São Petesburgo

4: Vodka

Marlene também havia visto o jovem louro de olhos azuis.

- Venha, vamos cumprimentá-los. – Marlene não era tradicional e se considerava livre, fazendo o que desejava e dizendo o que desejava.

- Vocês falam inglês? – disse Marlene sob os olhares curiosos dos garotos que haviam acompanhado toda a aproximação com um copo de vodka na mão.

- Olá, senhoritas! - disse James em russo e observou os olhos de Lily o mirarem.

- Olá, senhores! – Lily respondeu em um russo perfeito para a surpresa de todos.

Marlene ergueu a sobrancelha. Sabia que Lily falava um pouco de russo, mas não perfeitamente daquela maneira.

- E, o senhor, fala inglês? – disse olhando para Remus que observava curioso a ruiva e o irmão se encarando.

- Olá, senhorita!– disse Lupin em inglês e reverenciou as jovens.

James e Lily se encaravam. Ela observava o broche pequeno, uma martelo e uma foice, as roupas pretas e impecáveis. Ele observava o vestido rodado até a canela vermelho, o echarpe preto sobreposto ao pescoço com sardas. Os dois eram, por si só, observadores.

Quando James ia falar algo, foi interrompido pelo pai que o chamava junto a uma conversa que se iniciava. Pediu licença em inglês fluente e deixou as jovens com Remus, que já havia cumprimentado aquelas pessoas enquanto James estava no banheiro.

- Solicitado ele, né?  – Marlene perguntou a Remus enquanto ele oferecia a ela um copo de vodka. – A propósito, sou Marlene McKinnon. – ela estendeu a mão e ele apertou tranquilo.

- Remus Igor Mikhail. – Remus respondeu observando curioso a jovem loura de atitudes firmes. Ela lembrava Sirius, pensou Remus.

- Lily. – disse Marlene cutucando o ombro da amiga. – Este é Remus.

Lily estendeu a mão para o jovem louro de olhar gentil.

- Lily Evans. – disse sorrindo enquanto observava o jovem de óculos conversar com vários homens.

- Ele é James Mikhail. – Remus disse percebendo o interesse dela.

Lily não respondeu, apenas sorriu e continuou olhando para o tal James enquanto bebia a vodka.

- Acho que ela está apaixonada pelo seu amigo. – Marlene brincou e Lily sequer ouviu.

- Ele é meu irmão. – disse Remus enquanto observava James entre os lobos que caçavam outro líder. Ele sabia que James era o favorito de muitos.

Enquanto Remus e Marlene conversavam. Lily saiu para andar pelo salão, ela queria ver as obras de arte na parede. Não eram muitas, mas eram belíssimas. Retratavam a dança, o teatro.

- Não sobrou muitas, mas são bonitas não é?

Quando ela se virou se deparou com ele observando a arte.

- Sim, são muito bonitas. – disse Lily sem puxar um assunto.

- A Senhorita dança lindamente. A companhia é incrível. – James a olhava de perfil enquanto ela observava os quadros. Ela era a obra de arte. O vestido vermelho rodado até as canelas, o echarpe, a pequena boina estilo francesa coberta de seda, o cabelo ruiva em coque solto e o batom vermelho e compunha perfeitamente com os olhos verdes.

- Eu agradeço. – disse Lily o observando pelo canto do olho. Cerca de 1,90, a postura altiva, todo de preto, exceto pelo broche e pela ushanka vermelha, o rosto formado pelo óculos redondo e os olhos negros. Não havia jóias, relógios. Ele, sem dúvida, era bolchevique.

- A Senhorita fala russo fluentemente? – ele tentou iniciar uma conversa novamente.

- Sim. – Lily estava confusa, porque ele a puxava? Os encontros inesperados, o olhar magnético. Ela nunca havia se apaixonado, mas teve suas experiências e jamais se sentiu daquela forma.

Após três tentativas infundadas de conversar, James achou melhor não incomodar a moça e ia se retirar quando Marlene chegou até eles com Remus ao seu lado.

- Remus vai nos mostrar a cidade a noite, Lily. – disse Marlene animada.

Lily Evans não se surpreendia com Marlene. Ela fazia o que queria e como queria, assim como a familia dela, eles tiveram ligados ao movimento sufragista. Marlene estudava Marx e criticava Stalin, por que ela não ia querer sair com um homem que ela acabou de conhecer para alguma festa aleatória?

- Lene, acho melhor não irmos. – Lily disse apressadamente.

- Vamos, Lily, nós só vamos patinar no gelo. – disse Marlene animada.

- Nós vamos o que? – disse Lily baixinho.

- Eu contei para o Remus que os vimos patinando outro dia e ele me disse que lá está todo decorado. Que podemos patinar.

Inacreditável. Marlene contou tudo. Lily pensou.

- Eu não sei patinar. – Lily disse enquanto ouvia-o dizer sorrindo.

- É como dançar. – James disse.

Lily e Marlene combinaram de se encontrar com os jovens na pista formada no lago.

- Eu não acredito que você fez isso! – Lily condenava Marlene. – Agora eles vão achar que estamos interessadas neles.

Marlene riu alto enquanto ambas vestiam calças, o que era incomum para a época, mas elas não eram comuns e ajeitavam o sobretudo.

- E não estamos? – respondeu Marlene ao abotoar o sobretudo. – Pelo menos eu estou.

- Nós estamos em guerra com eles. Não sei se você sabe, mas tem uma guerra lá fora. – Lily disse falando sobre o posicionamento da Inglaterra contra o eixo.

- Não acho que eles vão ficar aliados ao eixo por muito tempo. Eles serão traídos, muito provavelmente, e mudaram de lado. – Marlene, bailarina e estudante de Ciências políticas.

- Ah claro, mesmo assim, o líder atual é ruim. – Lily interrompeu Marlene enquanto abotoava as luvas.

- Sim e isso pode se modificar também. – Marlene completou.

James e Remus chegaram em casa correndo apenas para pegar os patins e se deram conta que Sirius e Peter já estavam na pista.

- Apaixonado, Remus? – disse James sorrindo.

- Ela é muito inteligente, mas acho que é o par ideal para Sirius. – Eles eram igualzinhos pensou Remus. – Mas você está interessado na ruiva não está? Vi como a observava dançar.

James apenas riu. Eles não podiam ter essa relação. O mais próximo foi Remus que realmente se apaixonou, mas o trabalho e os estudos não permitiram o relacionamento.

Eles saiam eventualmente, mas nunca era real. Sempre deveria ser sem promessas. James jamais fazia promessas. Ele, no fim das contas, era um soldado.

Todos eles eram.

Quando chegaram a ponte, Lily não acreditava que estava mesmo ali. Aquilo era uma loucura completa.

- Nós enlouquecemos. – Lily dizia a Marlene enquanto descia para o Rio congelado, observando os jovens de roupas trocadas e patins.

- Claro que sim, somos mulheres de um novo século e nosso dever é fazer a maior quantidade de loucuras possíveis. – Marlene riu alto.

- Meus ancestrais que me perdoem. – Lily pensou sorrindo. Ela era como Marlene, mas estava preocupada com os efeitos que aquilo teria em sua vida. Mikhail não era qualquer outro, para Lily ele parecia único.

- Os seus vão te perdoar, os meus vão ter orgulho de mim. Bolcheviques e vodka. – Marlene sussurrou para Lily quando finalmente se aproximaram dos quatro jovens.