A Revolta

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⎯ Esse é seu quarto senhorita.

⎯ Kevin, não precisa me chamar de senhorita. ⎯ Disse eu, segurando a maçaneta da porta. ⎯ Eu sou apenas a Ye-Jin.

Ter alguém sendo tão formal comigo era bem estranho. Acho que eu não conseguiria me acostumar mesmo que eu vivesse um século naquela casa. Portanto, apenas dizer meu nome já era o bastante.

⎯ Claro senhor... ⎯ Ele se Interropeu. ⎯ Quer dizer, Ye-Jin.

⎯ Obrigada.

⎯ Precisa de ajuda para desfazer as malas? ⎯ Perguntou ele, ainda com sua expressão séria.

⎯ Não tinha muita coisa para trazer, então acho que posso fazer isso sozinha.

Sorri sem jeito e Kevin foi embora me deixando sozinha. Abri a porta lentamente porque estava nervosa. Jin-ah disse que agora eu teria um quarto apenas para mim e sinceramente eu sabia como era essa sensação.

No orfanato tínhamos que dividir qualquer coisa. Comida, roupas, sapatos. Eu não dividia muitas coisas já que a maioria das pessoas que viviam no orfanato eram crianças e é claro que minhas roupas não serviriam para elas.

Prendi a respiração e entrei no quarto. Ele era simplesmente maravilhoso e estava muito acima do que eu tinha sonhado. Haviam duas janelas que quando me aproximei pude ver Kevin regando a grama no jardim.

Não demorei muito fazendo aquilo, pois percebi que estava quase anoitecendo. Tirei todas as roupas que havia trazido e coloquei elas dentro do novo armário e essa foi a única coisa que eu fiz.

Depois de terminar, deitei na cama e quando estou quase fechando os olhos, o som de batidas na porta invadiram o ambiente.

⎯ Ye-Jin?

Era Jin-ah.

⎯ Está pronta para o jantar? ⎯ Continuou ela, entrando no quarto, mas quando viu meu semblante, acrescentou. ⎯ Está cansada? Se você não se sentir bem para comer com a gente, posso pedir que tragam o jantar para você comer aqui.

Que ousadia da minha se pedisse aquilo.

⎯ Não. Claro que não. ⎯ Me apressei em dizer. ⎯ Eu não estava cansada, é que... A cama é bem confortável.

Jin-ah sorriu e veio até mim.

⎯ Não está dizendo isso por não querer me magoar?

⎯ Não é isso. ⎯ Eu Disse. ⎯ Eu quero muito jantar com você e sua família.

⎯ Agora é sua família também, querida.

Senti meu coração se aquecer quando ela disse isso. Era bom saber que já era bem-vinda por ela. Apesar de não ter sido tão bem-vinda assim pelo neto dela, eu estava me sentindo feliz. Talvez ele precisasse mesmo de um tempo para se acostumar.

Quando sentei na mesa, todos começaram a conversar. Fiquei calada pois não sabia o que acrescentar para aquela conversa fluir, mas continuei prestando atenção como se tivesse muito enteressada em saber, embora eu não tivesse entendendo muita coisa sobre nada da conversa. Era bom mesmo que eu ficasse calada se não quisesse cometer um erro e falar alguma coisa que não agradasse as pessoas ali.

A mesa estava cheia de cômodas se todos os tipos. Eu nunca tinha visto tanta comida em toda minha vida e não sabia nem por onde começar a provar.

⎯ Ye-Jin, tenho uma ótima notícia para você. ⎯ Jin-ah disse sorridente.

A conversa tinha criado um novo rumo e eu era o assunto principal.

Não respondi, mas olhei atentamente para ela, demonstrando que estava prestando atenção.

⎯ Bom, espero que não seja cedo demais para dizer isso... ⎯ Jin-ah pareceu refletir bastante antes de continuar. ⎯ Amanhã, se você estiver à vontade com isso é claro, voltará a ir a escola.

Eu gostaria de voltar a escola pois comecei a pensar no que faria se passasse o dia inteiro em casa. Eu acho que poderia morrer de tédio apesar de ter muitos lugares para explorar naquela casa enorme.

Após Jin-ah de dizer que eu iria para a mesma escola que seu neto, vi a expressão do garoto mudar completamente. Ele estava sentado de frente para mim, então mesmo que ele escondesse que o que sua vó disse não o deixou confortável, ainda assim eu saberia.

⎯ O que? ⎯ Ele soltou os talheres que, para minha surpresa, foram gestos bem elegantes, e encarou Jin-ah, como se não tivesse entendido o que ela tinha dito de primeira, mas eu tinha certeza que ele havia entendido muito bem. Talvez tivesse entendido até mais que eu.

⎯ Ye-Jin estudará na mesma escola que você. ⎯ Jin-ah repetiu.

⎯ Por que? Ela não pode ficar onde ela já estava? Por que tem que ser logo na minha escola?

⎯ E que problema tem nisso, querido? ⎯ Jin-ah pareceu não entender o motivo dele ter se descontrolado. Eu também não entendia. Apesar da minha recepção não ter sido o que eu esperava, poderíamos tentar nos dar bem e ir para mesma escola não seria um problema.

Ao analisar a expressão dele, percebi que estava muito zangado. Em um nível em que eu nunca tinha presenciado antes. Tudo bem, eu já tinha entendido que ele não era alguém fácil como Jin-ah mesmo tinha me falado. Na verdade aquele garoto era impossível.

Eu não era bem-vinda para Cha Eunwoo e ele fazia questão de deixar isso bem claro para que todos soubessem.

⎯ Eu... ⎯ Falei, quando me dei conta de que a discussão já tinha tomado o lugar do apetite. ⎯ Eu posso continuar na minha antiga escola.

Não teria problema em continuar lá. Faltava apenas meses para acabar mesmo, e mesmo que não faltasse, era muito melhor do que criar uma briga que não iria levar ninguém a lugar nenhum. Eu já estava acostumado com minha antiga escola de qualquer maneira.

Mas, minha escola antiga ficava tão longe...

⎯ Mas sua escola fica muito longe, querida. ⎯ Disse Jin-ah, parecendo ter lido meus pensamentos. ⎯ Acho que lembra o tempo de viagem do orfanato até aqui. Então, não se preocupe. Eunwoo e eu teremos uma conversa clara e demorada depois do jantar. ⎯ Ela olhou fixamente para o neto. ⎯ Acho que dei uma boa educação para ele e isso não deve se repetir.

Ele ficaria ainda com mais raiva de mim por levar uma bronca da avó. Agora todas as chances que eu tinha de mostrar que não era uma ameaça tinham evaporado como água em fusão.

Ele ficou tão furioso que deixou a mesa e saiu. Porém, o clima continuou estranho e todo mundo perdeu a fome, principalmente eu que estava tão ansiosa para o jantar.

⎯ Peço desculpas, Ye-Jin. ⎯ Disse Jin-ah.

⎯ Ah, não tem nenhum problema. Eu entendo perfeitamente ele.

Mas não entendia tanto assim. Tá, ele até podia não gostar de mim, mas eu ficaria muito aliviada se ele falasse essas coisas quando eu não estivesse presente ou quando eu não estivesse ouvindo, assim pouparia que eu ficasse me sentindo uma estranha no meio de pessoas que eu queria que fossem minha família.

Acho que fui uma boba de pensa que seria tão fácil assim. O conceito família, não era do jeito que eu pensava. Era mais complicado do que eu podia imaginar e naquele momento me senti estúpida por não ter pensado melhor.

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