12: Redemoinho

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Um momento que dura uma vida inteira. Foi o que James sentiu enquanto observava o pai sendo morto injustamente na frente dos filhos. Ele pensou na culpa que Peter sentiria e pensou na culpa que ele estava sentindo. Ele estava morto por dentro. Qualquer alma que ele tivesse, tinha partido junto com Mikhail. Tudo havia acabado. Em um pequeno momento a vida dele havia mudado completamente.

James sentiu tudo ficar branco ao sentir o golpe na cabeça e quanto acordou estava com os irmãos em uma cela com Iuri, o guarda que designou para cuidar de Lily na frente deles. James confiava em Iuri. James observou Sirius ja acordado sentado olhando a parede com lágrimas escorrendo pela face e sabia que a dor da perda do pai era compartilhada. Remus estava conversando algo com Iuri quando ambos perceberam que ele havia despertado.

- Agora, ele vai nos prender também? – James perguntou sarcástico e irônico como já era sua marca registrada.

- Não, não vai, camarada. – Iuri disse olhando para os irmãos Mikhail que ele tanto admirava – Isso foi só até vocês se acalmarem. Meus sentimentos, Mikhail era um grande homem. E tenho certeza que foi um grande pai.

- Então, abra a porra dessa porta, seus miseráveis. – Sirius gritou, Sirius tinha muitas qualidades, controlar o gênio terrível não era uma delas. E James e Remus sabiam disso mais que ninguém.

- Chega, Sirius, temos que ser cuidadosos. Papai morreu para nos salvar. Não devemos ser imprudentes. Não devemos tratar o sacrifício dele dessa forma. Não somos assim. Somos estratégicos e prudentes.– Remus, o velho e gentil Remus, pensou James. Que devia estar dilacerado por dentro, mas tentaria fazer o melhor para todos. – Nossos passos devem ser cuidadosos.

- Ah. – Sirius bufou debochado e triste. – Olha onde estamos. NÓS FALHAMOS REMUS. NÓS FALHAMOS. ELE MORREU. A ÚNICA PESSOA QUE CUIDOU DE NÓS ENQUANTO QUASE MORRIAMOS DE FRIO. ELE MORREU. – Sirius tinha as emoções muito expostas e isso era perigoso.

James sabia que Remus estava certo, mas entendia o ódio de Sirius. Ele mesmo sentia o ódio crescendo dentro de si. Um ódio que o faria sangrar pelo resto de seus dias.

Lily segurava o papel nas mãos. Mikhail, o pai de James, a havia visitado. Ele foi gentil, pediu desculpas pelo que Peter havia feito e pediu que ela cuidasse de James e dos outros. E foi aí que ela compreendeu que jamais deveria ter voltado a Rússia. Ela voltou por futilidade, para conhecer o lugar que a chamava e isso custaria a vida de alguém. Ela o abraçou e ele retribuiu, demonstrando nos olhos que não havia nada que ela pudesse fazer. Ele deixou com ela uma carta endereçada a sua mãe e Lily pensou que ela estava vendo o amor da vida de sua mãe indo para a morte por sua culpa, o pai do homem que ela amava. Será que sua mãe a perdoaria? Porque James não perdoaria jamais.

Ela quis morrer naquele segundo em que a culpa a consumia e foi despertada horas depois pela cela que se abria.

Lily viu Remus e seu olhar fundo, provavelmente, pelo choro pelo pai. Naquele momento, ela entendeu que James não viria, ele não tinha intenção de dizer adeus, a mentira de Lily havia arrancado o pai deles. Mas se surpreendeu ao entrar na sala ao lado e se deparar com o olhar frio dele encostado na parede.

- É necessário que a levem direto para estação. – Lily ouvia as orientações dos guardas direcionadas a Remus. Ninguém falava com ela. Parecia que ela sequer estava ali. Ela estava observando ele olhando para o nada, algo nele estava quebrado, ela soube no instante em que o olhar deles se cruzaram, ele não demonstrou nada, a frieza era inerente a ele.

- Vem, Lily, precisamos ir. – a voz de Sirius despertou Lily da prisão que era o observar naquele canto escuro. Ela passou por ele, mas ele não mexeu um músculo. Ficou claro que ele não tinha nada a dizer.

Lily entrou no carro e James e Remus foram na frente, ao lado dela Sirius falava que Marlene estava a esperando. Marlene corajosa, Lily pensou. A amiga a esperou para ir para casa.

James e Remus trocavam algumas frases em russo rápido o suficiente apenas para fluentes como Lily e Sirius compreenderem.

Quando chegaram a estação, Marlene abraçou Lily  e  Sirius e Marlene se despediram após um longo abraço.

Remus deu um sorriso gentil para as jovens inglesas e Sirius apertou a mão de Lily.

James estava distante sentado em um banco sozinho na estação. E Lily foi até lá. Se sentando ao lado dele, foi o suficiente para ele se levantar sem nem ao menos olhá-la. O coração de Lily não tinha mais como ser quebrado, mas se partiu novamente.

Lily e Marlene ficaram na estação aguardando o trem. Alguns guardas de confiança e Sirius e Remus ficaram lá.

James não podia sequer olhá-la. Não podia crer que um dia aquilo seria real. Não seria. Seguiriam caminhos diferentes, fariam escolhas diferentes e a realidade era aquela.  Quando chegou em casa se ajoelhou pela primeira vez e pode chorar sozinho. Não se preocupou com mais ninguém, chorou pelo pai e por Lily. O que nunca pode dizer para o pai, o que jamais diria para Lily.

Vida dele se resumia a milhões de coisas não ditas. Ainda chorando entrou no quarto do pai. Era simples, apenas a cama e um pequeno guarda roupa. Mikhail foi um homem simples durante toda a vida. James o admirava por isso. Mikhail acreditou no socialismo democrático e perdeu tudo por seus ideais. Era um grande homem. E as atitudes dele, de James o havia matado.

A culpa o corroía. Quando entrou no quarto se deparou com a cama com quartas endereçadas aos 4 filhos. James não conseguiu abrir. Apenas se sentou na sala na velha poltrona do pai, abriu uma garrafa de vodka e bebeu até desmaiar.

Enquanto isso, Lily pegava o trem olhando para trás. Haviam arrependimentos e dores incuráveis ali. Talvez seu pai estivesse certo. Não havia nada na Rússia para eles.

Mas ela preferia acreditar em sua mãe e no redemoinho que leva e traz. Que a trouxe até James e que estava a levando para a Inglaterra.

Lily pediu baixinho que esse redemoinho levasse o homem que ela amava até a felicidade novamente. Se não fosse com ela, que James fosse feliz de novo onde quer que estivesse.

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