Doce e Amargo

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Ele estava com medo?

Será que agora ele sentia o que eu senti quando ele me deixou na escola sozinha?

Seria muito ruim da minha parte querer que ele sentisse isso. Eu já havia ficado muitas vezes sozinha. Isso já era tão familiar para mim que fazia meu desespero por ter ficado sozinha na escola não parecer tão assustador assim. Eu deveria já está acostumada com aquele tipo de sensação.

Voltei a me sentar ao seu lado e não repondi. Talvez ele não se importasse mais se chegássemos na escola juntos. E se importava, ele não deixou que eu percebesse.

Quando descemos do ônibus Cha Eunwoo se afastou e correu para seus amigos que estavam caminhando a alguns metros à minha frente.

E SIM, ELE AINDA PENSAVA O MESMO. Ele ainda não queria chegar na escola junto comigo ou ser visto comigo.

Mas eu não me importava com o que ele fazia, na verdade. Com os poucos dias que vivemos na mesma casa, percebi como ele mudava de humor rapidamente quando eu estava por perto. Ele era alguém que emitia um frio escárnio e eu deveria começar a me acostumar também.

⎯ Você está atrasada. ⎯ San-ha disse quando sentei-me ao seu lado e deitei minha cabeça na mesa para esconder meu rosto vermelho por ter corrido dois andares para no me atrasar para as aulas.

⎯ Eu sei. ⎯ Minha voz saiu em uma entoação mais fraca do que o normal.

⎯ O que aconteceu com sua mão?

Levantei a cabeça e olhei para minha mão enfaixada. Aquilo seria a primeira coisa que as pessoas olhariam quando eu passasse por perto.

⎯ Foi um acidente. ⎯ Contei. ⎯ Mas não foi tão grave, eu só... fui muito desatenta.

San-ha analisou meu rosto tão intensamente que tive que desviar o olhar para não ficar constrangida. Sabia que ele estava curiosa pois não fui tão precisa em dizer que fui descuidada e é claro que aquilo não explica porque minha mão estava enfaixada. Porém, explicar aquilo era ainda mais difícil.

⎯ Aconteceu mais alguma coisa? ⎯ Ele perguntou. ⎯ Você parece deprimida.

Balancei a cabeça demonstrando que ele tinha razão. SIM eu estava deprimida por ter queimado minha mão e não ter conseguido entregar os biscoitos para Ji-Woo. Isso não tinha nenhuma relação com Eunwoo e seu modo zombeteiro de lidar comigo.

⎯ Acho que posso resolver isso. ⎯ Disse ele sorrindo, como se tivesse uma fórmula mágica para resolver todos os problemas do mundo.

Como uma especialista em arrumar problemas, eu sabia que não existia problemas que pudessem ser resolvidos com fórmula mágica. Eles tinham que ser lidados com paciência. Bastante paciência...

⎯ Como? ⎯ Perguntei após notar a empolgação que ele esperava para que eu perguntasse sobre aquilo.

⎯ Você saberá mais tarde.

Fiquei desapontada. Por que só mais tarde quando ele podia dizer naquele momento? Por que as pessoas gostavam de fazer surpresa quando era bem mais fácil dizer de uma vez? Aquilo estava me matando e San-ha parecia gostar de me ver agitada o dia inteiro porque ele não disse mais nenhuma palavra sobre o assunto. Passei a manhã e o começo da tarde tentando arrancar informações dele. Porém San-ha não se deixava levar pelas minhas tentativas de descobrir a verdade.

Percebi que não estava mais tão deprimida assim porque passei o dia inteiro ocupada pensando em outra coisa. Então o que San-ha fez valeu apena afinal. Me fez esquecer quase que completamente do que tinha acontecido na noite anterior. Não era como se eu não pensasse nisso de vez em quando durante as aulas. Mas isso foi se perdendo nas minhas memórias porque eu estava mais focada em tentar descobrir os planos de San-ha.

Depois que as aulas terminaram pedi que San-ha saísse antes de mim pois ainda precisava guardar o resto dos livros. Isso era mentira, é claro. Na verdade, eu queria dizer para Cha Eunwoo que não voltaria para casa com ele pois iria sair com San-ha para algum lugar que passei o dia inteiro tentando descobri. Então guardei minhas coisas lentamente até que não restasse mais ninguém além de Eunwoo e eu na sala de aula.

⎯ Você pode dizer para Jin-ah que vou chegar um pouco mais tarde hoje? ⎯ Perguntei sentindo um pouco de medo por está falando com ele na escola. O contrato que fizemos (Que não tinha feito nehuma diferença até agora) deixava claro que eu não deveria fazer isso. Mas hoje era uma exceção e esperava que ele pudesse relevar.

⎯ Aonde você vai?

⎯ Não sei. ⎯ Era realmente a verdade. Para onde iríamos mesmo?

Cha Eunwoo me olhou como se eu fosse alguém que não sabia o que estava dizendo. Tudo bem. Talvez eu não soubesse mesmo.

⎯ Não sabe?

⎯ San-ha não me disse aonde iríamos, então provavelmente...

⎯ Espera! Quem? ⎯ Ele me Interropeu sendo que eu nem tinha terminando de falar. Eu odiava quando ele fazia aquilo pois sabia o que vinha depois.

⎯ Esquece! Já estou atrasada de qualquer maneira. ⎯ Eu coloquei a mochila nas costas e comecei a caminhar para fora. Eu só queria que ele dissese para Jin-ah o que eu havia pedido anteriormente. Eu não precisava dizer com quem eu iria.

Cha Eunwoo me alcançou e ficou na minha frente andando de costas. Era incrível que mesmo assim ele conseguia andar daquela forma sem tropeçar em ninguém.

⎯ Por que não me respondeu. ⎯ Seu rosto se transformou em uma mistura de expressões. Eu não sabia qual decifrar primeiro já que midava a cada segundo. ⎯ E por que está saindo com ele?

⎯ Não se preocupe, não irei dizer que você mora comigo... Quer dizer... que eu moro com você. ⎯ Sorri amargamente e passei por ele, porém Cha Eunwoo não desistiu e começou a caminhar com passos pesados do meu lado.

⎯ Acho que você esqueceu que vamos ter que voltar de ônibus já que nosso carro está com problemas.

Parei.

Parei por que percebi que ele só queria está comigo quando precisava de ajuda. Ele não queria voltar sozinho simplesmente porque nunca tinha andando de ônibus para nenhum lugar. Ele só estava sendo legal porque precisava de mim, mas quando não precisou, esqueceu quem tinha o ajudado. Não que eu considerasse isso uma ajuda. Só andamos de ônibus e nada mais.

⎯ Acho que pode fazer isso sozinho, certo? ⎯ Me virei para ele e cortei totalmente o clima que já estava muito pesado. ⎯ Para com esse papinho. Você não é mais uma criança.

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