Trinta e oito.

767 85 23
                                    

8/10

Os próximos dias conseguem, de alguma maneira, ser ainda piores do que eu achei que seriam.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O colégio parece vazio sem a Rafaella aqui e, como eu esperava, fiquei tempo demais procurando por ela no Google.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Até configurei um alerta, o que parece um tipo especial de atitude patética.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Toda vez que falo com o meu pai por Skype percebo que ele sabe que algo aconteceu, mas eu ponho a culpa da minha tristeza geral no colégio, no clima, em estar com saudades de casa, o que é verdadeiro em parte. Voltar para casa no Natal parece muito bom agora, e começo a contar os dias com uma grande caneta vermelha em meu calendário.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Mas ainda tenho vinte e nove dias pela frente, e agora me arrasto de volta para meu quarto depois de uma aula à tarde e jogo a mochila sobre a cama.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Com um suspiro - de uns tempos para cá me tornei a campeã dos suspiros -, abro o notebook. Tem um e-mail do Miguel, uma chamada perdida por Skype do meu pai e...

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Outra mensagem da Mari pelo Hangout.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Essa diz apenas:

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Pensei em você hoje. Espero que esteja se divertindo aí na Bela Escócia!

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
A mensagem foi enviada há apenas três minutos e, sem me deixar pensar demais sobre o que responder, eu respondo:

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Oi. Sim, as coisas estão boas por aqui.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Ela responde em um instante.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Muitos unicórnios?

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Sorrindo, eu digito de volta:
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Uma surpreendente falta deles, infelizmente.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
E ela responde:

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Que pena!

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Encaro a tela, imaginando o que dizer em seguida, quando chega outra mensagem.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Saudades.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

O cursor fica piscando na tela. Essas palavras da Mari são definitivamente bem-vindas, e percebo que sinto saudades dela também.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Mas... não como eu sentia antes. Eu sinto falta da minha amiga Mari, não da minha quase-namorada Mari. Porque, por mais que eu tenha sentido algo real por ela - e por mais que vê-la de volta com Jonas tenha sido muito doloroso -, sempre estive na corda bamba com ela. Eu nunca soube o que a gente realmente era ou como ela se sentia, não importava o que Mari dizia sobre sermos um "nós".

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Rafaella não havia nos chamado de nós, mas eu sentia que éramos.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Meus dedos se movem velozes.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Não estou mais com raiva. Sobre o que aconteceu nesse verão. Eu nem sei se estava brava, eu acho. Machucada? Não sei. Mas eu gostaria que fôssemos amigas novamente, se for possível. (n/a: okay!  Era pra eu tá chorando?)
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

E então, após um momento, acrescento:

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Mas apenas amigas desta vez.

SUA ALTEZA REALOnde histórias criam vida. Descubra agora