Vinte e sete.

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Rafaella não solta a minha mão enquanto ela me guia pelos corredores. Nós passamos por janelas altas que dão para os jardins, mas não consigo enxergar nada a não ser nossos próprios reflexos e fico surpresa ao ver como meus olhos estão arregalados e como não me pareço comigo nesse vestido. Mas talvez essa seja eu? Apenas outra versão de mim, que eu não sabia que existia aqui dentro.

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Chegamos a um par de portas de vidro com maçanetas douradas adornadas, e Rafaella puxa uma delas, abrindo. Uma lufada de vento morno e o cheiro de vegetação fresca e viva passam por mim.

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— Que lugar é esse? — pergunto enquanto ela me puxa para a sala, fechando a porta atrás de nós.
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— Um laranjal — ela responde, e olho em sua direção.
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Ela solta minha mão, e eu esfrego meus braços desnudos, mesmo que não esteja com frio. Na verdade, se continuarmos aqui por muito tempo, vou começar a suar.

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— Eu adoro quando você diz essas coisas como se elas fossem palavras de verdade — digo a ela, e Rafaella ri, caminhando até uma árvore num vaso que, sim, tem algumas laranjas nos galhos.
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— Um laranjal — ela diz, tocando a fruta com a mão enluvada e exibindo-a como se fosse uma apresentadora de programa de TV. — Nós que vivemos em climas mais frios precisamos de lugares especiais pra cultivar determinadas coisas, e laranjas já foram consideradas um item de luxo.

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Ahhhh — digo, andando até outra árvore. — Então, se você era muito, muito rico, você tinha uma sala especial dentro de casa apenas pra cultivar laranjas.

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Rafaella inclina a cabeça num aceno gracioso.

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— Logo — ela diz, e nós duas completamos com —, um laranjal.

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Eu rio um pouco, sacudindo a cabeça, e exploro a sala mais a fundo, com suas paredes de vidro e as laranjeiras em vasos. O piso sob meus pés não é de laje e mármore como no restante do castelo, mas um piso cor de creme com um mosaico central de uma laranja gigante adornada com florzinhas brancas. Sobre nossas cabeças, o teto está pintado para se parecer com o céu azul do Mediterrâneo.

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— Essa é uma sala muito esquisita para se ter aqui no meio das terras selvagens de Skye — murmuro.
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Repentinamente, percebo que Rafaella está ao meu lado com a cabeça inclinada para trás observando o teto, e eu não sei se é efeito de todas essas plantas ou de seu perfume, mas algo exala um aroma doce e delicado.
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— Lady Ellis mandou construir quando se mudou pra cá — ela diz, ainda olhando para o alto. — Quando eu era pequena e brincávamos de esconde-esconde, sempre me escondia aqui.
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Olho para ela, ainda com os braços cruzados contra a barriga. A iluminação é fraca nessa sala aquecida e perfumada, a única luz vem de arandelas posicionadas ao redor da sala hexagonal, e me dou conta de que isso é meio… romântico.
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Limpando a garganta (e tirando os olhos dos traços finos do rosto de Rafaella), eu olho de volta para o teto.
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— Você devia ser muito ruim em se esconder, então. Todo mundo saberia onde te achar.

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Ela dá de ombros, aquele gesto de Rafaella que é ao mesmo tempo elegante e insolente e que parece resumir Tudo Sobre Rafaella.

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