Quando James voltou para casa encontrou a seguinte cena. Os irmãos e Marlene e uma garrafa de vodka. O pai havia saído e James pensou que era melhor aquele velho não fazer besteira, ele amava aquele homem bondoso que o pegou pela mão e deu uma vida e uma família a ele em meio ao caos da guerra civil.
- Venha, seu idiota, precisamos de você para acabar com essa vodka inteira. – Sirius acenou para que ele se sentasse a mesa. E ele foi, James entendia que aquilo era uma despedida. Eram inteligentes o suficiente para entender que não podiam mudar o que estava prestes a acontecer.
Conversaram e beberam. James foi até a varanda e ouviu um choro baixinho reprimido pela chuva e o vento de São Petesburgo. Olhou e lá embaixo estava ele. James, então, desceu as escadas e se sentou ao lado dele com a garrafa de vodka na mão, oferecendo. Ele recusou.
- James, eu sinto muito. Eu sinto muito Mikhail. Eu sinto muito mesmo. – Peter chorava e implorava.
James não sabia o que sentir. Peter foi entregue a Mikhail como filho dele logo depois dele, Sirius e Remus serem adotados. Eles cuidaram de Peter, ensinaram tudo que aprendi, tinham orgulho do jovem irmão caçula. Mas nesse momento, estava desolado por Peter não compreender que poderia ter conversado com ele sobre se sentir inferior, sobre querer se provar.
- Me perdoa, James, me perdoa. Eu não vou conseguir viver assim, com essa culpa. – James se virou para Peter. E o jovem se calou.
- Não posso. – James resumiu o que sentia. Não podia perdoar Peter. Não por Lily, ou pelas consequências que todos teriam que enfrentar. Não podia perdoar Peter por não ter contado a ele, seu irmão mais velho, que tinha medos e sonhos. Não podia perdoar Peter por não ter falado para ele que se sentia inferior. Não podia perdoar Peter, porque ele havia traído a relação mais sagrada que ele, James, já tivera na vida. A relação dos irmãos Mikhail. Peter traiu a todos. – Não posso te perdoar, Peter. – E vendo o olhar arrasado de Peter continuou. – Você traiu a todos nós, por nada. O que você conseguiu com isso? – James aproveitou o silêncio e bebeu um gole de vodka direto da garrafa. – Nada, você não vai conseguir nada ou você acha que os camaradas vão aceitar alguém que trai a própria família? – James observou Peter abaixar a cabeça. – Mas eu não vou te perdoar, principalmente, para que você nunca mais erre assim. Vivemos tempos sombrios, você precisa proteger os seus. Ainda tem irmãos e precisa protegê-los. Está me entendendo? – Peter o observou. – Não vou te perdoar para a sua culpa cuidar de todos os outros.
James se levantou para deixá-lo ali. Não havia mais nada a dizer. Não podia perdoá-lo e deixa margem para que ele errasse. Seu irmão usaria a culpa que sentia para nunca mais falhar.
- Obrigado, Mikhail. – Peter sussurou.
- Não me agradeça, pois não sou honrado o suficiente para te dar meu perdão. Só te peço que cuide deles. – James disse e saiu.
James viu o amanhecer ao lado de Sirius e Remus. Juntos, como deveria ser no fim. James entrou em casa, se lavou e trocou de roupa e, pela primeira vez, em anos, ele colocou o escapulário com que foi encontrado. Ele iniciou seu pertencimento a Rússia com aquele colar e terminaria com ele. James recebeu um abraço e um agradecimento de Marlene. Ela esperaria Lily na estação de trem.
Remus, James e Sirius caminharam para a central de inteligência dos Bolcheviques, onde Lily estava na sessão de prisioneiros políticos.
Foram encaminhados para a sala em que Josef Stalin os esperava e não foram surpreendidos com a presença de Mikhail, o pai, sentado na mesa do ditador que se passava por líder.
James cerrou os punhos, relaxando apenas quando o olhar do pai cruzou o seu. Eles tinham tantos planos, nenhum se realizaria.
- Camaradas Mikhail, sentem-se. Eu e o pai de vocês tivemos uma conversa interessante. – Stalin era o imponente e tinha um olhar cruel. Estava adorando toda a situação.
James observou Snape no canto da sala. Sirius havia o encarado desde o primeiro momento. Os irmãos se sentaram.
- Soube que vieram me oferecer algo para libertar a princesinha. – James odiava aquilo. Eles não eram assim, os bolcheviques não eram assim.
- Sim. – James respondeu seco. Odiava aquele homem. - Eu, a minha vida.
- Mikhail, seu filho tem uma autoestima alta, não é ? Aquela garota é uma vitória para nós. – Ele sorria olhando para os garotos. – Então, a vida dela vale mais que a famosa "mudança da Rússia" como vocês tanto sonham e trabalham? Uma garota que provavelmente jamais olharia para você se a Rússia imperial ainda estivesse vigente? Uma garota que despreza tudo que você defende, Mikhail? Ela nem sabe o que é igualdade. – James não ia discutir. Ele não conhecia Lily e James não tinha intenção que ele conhecesse.
- Ah, fala sério, é o que você sempre quis. As pessoas sabem que James é a esperança dos bolcheviques. Todos sabem que você odeia ele. – Sirius cuspiu na cara de Stalin. – Apenas aceite Isso de uma vez. Dê a Lily como morta e a libere. – Sirius quería mais do que tudo salvar James, mas ele tinha feito o irmão prometer que não faria nenhuma besteira.
- O pai de vocês me ofereceu algo mais interessante. – O sorriso de Stalin fez com que James soubesse o que viria a seguir, mas era tarde demais.
James assistiu Snape passar uma arma para Josef que mirou exatamente no coração de Mikhail, seu pai, o homem que o amou e que o criou. James teve tempo de ver Mikhail sorrir para os filhos, gentilmente, como sempre fez. James ouviu Sirius gritar e ser segurado por três guardas, tamanha a sua fúria. Remus estava digerindo a situação e James pode perceber as lágrimas se formando nos olhos. Seu pai. O homem com quem mais discutiu a vida toda, o homem que muitas vezes disse que não era seu pai.
Mas ele foi pai.
Ele foi pai de quatro garotinhos.
Ele os levou para patinar e ensinou tudo que sabia sobre a vida e sobre igualdade.
Ele os apresentou desde criança a homens formidáveis.
Ele foi um homem admirável.
Ele foi um soldado extraordinário.
Mas, acima de tudo,As lembranças vinham com tudo. James se lembrou de quando chegou na casa do pai e conheceu os irmãos, do amor do pai, da proteção e dos ensinamentos. Eles foram sortudos de encontrar en meio a guerra, alguém que, ainda era, capaz de amar.
Ele foi um pai que sempre amou mais seus filhos que qualquer outra coisa do mundo.
E James o amou. Amou suas risadas altas e as horas discutindo Karl Marx.
Amou compartilhar seus sonhos e defender seus ideais.
Amou ser seu filho.
E tudo acabou. Em um segundo, sem aviso. James não pôde dizer o quanto o amava, o quanto se orgulhava dele, o quanto era grato.
Tudo estava acabado.
E pela primeira vez desde que havia começado.
James se sentiu na guerra.
E com a guerra, veio o ódio.
James fechou as mãos e as unhas cravadas nas palmas das mãos fizeram o sangue escorrer.
E muito mais sangue viria. James jurou naquele momento. Mais sangue viria.
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São Petesburgo
FanfictionRússia, Política, Balé, Patinação no gelo e uma guerra. A aristocrata e o camarada. 🥉 #jily em 04/04/2022