13: Decisões

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Todos os irmãos leram as cartas. Todos eles. Menos James. Ele não conseguiu abrir a carta. Como se o simples ato de abrir aquela carta fosse a última despedida e ele ainda não podia se despedir.

Os irmãos não podiam dar um passo em falso. Eles eram vigiados e observados. Não podiam mais sair e nem frequentar lugares sem autorização prévia.

E o pior nem era isso. O pior era que Peter havia sido recrutado para junto a Snape reportar e vigiar tudo que os três irmãos faziam. O próprio irmão traindo a família.

Na sala da pequena casa dos irmãos. Sirius e James dividiam una garrafa de vodka enquanto Remus pensava lendo mais um livro que o pai havia deixado.

- Eu não aguento mais! Nós precisamos fazer alguma coisa.– Sirius disse olhando para os irmãos com os olhos desesperados. – Era surreal que nem mesmo os aliados a eles conseguiam os ajudar de forma frequente, pois também estavam sendo ajudados.

- Sim, mas o que exatamente? – Remus disse desviando os olhos do livro.

- Não sei, mas é melhor morrer do que aguardar a morte aqui. Eles só estão esperando Remus. Você sabe. Qualquer desvio nosso e eles vão nos matar. – James disse e os irmãos assentiram.

Era verdade e todos eles sabiam. O governo estava esperando qualquer motivo para matá-los. E apagar qualquer legado de Mikhail. O aperto dos irmãos no peito era constante. A saudade do pai, a constante traição do irmão caçula.

As cartas de Lily e Marlene chegavam todo mês. Pelos menos uma. As de Marlene aberta por um animado Sirius e as de Lily jogadas em.uma gaveta ao lado da carta do pai de James. Não podia lidar com aquilo naquele momento.

- Bóris, Andrei e Dimitri. Vou deixar isso aqui. – James deixou o pão extra que havia conseguido com os garotos que brincavam de bola entre a neve grossa que caia. – Não percam ou vão comer apenas ensopado.

Já de madrugada, com Sirius e Remus dormindo, James lia sob a luz de velas na sala. Quando ouviu um barulho. Pegou a única arma que haviam conseguido manter e se esgueirou pela porta rapidamente.

- Não atire James, sou eu. – A luz iluminou Iuri seguido por Peter.

- O que está fazendo aqui, camarada? – James perguntou ignorando a presença de Peter.

- Eu precisava falar com vocês e Peter disse que podia me ajudar. – Iuri disse se sentando em uma das poltronas enquanto Sirius e Remus apareciam na sala tão surpresos de Iuri estar ali quanto de Peter os ajudar de alguma forma.

- O que houve? – Sirius perguntou sério.

- Vocês precisam deixar São Petesburgo. – Iuri disse convicto. – Existem planos para vocês.  Os opositores ao governo ainda acreditam em vocês. Ainda acreditam no seu pai. Em tudo que ele pregava e ensinou a vocês. Enquanto estiverem respirando existe a possibilidade de uma guerra.

Sirius apenas riu. Eventualmente, eles sabiam que esses planos existiriam.

- Eles não vão deixar nós saírmos da Rússia. Não facilmente. – Sirius respondeu. – Stalin jamais nos perderia assim. Ele vai querer fazer da nossa morte um exemplo. Um exemplo de que não se deve se opõr a ele. Que os opositores morrem.

O coração de James estava apertado. Aquele não era os ideais de Marx. Não foi isso que Lênin quis. Stalin manchava um legado. Se eles morressem, todos se esqueceriam do que realmente era o comunismo. Se eles fugissem, o legado também seria perdido. Tudo pelo qual o pai deles havia se esforçado. O motivo pelo qual o pai dele não ficou com a mulher que ele amava.

James se sentou e sentiu seu pulso acelerar. A ansiedade. A ansiedade que o fazia resolver tudo antes de dar tempo de sofrer exaustivamente, mas que também o feria sempre de forma permanente.

- Nao vamos conseguir fugir. – Sirius determinou sem ouvir nada vindo dos outros dois gênios da família.

- A não ser que – O rosto de Remus se iluminou e ele viu os irmãos o olharem com uma esperança quase dolorosa. – Peter, eu preciso que saia. – Remus disse com a voz endurecida. O jovem não protestou. Ele entendia os motivos.

– A não ser que? – Sirius disse ansioso.

Mas James já sabia, porque viu Remus mirar a única coisa que tinha relação com a ideia na sala. A arma que ainda estava na mão de James.

- A não ser que nós vamos servir o exército vermelho. – James disse enquanto observava Iuri e Sirius chocados e Remus sorridente pela conexão com o irmão.

- Olha, por mim tudo bem. Eu sou um soldado. Mas vocês. – Sirius disse realmente preocupado. Remus e James sabia que Sirius não era apenas um soldado, ele também era um estrategista militar brilhante. – Vamos deixar de morrer aqui para morrer em batalha? E não posso dizer que vamos proteger uns aos outros, porque com certeza vamos para regimentos diferentes.

- Não há uma saída mais simples. – James disse entendendo as preocupações do irmão. As cartas podiam se perder e eles poderiam nunca mais se ver.

- Nós temos que ficar vivos. Nós precisamos deixar com que o legado do nosso pai não seja esquecido. – Remus argumentou. Independente das dificuldades não havia outro jeito. Esse parecia ser o único jeito. Era burro, insensato e irresponsável, mas era o único jeito.

- Parece que nós temos um decisão a tomar. – James se virou para Iuri. – Obrigado, camarada. Se puder nos ajudar com o alistamento. – Iuri entendeu e assentiu. Qualquer mínima influência poderia os ajudar a ficar mais próximos.

Quando Iuri saiu. Os três sentaram um de frente para o outro e começaram a pensar mil planos para não se perderem um do outro no fim das contas.

– Falem um lugar no mundo! – James disse para Sirius e Remus. – O lugar que vamos estar após o fim da guerra. Um lugar para nós encontramos se estivermos separados.

- Tréveris. Na porta nigra. – Remus e Sirius disseram juntos. James reconheceu na hora, a cidade natal de Karl Marx, na Alemanha.

- Acho que a Alemanha não vai ser o melhor lugar do mundo após a guerra. – James constatou. – Mas combinado. Estaremos lá. E estaremos juntos.

- Então iremos para a guerra. – Sirius levantou e abraçou os irmãos também de pé. – Mas nada será pior do que, provavelmente, ter que ficar longe de vocês.

James não dormiu naquela noite. A decisão estava tomada. E decisões eram como uma loteria. Ninguém sabia os resultados.

Mas James queria ver os irmãos novamente.

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