Eu devia ter adivinhado.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Quando Rafaella pediu para segurar minha mochila, eu definitivamente deveria ter suspeitado que ela estava tramando algo, porque era óbvio. Em que universo Rafaella seria o tipo de pessoa que segura as coisas de outra por vontade própria? Mas eu disse a mim mesma que talvez ela só estivesse tentando ser legal, e agora fica claro que esse tipo de raciocínio é o que vai acabar me matando.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Incrível.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Rafaella, sério — digo, o pânico começando a subir pela garganta. — Cadê nossas mochilas?
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Ela aponta com o polegar por sobre o ombro.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀— No rio.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— No rio — repito, e alguma pequena parte do meu cérebro insiste que eu devo ter entendido mal, que não existe chance de ela ter feito algo tão estúpido e irresponsável.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Então me lembro de quem está falando comigo e, meu Deus do Céu, todas as nossas coisas estão no rio.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Olho pela inclinação de terra em direção à água correndo turbulenta e penso que lá ao longe posso ver algo boiando… Será uma mochila? Mas, mesmo quando saio correndo atrás – aparentemente pensando que posso ser mais rápida que um rio – seja lá do que era aquilo, já desapareceu de vista, e eu fico ali parada, com os pés enlameados e a respiração descompassada entrando e saindo dos pulmões.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Aquilo estava pesado — Rafaella diz. — Já deve ter afundado.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Enfio as mãos nos cabelos, puxando-os um pouco da cabeça como se a dor fosse me fazer acordar desse pesadelo em que estou aprisionada no meio do nada sem qualquer equipamento e com uma princesa arrogante, mas nada acontece. Machuca um pouco e ainda estou bem acordada.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀— Por quê? — pergunto e então sacudo a cabeça. — Por que eu perco tempo perguntando? Você provavelmente nem sabe por que você faz essas coisas destrambelhadas.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀— Destrambelhadas? — ela repete.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀— Loucas — eu explico. — Insanas. Tão doidas que é difícil de acreditar.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀— Sim, eu fui capaz de usar o contexto para entender o significado. Eu só nunca tinha ouvido essa palavra antes. Destrambelhada. — Ela abre um sorriso largo de dentes brancos. — Nossa, isso é útil!
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀— Sabe o que seria útil agora? Barracas. Bússola. Comida. Água. Todas as coisas que a sua cabeça destrambelhada jogou no rio. Você tem ideia de quão frio vai ficar esta noite?
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Rafaella revira os olhos.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀— Francamente, Andrade, me dá algum crédito. Esse é um plano muito bem pensado. Eu perco nossos equipamentos no rio e, mais tarde, claro que eu digo que fomos vencidas pelas circunstâncias, que foi um acidente, e um acidente que nunca teria acontecido se o colégio tivesse sido mais cuidadoso. Aliás, isso é algo com que você vai concordar.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Eu definitivamente não vou concordar — respondo, mas Rafaella ignora isso com um movimento elegante da mão.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— A gente não vai nem passar a noite aqui — Rafaella continua. — Veja!
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
VOCÊ ESTÁ LENDO
SUA ALTEZA REAL
FanfictionBianca Andrade fica arrasada quando descobre que sua meio-que-melhor-amiga/meio-que-namorada tem beijado outra pessoa. De coração partido e pronta para uma mudança de vida, ela decide levar adiante o sonho de estudar em terras escocesas. Quando co...