendo. Aquele castigo não era deles.

⎯ Você não precisa continuar.

⎯ Eu preciso. ⎯ Consegui dizer. ⎯ Estoi quase acabando de qualquer maneira.

Um mentira total. Faltavam mais dez voltas, mas de algum modo, me convencer de que estava acabando até me fez querer continuar.

⎯ Você não precisa correr vinte voltas para mostrar que é forte. ⎯ Ele gritou começando a ficar ofegante. ⎯ Se você sabe que é forte não precisa mostrar para os outros também.

Eu queria poder dizer alguma coisa, mas estava fraca de mais para aquilo. Tudo começou a girar e então eu caí e bati meu joelho contra o chão com bastante força.

⎯ Ye-Jin!

Mesmo que estivesse longe eu ainda conseguia ouvir a voz de Cha Eunwoo. Conseguia ouvir os passos pesados de San-ha correndo até mim e conseguia sentir o suor escorrer.

⎯ O que está fazendo? Eu carrego ela. ⎯ Disse Eunwoo. Embora eu tivesse com os olhos fechados, ainda conseguia saber que San-ha e ele estavam perto de mim.

⎯ Jura? Depois de ter feito Ye-Jin levar toda a culpa, ainda quer ajudá-la? Isso é tudo por sua causa afinal. ⎯ Retrucou San-ha. ⎯ Isso tudo é culpa sua.

Consegui abrir os olhos e San-ha me ajudou a levantar. Foi difícil andar pulando com apenas um pé, mas conseguimos chegar na enfermaria sem que eu desmaiasse.

Sentei na cadeira próxima à estante de remédios e San-ha ficou andando de um lado para o outro como se não conseguisse se controlar. Ele não tinha se cansado de correr tanto?

⎯ Por que não senta também? ⎯ Perguntei.

⎯ A enfermeira não está aqui e seu joelho está sangrando.

⎯ O que? ⎯ Olhei meu joelho e tomei um pequeno susto quando percebi que o sangue estava quase conseguindo alcançar meus tênis.

⎯ Eu mesmo farei isso! ⎯ San-ha pegou a maleta de primeiros socorros e sentou em uma cadeira na minha frente. ⎯ Não precisa se preocupar, meus pais são médicos e eu sei o que estou fazendo.

Não consegui dizer nada. Ele parecia muito agitado para ouvir um: Não toque no meu joelho machucado. Então, concordei com a cabeça e ele começou a procurar alguma coisa para limpar o sangue.

De repente, a porta da enfermaria foi aberta com tanta força que meu machucado parou de ser o centro das atenções naquela sala.

⎯ O que você está fazendo? ⎯ Eunwoo entrou na sala com uma expressão indecifrável. Eu não sabia se ele estava com raiva ou nervoso, ou os dois ao mesmo tempo. Embora as duas coisas não fizessem diferença naquela hora.

A cadeira que San-ha sentava tinha rodinhas e por isso foi empurrada para longe por Eunwoo. Ele tomou a maleta das mãos de San-ha e pegou outra cadeira para se sentar na minha frente.

Eu estava tão perdida que não sabia o que estava acontecendo. Primeiro Cha Eunwoo fazia eu ser punida por algo injusto e depois queria fazer meu curativo? Sinceramente, esse garoto era impossível de até mesmo tentar entender. Ele parecia ser um idioma muito difícil de se aprender e por isso precisava se estudado muito para conseguir compreender cada detalhe.

⎯ Eu irei fazer seu curativo.

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