20: Mary

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James abriu os olhos. Lentamente. Não reconheceu o lugar onde estava. Sentiu cada osso de seu corpo doer como se tivesse caído de uma grande queda.

A única coisa que ele viu claramente foi a bandeira alemã ali pendurada naquele prédio. Estava perdido. Sentiu a fúria de quem precisava se defender.

Por que eles ainda não haviam terminado o serviço que começaram na praia. De matá-lo?

Ele tentou se levantar quando uma mulher de branco e longos cabelos pretos se aproximou. Enfermeira, pensou ele. Ouviu ela falar com os guardas que estavam na porta em alemão perfeito. James falava alemão. Leu as obras de Marx no original. Será que ela sabia? Provavelmente não. Ele podia usar isso como vantagem.

Ela pediu que os guardas fossem tomar café.

Ao olhá-lo percebeu que ele estava desperto.

Mary se aproximou do jovem se cabelos pretos de quem havia cuidado durante dias. Ele estava com muitas partes do corpo queimado.

James a viu encará-lo. O que ele diria? Foi quando ela se aproximou e para a surpresa dele em inglês fluente começou.

- Não fale nada a não ser que seja alemão fluente. – Mary disse. Ela era inglesa, trabalhava ali porque havia sido levada para isso. Ela era médica. Uma das poucas mulheres médicas.

Ela observou James assentir em dizer em alemão fluente.

- O que estou fazendo aqui? – O alemão dele surpreendeu Mary.

- Qual é James, estou salvando a sua vida. – Mary respondeu séria.

James podia lidar com essa mentira desde que conseguisse ajudar no campo de batalha a derrotar os alemães.

Foram dias de recuperação dolorosos e excruciantes. James tinha se queimado muito e perdido os seus pertences. Seu colar. O único lembrete da família Potter, os ingleses que nunca conheceu. A carta de seu pai e as cartas dela que nunca havia lido.

Honestamente partia seu coração ter perdido tudo tão perto de reencontrar Remus.

Imaginava se Sirius teve a mesma sorte dele e ainda estava vivo. Sentia que sim. Não conseguia imaginar uma realidade em que Sirius não estivesse vivo.

Sirius era sua alma gêmea. Desde do principio. Se existia essa ligação. Era com Sirius que ele a tinha.

Pensou no pai e nela. Ele nunca havia lido as cartas. Nunca soube o que ela tinha a dizer. Pensou em escrever para ela.  Pensou em muitas coisas enquanto observava a médica inglesa de cabelos pretos salvar a sua vida dia após dia.

- Não devia ficar aqui fora muito tempo. – Mary disse se aproximando dele que observava o horizonte.

James sabia o que ela queria dizer. Ele não podia melhorar totalmente ou seria recrutado para lutar em campo e contra o seu próprio povo.

- Não vou. Preciso arrumar um jeito de sair daqui. – James disse sem olhar para ela. A essa altura já sabia que ela se chamava Mary. Já sabia que ela havia sido raptada no começo da guerra. Que havia estudado em Oxford.

Os dois observavam o por do sol quando um carro trouxe mais feridos.

Frank Longbottom não acreditava pelo que lutava. Havia nascido em Munique, onde o partido nazista também havia nascido. Havia sido recrutado e o obrigado a servir a algo pelo qual não acreditava. Ele salvou judeus, deixava irem embora.

Quando a bomba mandada pelos ingleses explodiu próximo a ele e ele se machucou ao ponto de ser mandado para os hospitais volante não se preocupou com ele, mas sim com as pessoas que não poderia mais ajudar enquanto estivesse se recuperando.

James ajudou o jovem que havia acabado de chegar na maca. Tinha cabelos pretos e olhos azuis. Na farda o sobrenome Longbottom. Mais um alemão, James pensou. Mais um que ele teria que escutar se gabando de estarem vencendo a guerra.

James observou aquele Longbottom. Ele parecia diferente, mais recluso e praticamente não sorria.

Se limitava a perguntar para Mary quando poderia voltar ao campo. Comia pouco e falava menos ainda.

- Você não entende. Eu preciso voltar. – Frank implorava para Mary para voltar ao campo.

Aquilo era incomum. James já o odiava. Ele amava tanto a causa nazista que se sentia ansioso para voltar.

Um dia ao vê-lo transcender os limites com Mary ao pedir se forma irritada para voltar ao campo. James não aguentou e o enfrentou. Queria saber o quão fanático ele era. Falou em alemão e prendeu a atenção de Frank.

- Por que quer tanto voltar para lá? – James disse o encarando. Para a surpresa de James Frank o ignorou. O que o deixou mais nervoso. James continuou falando sem se importar com deixar transparecer o ódio a Frank. – Gosta de matar inocentes?

Ao ouvir aquilo Frank se surpreendeu. Era um homem que falava pouco. E que tinha ideais claros. Não gostava da guerra e salvava o máximo de pessoas que conseguia. Nunca achou alguém que tivesse inclinação para ajudá-lo no campo de batalha. E agora estava sendo acusado de assassino frio e cruel por um homem que mal conhecia.

Ele observou James cuidadosamente se virando para ele. Pela primeira vez percebeu que apesar do alemão fluente, James era diferente dos outros. Tinha feições mais inglesas que alemães e usava uma luva russa.

- Desde quando finge ser um alemão? – Frank perguntou em voz baixa e viu a expressão de James mudar do ódio para a preocupação.– Não vou falar nada. Eu quero  voltar. É só. Eu salvava pessoas lá. Sem mim, eles não terão chance.

Na guerra a desconfiança é a principal arma. Ninguém confia em ninguém, mas James, Frank e Mary aos poucos se descobriram muito semelhantes e com ideias próximas.

Enquanto se recuperavam, os jovens faziam planos para o futuro.

E James pela primeira vez em meses sentiu que encontraria os irmãos eventualmente.

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