Quem eu sou de verdade

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Quando cheguei na escola, percebi que havia papeis no chão voando para todos os lado por causa do vento. No começo não dei tanta importância até porque meu foco estava apenas em chegar na sala rápido, mas quando muitas pessoas começaram a me encarar, senti um desconforto e tive que pegar um dos papéis do chão para ver o que eles estavam vendo.

Era uma foto minha em algum lugar da escola. Eu estava distraída tomando suco de caixinha e por isso não estava olhando para a câmera. Era como um panfleto e em cima da minha foto tinha o nome bem grande: ÓRFÃ. Logo abaixo da foto, dizia que eu não tinha pais e fui abandonada porque ninguém me queria.

O pensamento de ter sido abandonada não me incomodava há muito tempo, mas depois de ver aquilo fiquei totalmente deprimida. Era como se eu tivesse voltado no passado e fosse apenas uma criança perdida. Era como se eu nunca pudesse contar com ninguém para dizer como foi meu dia ou para dizer que eu estava bem. Esse sentimento foi desaparecendo quando coloquei na minha mente que não precisava de ninguém. Só que todo mundo precisa de alguém nem que seja para dizer um oi e ouvir um olá.

Parei de enxergar as pessoas à minha volta e só conseguia pensar em como estava sendo ridicularizada na frente delas. Eu não estava preparada para passar por isso e nunca estaria.

⎯ Você está bem? ⎯ Senti Eunwoo se aproximar. Ele tirou o papel da minha mão e amassou. ⎯ Se você quiser, eu posso dizer pra eles que isso não é verdade. Posso dizer que você mora comigo.

⎯ Por que? ⎯ Abaixei a cabeça e falei irritada. ⎯ Você é rico e isso vai resolver todos os meus problemas? Tá. Eu não me importo com o que eles dizem ou pensam de mim. É a verdade, não é mesmo? Eu fui abandonada e ninguém nunca vai poder mudar isso. Nem mesmo você e seu dinheiro.

Dizer que não me importava doeu ainda mais. É claro que eu me importava. É claro que eu queria ter tido pais como as outras crianças. É claro que eu não queria está passando por isso.

Olhei uma última vez para Eunwoo e saí sem dizer mais nada. Não fui pra sala como estava planejando antes daquilo tudo acontecer. Na verdade, me tranquei em uma cabine do banheiro e fiquei lá ouvindo meninas entrarem e sairem o dia inteiro. Muitas delas comentavam e faziam piadinhas sobre mim que eu não achava nem um pouquinho engraçado. Outras falavam de coisas banais na qual eu não dava muita importância.

Passei horas naquele lugar. Passei horas segurando o choro mesmo estando sozinha. Eu não queria demonstrar para mim mesma o quanto estava magoada. Eu só queria sumir por um tempo até que todo mundo esquecesse. Até que eu esquecesse...

Saí do banheiro quando percebi que já estava ficando tarde e que já tinha passado muito tempo sozinha pensando no meu passado. Além disso, fui grossa com Cha Eunwoo porque estava brava. Afinal, ele parecia está sendo sincero quando falou comigo.

Ainda assim, eu ainda me sentia deprimida e queria que as pessoas não tivessem descobrido daquela forma. Saber lidar com as histórias do passado era meu maior objetivo depois do que tinha acontecido. Eu não queria me sentir daquele jeito nunca mais.

Eu estava indo para casa, mas vi Jin-ah encostada na parede do correndor por onde eu iria passar. Ela olhou para mim como se já soubesse de toda a história e me senti aliviada por não ter que explicar. Corri até ela e a abracei porque precisava mostrar como estava gradecida por ela está ali.

As lágrimas logo vieram também e tudo que eu estava segurando desabou de uma só vez.

⎯ Tudo bem querida, eu estou aqui. ⎯ Ela tentou me confortar dando tapinhas nas minhas costas. ⎯ O que acha de irmos para casa agora?

Disse que sim e nós duas voltamos para casa. Tive que explicar a história completa porque ela sabia apenas de algumas coisas ditas por Eunwoo. Ele havia ligado para ela depois que saí correndo. Eu não queria ter que pensar naquilo de novo, mas Jin-ah merecia saber porque foi ela quem me adotou. Foi ela que assumiu toda a responsabilidade por mim e eu nunca iria saber como retribuir por isso.

⎯ Eu quero que saiba que você é minha família também e não importa de onde você veio. ⎯ Ela disse, fazendo meu coração se aquecer. ⎯ Eu não sabia que todas essas coisas incomodavam você, então me desculpe por não perceber. Prometo que serei mais cuidadosa com isso e farei com que você não se sinta pressionada em morar nessa casa.

Quando vim morar na casa de Jin-ah, eu já tinha todos os meus planos certos para sair de lá assim que atingisse a maioridade. Mas agora, eu não queria ir embora. Jin-ah tinha sido minha primeira família e a primeira pessoa a se importar verdadeiramente comigo. Eu não queria ter que ir para outro lugar.

⎯ Não sei se tenho direito de dizer isso... ⎯ Continuei. ⎯ Mas... Se for possível, é claro. Eu gostaria de continuar morando aqui mesmo quando tiver vinte anos. Percebi que não tenho mais aonde ir.

Jin-ah sorriu como eu nunca tinha visto antes.

⎯ Então quer dizer que você finalmente mudou de ideia? Saiba que eu estava esperando você dizer isso há muito tempo.

Eu não queria ficar ali apenas por essa causa. Lembrei que Jin-ah tinha dito certa vez que Eunwoo iria embora quando terminasse o ensino médio assim como eu. Eu não queria que ela sentisse falta de duas pessoas. Além disso, eu acho que seria uma boa companhia.

⎯ Bom, o que acha de saímos um pouquinho? ⎯ Jin-ah perguntou.

⎯ Aonde vamos?

⎯ Lembra que você me prometeu que iria sair comigo? Acho que essa é a hora perfeita.

Ela tinha razão. Eu não tinha nada para fazer de qualquer maneira, e ficar em casa sozinha pensando bobagem era a opção errada para se escolher. Eu deveria respirar um pouco de ar também ao invés de ficar trancada dentro de um quarto.

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