Porque quebramos as regras

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Eu não conseguia entendê-lo.

⎯ Por que está aqui? ⎯ Perguntou San-ha para Eunwoo. ⎯ Qual é a sua afinal?

⎯ Puxa, que pena! Não respondo pessoas intrometidas. ⎯ Eunwoo parou e encarou San-ha com acidez. Além disso, ele ainda era um hipócrita por falar de intromissão. ⎯ Isso é entre mim e ela.

⎯ Vocês poderiam, por favor... ⎯ Tentei dizer, mas eu mesmo desisti de tentar dizer algum argumento válido para os dois pararem.

⎯ Você é o maior idiota que já conheci. Está fingindo que se importa porque tem medo que sua vó acabe com sua festa. ⎯ San-ha pegou a maleta das mãos de Cha Eunwoo. ⎯ O mínimo que pode fazer é pedir desculpas.

⎯ Para com esse papinho. ⎯ Ele puxou novamente a maleta para si. ⎯ Eu conheço a Ye-Jin melhor do que você. Já esqueceu que nós moramos juntos?

Como se aquilo significasse alguma coisa...

Nós fizemos um contrato dizendo que mesmo que vivêssemos na mesma casa, iríamos agir como se a existência um do outro fosse insignificante. Ele não estava agindo conforme as regras.

⎯ Isso não significa nada quando você é um idiota que só pensa em si mesmo.

⎯ Vocês dois se afastem da garota! ⎯ Uma mulher vestida com um jaleco branco entrou na enfermaria.

Agradeci mentalmente por ela ter aparecido. Minha cabeça estava começando a doer por está ouvindo novamente uma discussão entre San-ha e Eunwoo. Era uma discussão totalmente sem fim se alguém não chegasse e atrapalhasse tudo.

⎯ Eu farei o curativo dela, então peço que vocês dois se retirem da minha sala.

⎯ Mas... ⎯ Eles falaram ao mesmo tempo.

⎯ Sem mais. ⎯ Ela pegou a maleta das mãos de Cha Eunwoo e fez gesto para que ele se afastasse. ⎯ Já estou sabendo o que aconteceu e Ye-Jin precisa de descanso. Vocês dois estão fazendo ela piorar com essa tentativa fracassada de provar qual dos dois é o melhor.

Os dois se olharam e chegaram em um consenso silencioso. Eles saíram e finalmente tive o silêncio que precisava desde o começo. A enfermeira fez meu curativo cuidadosamente e em seguida pediu que eu voltasse para casa, pois eu não conseguiria assistir mais aulas depois de tudo que tinha acontecido.

Gostei de como ela me tratou. Acho que ela não se importava de onde eu vinha. Talvez para ela eu fosse como qualquer um que já passou por ali. Ela era jovem e por isso ainda devia ter o espírito adolescente.

Depois que cheguei em casa, Jin-ah perguntou o que tinha acontecido e tive que mentir dizendo que passei mau por não comer nada antes de ir para a escola. Eu não queria dizer a verdade pois sabia como ela ficaria triste em saber que Cha Eunwoo e eu não estávamos nos dando bem como ela pensava.

Ainda tive que esconder meu curativo antes que ela percebesse. Eu teria que inventar outra mentira para camuflar o que havia acontecido também. O problema é que estava ficando fácil mentir depois de contar tantas mentiras. Eu odiava aquilo.

Tomei banho e Jin-ah pediu que colocassem meu almoço no quarto para eu não ter que descer as escadas novamente e fiquei aliviada pelo gesto compreensivo dela. Antes de voltar para casa eu comi uma maçã na enfermaria, mas não sabia por quanto tempo uma maçã enganaria meu estômago.

Durante o tempo em que comia, eu não conseguia parar de pensar no que aconteceu e mesmo que eu tentasse afastar a memória, ela continua voltando involuntariamente. Eu tinha mesmo que suportar tudo aquilo? Não era mais fácil voltar para o lugar de onde eu pertencia? Só faziam duas semanas que eu estava morando naquele lugar e já estava pensando em desistir. O que eu faria nas próximas semanas?

Depois de terminar de comer deitei na cama e acabei adormecendo por longas horas e só acordei quando ouvi batidas na minha porta do meu quarto. As batidas não foram tão altas mas foi o suficiente para me fazer acordar.

⎯ Ye-Jin, podemos conversar?

Era Cha Eunwoo, mas não me movi nenhum centímetro para fora da cama. Eu não queria ter que falar com ele agora e tentaria ao máximo não cruzar o caminho com ele nos próximos dias. Eu só não sabia o que fazer quando fôssemos para a escola. Eu iria ignorá-lo? Fingir que ele não existia? Ou... eu apenas devia responder como fazia todas as vezes?

Sinceramente, eu não estava pronta para falar com ele depois do que tinha acontecido. Além disso, eu não queria aceitar a realidade. Eu não queria aceitar que ele não iria mudar e que nunca ia me aceitar naquela casa. Mas isso era tão difícil quanto dizer que eu nunca mais iria comer bolo de chocolate.

Cha Eunwoo parecia tão diferente algumas vezez. Depois ele mudava completamente e ficava a mesma pessoa de antes. Eu gostava do Eunwoo que conversava comigo como se fôssemos duas pessoas próximas ou no mínimo amigáveis. Mas, odiava o Eunwoo exibido e mesquinho. Nesse Cha Eunwoo eu tinha vontade de bater quando minha raiva falava mais alto.

Nós éramos duas pessoas diferentes e talvez não fôssemos nunca ter uma boa relação um com o outro. Porém, eu pretendia acreditar que essa hipótese não tivesse esperança.

Ele desistiu de bater na porta depois que não fui atendê-lo. E eu esperava que ele tivesse entendido que eu não queria vê-lo e nem falar com ele.

Eu não sabia o que faria nos dias que iam chegar para tentar me manter longe e ignorar completamente o fato dele existir. Talvez assim eu conseguisse salvar a propria pele de mais confusão. Eu não queria ter que correr vinte, trinta, ou até quarenta voltas naquela pista por causa dele.

Eu não queria sofrer o risco novamente.

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