Dezesseis.

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Rafaella e eu somos declaradas as perdedoras da corrida de barcos por "conduta antidesportiva", o que, honestamente, parece justo. A gente se deu muito bem, a meu ver. Sem instrumentos de tortura, nem masmorras, nem mesmo detenção. Nossa punição é começar a arrumar o equipamento para o Desafio e, como organizar material de acampamento é uma das minhas coisas favoritas da vida, eu não me importo.

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Estamos sozinhas, eu e ela, em nosso quarto, com várias barracas e peças de equipamentos espalhadas à nossa frente. Nosso trabalho é colocá-las em vários pacotes separados.

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- Você já fez algo assim antes? - pergunto a Rafaella.

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Já anoiteceu e, como não há nenhuma lâmpada, estamos na meia-luz. É quase aconchegante.

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- O que, acampar? - ela responde, pegando uma das bússolas e fazendo uma expressão confusa.

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- Acampar, fazer caminhadas, atividades ao ar livre em geral...
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Isso me garante um olhar enviesado, e ela joga a bússola no chão, contra uma sacola com estacas.

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- Eu já saí pra atirar.

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- Você vê alguma arma por aqui? - gesticulo com a mão, exibindo o equipamento que temos na nossa frente.

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Com um suspiro, Rafaella se levanta do chão, limpando as mãos na parte de trás da saia.

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- Não sei pra que isso tudo. Não é como se a gente fosse ficar no meio da natureza selvagem tanto tempo assim. Eles não deixariam. Imagine os processos se alguma coisa acontece com alguém? - Ela cruza os braços sobre o peito, rindo de deboche. - Isso tudo meio que faz parte do espetáculo, um pouco de "ah, olha que colégio interessante e progressista nós somos!", e aí eles podem colocar isso em panfletos, ao lado de "a instituição de ensino escolhida pela realeza".

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Olho para ela. Ela está de pé ao lado da porta, o queixo levantado, mas há algo além da arrogância de sempre em sua expressão.

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- Isso te incomoda de verdade, não é? - pergunto. - Fazer parte do material promocional.

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- O quê? - Ela olha para mim, estreitando os lábios de leve.
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- É só que essa é a segunda vez que você menciona o fato de eles usarem sua família como publicidade - digo, voltando a contar estacas de barracas. - Então está claro que isso te incomoda, eu entendo.

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Rafaella ainda está em pé no mesmo lugar com os braços cruzados, mas agora ela está me observando com uma expressão esquisita.

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- Nada me incomoda - ela diz, finalmente, antes de se virar para sua pilha de equipamentos, e eu levanto uma sobrancelha.

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- Nada?

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- Bom, nada além de você neste momento, eu acho.
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Ah, certo, estamos de volta à Rafaella que eu conheço e detesto. Sacudindo a cabeça e murmurando um "que seja", volto a arrumar as coisas em pilhas. Uma barraca, seis estacas, duas bússolas, duas garrafas térmicas...
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- E, mesmo que eu estivesse "incomodada", o que eu não estou - Rafaella diz repentinamente -, não é como se houvesse algo que eu pudesse fazer. Isso só... faz parte.

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