7: A vida em São Petesburgo

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Lily Evans não pôde voltar para casa. Estava tudo fechado. A Alemanha tinha traído a Rússia. Stalingrado estava em guerra.

A companhia se estabeleceu em uma das antigas casas aristocráticas transformadas em casas comunitárias com o apoio do governo russo.

Não havia o que fazer. Estavam presos. Na Rússia e Lily Evans era uma aristocrata. Mas ninguém sabia.

A vida em São Petesburgo, especificamente, não era ruim. Ela e Marlene conviviam bastante com os irmãos Mikhail. Descobriram as faltas de sobrenomes e a importância deles para o movimento bolchevique.

Lily falava com os pais quando conseguia pelo rádio e seus pais não conseguiam disfarçar o desespero.

"E se alguém te reconhecer?" Dizia a mãe.
" E se te prenderem? Eles matam aristocratas." Dizia o pai.

Ela os acalmava. Ela sentia que enquanto estivesse ao lado dos irmãos Mikhail, tudo ficaria bem.

Enquanto estivesse ao lado de James.

Ela e James frequentavam quase todos os lugares juntos. Passavam horas na biblioteca. Liam e discutiam sobre absolutamente tudo. Lily admirava a franqueza e a lealdade de James a luta comunista. Ele acreditava na igualdade verdadeiramente de todo coração.

As vezes enquanto liam ela parava e o admirava. Admirava a sua beleza, mas também admirava a concentração e sua inteligência.

Em outra vida, ele seria o amor da vida dela.
Ela não tinha dúvidas daquilo. Mas nessa vida devido á todas às circunstâncias que os perseguiam Lily sentia um soco no estômago de pensar em todas as distâncias que os separavam.

Cada vez que ela falava sobre a sua família ela mentia para ele. Cada vez que ela contava algo sobre a vida dela ela mentia para ele. Cada vez que ela falava sobre a sua vida ela mentia para ele. Ele mentia para ele o tempo todo. Enquanto via os olhos dele brilharem sobre tudo que ele contava com toda a verdade do mundo, ela mentia e mentia e mentia novamente.

Ela somente mentia.

Mês após mês. Encontro após encontro.

Mentiras.

Ela estava sufocando, pois quanto mais o conhecia, mais se sentia culpada. Ele era tão verdadeiro, tão doce, tão simples. Não precisava de jóias, de relógios e de roupas caras, ele era ele e somente ele.

E ela se apaixonou.

E percebeu pelo modo como ele a encarava quando ela não estava olhando.

E percebeu pelo modo como ele sorria para ela toda vez que alguém estava próximo.

E percebeu pelo modo como ele ajeitava o cabelo toda vez que ela se aproximava.

E percebeu pelo modo como ele piscava o olho esquerdo para ela para rir de alguma piada interna que somente eles entendiam.

Que ele também estava apaixonado por ela.

E ela precisava falar alguma mínima verdade para o homem que ela estava apaixonada.

E ela tinha medo.

Ela tinha medo dele a trair e a entregar para os bolcheviques.

Ela tinha medo dele a odiar por ela ser da nobreza.

Ela tinha medo dele não a aceitar como ela era e por ela ter mentido para ele.

Mas acima de tudo.

Ela tinha medo dele não aceitá-la simplesmente por causa do sobrenome. De não amá-la como ela o amava.

Meses e meses compartilhando momentos com ele. Horas e horas de patinação, clubes de dança, estudos e leituras conjuntas.

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